Esta apresentação examina criticamente a frequentemente idealizada representação de Portugal como um país hospitaleiro para as pessoas migrantes, em contraste com as realidades silenciadas dos seus violentos sistemas de detenção e deportação. A trágica morte de Ihor Homeniuk em março de 2020 trouxe à luz a natureza violenta do controle de fronteiras e da maquina da detenção e deportação, anteriormente pouco discutida e questionada nos domínios público e acadêmico.

As evidências que partilharei nessa apresentação, obtidas juntando dados fragmentados e muitas vezes inconsistentes de diferentes fontes, embora limitadas, oferece uma fotografia do regime de detenção e deportação de pessoas racializada como migrantes em Portugal. As omissões, ausências e "silêncios ruidosos" que emergem desta análise, juntamente com a omissão dos intricados vínculos entre a história colonial do país e a contemporânea indústria das migrações - ou dito de outra forma, "the making of migration" (Tazzioli, 2020), são componentes essenciais para assegurar o funcionamento do regime das fronteiras em Portugal, contribuindo para o que eu denomino de uma política de esquecimento organizado. Esta política obscurece a realidade quotidiana da violência que acontece por mão do estado em nome do controlo das suas fronteiras (externas e internas) e as suas raízes coloniais, tornando difícil abordar essas questões publicamente. Além disso, reforça a percepção do excepcionalismo de Portugal face à "gestão das migrações," perpetuando as hierarquias raciais e a violência, sobre as quais a ordem social nacional tem sido historicamente construída.

Moderação: Joana Sousa Ribeiro (CES)


Nota biográfica

Francesca Esposito concluiu o seu doutoramento em Psicologia Comunitária no ISPA-Instituto Universitário de Lisboa em 2019, e posteriormente foi uma British Academy Newton International Fellow no Centro de Criminologia da Universidade de Oxford e docente na Universidade de Westminster em Londres. Atualmente é Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O seu trabalho concentra-se na detenção e deportação de pessoas governadas como migrantes na Itália, Portugal e no Reino Unido, atráves de uma perspetiva feminista interseccional e  abolicionista. Francesca é Diretora Associada de Border Criminologies (Universidade de Oxford) e integra vários grupos e coletivos, incluindo a cooperativa social feminista BeFree (Roma, Itália). Ela trabalhou durante vários anos com mulheres sobreviventes de violência de género, incluindo mulheres ilegalizadas em situação de reclusão.
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