International Seminar

Africa and Diaspora: education, culture, football and racism

July 16, 2015, 10h00

Room 1, CES-Coimbra

Framework

A primeira exposição “Identidades em Campo. Discursos sobre a atuação de jogadores interculturais de origem africana e antilhana na seleção francesa de futebol” tem como foco principal analisar parte dos discursos produzidos sobre a participação de atletas interculturais - de origem africana ou antilhana - na seleção francesa de futebol na última década. Partindo dos referenciais teóricos vinculados aos Estudos Africanos e Pós-Coloniais, e fruto de uma investigação de maior dimensão, buscamos analisar a forma como a sociedade francesa ? com seus conjuntos populacionais híbridos e complexos ? fomenta, interpreta e rejeita, a partir das imagens e ideias construídas sobre os imigrantes africanos /antilhanos e seus descendentes, o entendimento acerca de suas identidades e das relações interculturais e multiculturais geradas pelas diásporas pós-coloniais. Selecionamos para uma reflexão inicial notícias veiculadas pela imprensa francesa e europeia sobre a atuação de atletas interculturais na seleção francesa após o campeonato mundial da África do Sul, em 2010.

A segunda exposição. “Media, futebol e racismo: os discursos da imprensa portuguesa durante o fascismo e após a Revolução de Abril” explora os discursos racistas produzidos pela imprensa portuguesa, no contexto do futebol, antes e após o 25 De Abril. A reprodução da narrativa racista no âmbito das competições nacionais e internacionais de futebol acompanhou uma significativa parte dos textos escritos durante o salazarismo, especialmente nos últimos 15 anos do regime, altura em que se intensificou a vinda de jogadores das colónias para a ‘metrópole’. Destaca a forma como a linguagem utilizada para descrever os atletas negros fazia, em alguns momentos, uma forte alusão à sua condição de inferioridade. A Revolução de Abril teve um esperado impacto no conteúdo e no estilo dos textos escritos em contexto de futebol. No entanto, registam-se algumas continuidades, nomeadamente na associação implícita com a ‘ingenuidade’ e ‘pureza’ dos futebolistas negros. Não obstante o ‘velho racismo’ ter vindo a desaparecer na generalidade da imprensa, o ´novo racismo’, nas palavras de Van Dijk, (2005), apesar de se assumir mais democrático, assenta, invariavelmente, não só num discurso de exaltação colonial como também na reprodução e reificação de uma imagem dos africanos ancorada numa visão altamente eurocêntrica e racista.

A terceira exposição “Entre máscaras e espelhos. Reflexões sobre a Identidade e o ensino de História da África nas escolas brasileiras” tem como objetivo analisar os possíveis reflexos, na construção das identidades individuais e coletivas de estudantes, das abordagens de conteúdos sobre a História africana no ensino brasileiro. Partindo dos referenciais teóricos ligados aos Estudos Culturais e Pós-Coloniais, a intenção principal do trabalho foi analisar a forma como o tratamento concedido ao assunto pode fomentar, interditar e justificar a existência de reflexos identitários multiculturais, com a presença das máscaras africanas de reconhecimento do outro e de auto-reconhecimento ? em nossos espaços escolares. Ao mesmo tempo o texto se propõe a discutir o sentido da identidade nacional em uma sociedade composta por conjuntos populacionais híbridos, complexos e marcados pelas relações interculturais e multiculturais geradas ao longo de sua composição histórica mais recente.

A quarta exposição “A formação de professores para o ensino da História da África e das suas diásporas no Brasil e em Portugal” aborda a formação dos professores para o estudo da História e África e das suas diásporas no Brasil e em Portugal. O foco reside no estudo das ações de formação de professores em curso nos dois países (estudo comparado) com vistas à construção de uma educação para as relações etnico-raciais positivas (educação antirracista), por meio do estudo da História da África e das suas diásporas (diáspora afro-brasileira e diáspora afro-portuguesa). Na investigação foram realizadas: a) consultadas as principais bases bibliográficas e de indexação da produção científica nacionais; b) pesquisa documental junto a órgãos públicos e instituições de ensno e pesquisa; c) entrevista com professores, ativistas do movimento social, gestores da formação de professores, e pesquisadores. Os resultados evidenciam: a) no caso brasileiro, alguns avanços no que se refere ao objeto da investigação, dentre os quais, uma sólida legislação do ensino com vistas a inclusão dos estudos sobre a História da África e das suas diásporas em todos os níveis e modalidades de ensino, contudo, limites para a implementação destas ações;  b) no caso português, uma invisibilidade do nosso objeto de estudo, seja no âmbito das políticas públicas educacionais, nas ações de formação de professores implementadas pelas instituições de ensino e pesquisa e governamentais; nas ações do movimento antirracista, nas ações dos professores, ou, no âmbito das pesquisas científicas sobre o assunto, neste último caso – da investigação científica -, com uma ação isolada, em uma instituição de investigação portuguesa.

A quinta exposição “Diáspora cultural e identidade africana por meio da musica” tem como foco explorar as polifonias musicais no Atlântico Negro. Busco investigar as circulações rítmicas e melódicas entre músicos do Brasil e da Nigéria. Não se trata um estudo comparativo, mas sim de observar como, no espaço Atlântico, ocorreu e ocorre uma transfusão de informações rítmicas. Observo uma conexão de memórias musicais que se entrecruzam à medida que os músicos lançam mão daquilo que detêm como patrimônio: Afrobeat, Tropicalismos, Sambas, Bossas, Hip-Hop, Reggae, Samba-Reggae, Samba-Soul, Blues, Jazz e Salsas se conectam e se confundem numa trama caótica de possibilidades estéticas e musicais. Os resultados sugerem uma comunicação musical no Atlântico Negro, nascida de uma rede complexa de linguagens sonoras. Fluxos e refluxos intermináveis de musicalidades ancoradas em memórias ancestrais, dos sertões e das cidades, da escrita e da oralidade, da melodia e da percussão, da tecnologia e da acústica. Conexões que anunciam o múltiplo em lugar do uno, da polifonia em lugar do uníssono.

A Apresentação Cultural será conduzida por convidados.


Activity within the Democracy, Citizenship and Law Reserach Group (DECIDe)