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Publication date
May, 2011
Abstract
Na sua peça Une Tempête, Aimé Césaire mostra como um autor canónico como Shakespeare participou da “colonialidade do ser” europeu. Num gesto inédito, o autor caribenho não só aponta para o conteúdo racista da peça de Shakespeare, como também, à semelhança do seu Caliban, se insurge contra o saber do poder imperialista. Num acto de resistência, o subalterno transforma um dos autores do cânone ocidental em palimpsesto do seu próprio texto, apropriando-se de um dos géneros mais prestigiados no campo literário ocidental, a tragédia. O Outro, por cima do qual costumávamos escrever depois de quase termos destruído o seu próprio texto (os seus saberes, a sua paisagem, até o seu corpo), devolve-nos um olhar corrosivo, no verdadeiro sentido da palavra.