Seminário
Didática intercultural: uma experiência em curso no Brasil
Sueli de Lima (Casa da Arte de Educar do Rio de Janeiro)
6 de janeiro de 2012, 14h30
Sala 2, CES-Coimbra
Resumo
A experiência educacional brasileira tem demostrado que escola ainda não sabe como agir diante das diferenças culturais que compõem seu contexto. As práticas educativas não são entendidas como práticas culturais, e as diferenças ainda não foram transformadas em vantagens pedagógicas. Por outro lado, pesquisas têm demonstrado que quanto mais integrada à cultura local, melhor o resultado acadêmico da escola.
Buscando enfrentar os desafios que cercam a busca de uma educação de qualidade, a metodologia Mandala de Saberes, nasceu em favelas cariocas através de processos participativos de pesquisa e foi transformada em política pública de Educação Integral em 2007 pelo Ministério da Educação. A metodologia busca enfrentar a injustiça cognitiva (SOUSA SANTOS, Boaventura. 'Para além do pensamento abissal – das linhas globais e uma ecologia dos saberes. São Paulo, Novos Estudos CEBRAP, n. 79, Nov/2007.desenvolvendo sistemas abertos de relações de saberes que facilitam o desenvolvimento de comunidades de aprendizagens aproximando currículos escolares de práticas quotidianas.
Atualmente este projeto tem como desafio colaborar para a formulação de um sistema educacional articulado entre as experiências de educação formal (com foco no ensino fundamental, educação integral) e as de educação não formal realizadas em distintas instâncias sociais (organizações da sociedade civil, bibliotecas, programas de leitura e museus do IPHAN). O desafio é superarmos a visão predominante na sociedade Brasileira, de que educação é um fenômeno escolar buscando compreende-la como uma pratica intersetorial, constituída de diversas instituições sociais, mesmo que tendo a escola como centro.
Atualmente está sendo organizada uma ação integrada – entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação - com o objetivo de implementar em todo o território nacional uma rede de pesquisa-ação entre diferentes equipamentos culturais e educacionais (Pontos de Cultura, Escolas, Museus do IPHAN, Bibliotecas e agentes de leitura, ONGs que atuam nas áreas da cultura e educação) capaz de identificar, mobilizar, formular e pactuar políticas para educação e cultura a partir das experiências em curso na sociedade.
As visões de ciência, consequentemente de currículo, estão no centro do problema das formulações para as didáticas interculturais. Pois a forma de conceber e direcionar a prática docente esta diretamente relacionada ao saber da ciência. Nesse sentido, alargar a visão da ciência, através de formulações participativas entre professores e estudantes, escolas/universidades e as comunidades populares é um dos caminhos para que possamos rever os métodos que dispomos diante do problema, pois do contrário continuamos sem acessar o objeto que nos desafia e sem formularmos saídas verdadeiramente democráticas para a educação pública.
Nota biográfica
Sueli de Lima - Licenciada em Educação Artística pelo Bennett em 1989 e mestre em História da Cultura pela PUC Rio (1995), atualmente cursando doutorado em Educação na Universidade de São Paulo – USP.
Fundou em 1999 a Casa da Arte de Educar, uma organização social que realiza diversos projetos na área de Educação Integral e da Educação de Jovens e Adultos – vencedora Nacional do Premio Itaú UNICEF Tempos e Espaços para Aprender (2009). Consultora do Ministério da Educação e do Ministério da Cultura, coordena diversos projetos que visam qualificar a educação pública aproximando escolas de comunidades. Entre os textos publicados destaca-se o livro “ Experiência Crítica – Ronaldo Brito” lançado em 2005 pela Cosac Naify e o Caderno “Rede de Saberes- pressupostos para projetos pedagógicos de educação integral” lançado pelo MEC em 2009.
Nota: Atividade no âmbito do Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe) e do Observatório das Políticas de Educação e Formação (OP.Edu)

