Resumo

Nesta apresentação pretendo revisitar debates antropológicos sobre o problema da crença e racionalidade. Historicamente, esta questão é estruturante na constituição da antropologia enquanto disciplina. Hoje, no entanto, apercebemo-nos de que se reproduzem constantemente, tanto no campo científico como no religioso, discursos sobre “conhecimento”, “verdade”, “prova” e “evidência”, tanto para afirmar uma oposição irremediável entre o saber científico e o religioso como para propor continuidades e simetrias entre ambos – desde o “novo ateísmo” de Dawkins, Dennet e Harris às teorias de “desenho inteligente” promovidas por criacionistas norte-americanos. É também o caso, como pretendo argumentar, de determinados movimentos proféticos, que se auto-constituem como sistemas racionais que produzem conhecimentos sobre o mundo. Neste contexto, o que por vezes parece ser uma fronteira indissolúvel, noutras é um terreno populado por dialécticas e ambivalências. Explorarei esta dialéctica através do estudo de caso de uma movimento cristão de origem angolana, a Igreja Tocoista, onde os chamados “vates” (ou vaticinadores) desenvolvem o seu trabalho de profecia nos tabernáculos. 

Nota biográfica

Ruy Llera Blanes, antropólogo, é actualmente investigador pós-doutoral no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Visiting fellow no Departamento de Antropologia da London School of Economics. Completou o seu doutoramento em 2008, com uma tese sobre música e identidade entre os ciganos evangélicos de Portugal e Espanha (publicada na Imprensa de Ciências Sociais, 2008). Actualmente, trabalha com movimentos cristão em África e na diáspora, em particular sobre um movimento profético angolano (a Igreja Tocoista). Publicou artigos em revistas internacionais como a Social Anthropology, History and Anthropology, Terrain, Campos, Religião e Sociedade e Etnográfica; e em co-autoria, na Politique Africaine e na African Diaspora. É igualmente Book and Film Review Editor da revista Religion and Society: Advances in Research (Berghahn).

Nota:

Comentários - Clemens Zobel (CES)