Resumo:

Um dos dogmas da investigação sobre sexualidades é a inquestionável assunção de que o cuidado (enquanto prática) ocorre dentro do ambiente familiar ou entre casais, e que todo o resto que ultrapassa os limites do parentesco é uma prova de individualização (Roseneil, 2004). Essas limitações produzem uma incapacidade de ver além do expectável, nomeadamente relações íntimas fora da coabitação heteronormativa, do amor duradouro e da conjugalidade monogâmica.

Sasha Roseneil (2006) apelou a novas concetualizações tendo em consideração a atual heterogeneidade da vida intima. Levando a sério o seu convite, o objetivo da minha apresentação é oferecer um enquadramento teórico sobre poliamor acompanhado de alguns exemplos relativos ao dia-a-dia de pessoas não-monogâmicas que entrevistei em Roma em 2015. Esta apresentação insere-se no âmbito do projeto de investigação “‘INTIMATE. Citizenship, care and choice: the micropolitics of intimacy in Southern Europe’, financiado pelo ERC durante 5 anos. O principal objetivo do INTIMATE é explorar as experiências de conjugalidades, parentalidade e amizade em Itália, Portugal e Espanha.

Desta forma, irei neste workshop oferecer algumas perspetivas sobre o debate atual em torno do poliamor, apoiada tanto na literatura internacional, onde surgiu o conceito de poliamor, como em referências vindas da Europa do Sul. Irei ainda apresentar os resultados preliminares do trabalho de campo com enfoque nos “rótulos”, significados e práticas de pessoas LGBT não-monogâmicas que vivem fora dos limites das relações heternormativas e mononormativas (bem como fora do âmbito de investigação tradicional da sociologia).

Palavras-chave: LGBT, não-monogamias, Itália, intimidades, relações

Leituras recomendadas:

Barker, Meg-John, & Langdridge, Darren (2010), "Whatever happened to non-monogamies? Critical reflections on recent research and theory", Sexualities, 13(6): 748–772.

Roseneil, Sasha (2006), “Viver e amar para lá da heteronorma: Uma análise queer das relações pessoais no século XXI”, Revista Crítica de Ciências Sociais, 76: 33-51.

[Para ter acesso aos artigos em discussão deverá enviar um e-mail para gw@ces.uc.pt]

Nota biográfica

Beatrice Gusmano. Investigadora em pós-doutoramento no projeto internacional "INTIMATE— Citizenship, Care and Choice: The Micropolitics of Intimacy in Southern Europe" (2014-2019), financiado pelo European Research Council (ERC) e liderado por Ana Cristina Santos.

Doutorada em Sociologia pela Universidade de Trento (Itália) tem trabalhado em projetos de investigação nacionais e internacionais sobre identidades não heterossexuais no mundo do trabalho, políticas públicas em temáticas LGBT, acesso ao emprego para ex-recluso, bullying e educação ao género, diversity management.

Research fellow in the project "INTIMATE— Citizenship, Care and Choice: The Micropolitics of Intimacy in Southern Europe" (2014-2019), funded by the European Research Council and coordinated by Ana Cristina Santos.

She defended her PhD dissertation at the University of Trento (Italy) in 2009, with a thesis on the construction and management of non-heterosexual identities at work. She then took part to different research projects regarding LGBT local public policies in Europe and in Italy; work access networks for ex-convicts; bullying and gender education; diversity management.