Programa

Margarida Calafate Ribeiro (CES): Sabores sem regresso

Resumo: Nesta oficina procuraremos refletir sobre os modos de produção, transmissão e reflexão de alguns componentes identitários em trânsito, a partir de hábitos culinários, memórias e expressão artística.


Raquel Ribeiro (Universidade de Edimburgo): Comer ou não comer, that is the question: transculturação e canibalismo numa leitura de “Biografia de un cimarrón” (1966)

Resumo: Em 1928, o poeta modernista brasileiro Oswald de Andrade desenvolveu o conceito de “canibalismo” no seu Manifesto Antropófago como metonímia de um Brasil em processo de descolonização cultural. Doze anos mais tarde, o etnólogo cubano Fernando Ortiz introduz, em 1940, o conceito de “transculturação” para definir a noção de “cubanidade”. Diz Ortiz que Cuba é mestiça, um ajiaco, prato típico que representa o sincretismo das culturas que se encontraram na ilha e cada elemento com sua procedência: o feijão, a batata e o milho indígenas da América; os espanhóis, que eliminaram os índios de Cuba, impuseram as carnes de vaca, porco e derivados; trazidos de África pelos europeus, os negros contribuíram com o inhame e a banana; e, após a abolição da escravatura, milhares de chineses chegaram a Cuba com especiarias e arroz. Para Ortiz, “aculturação” era um conceito etnocêntrico, porque implicaria a eliminação de uma cultura e sua substituição. Também não se trataria da perda da cultura anterior, nem a adoção de uma nova cultura por inteiro.

Esta comunicação lerá a (auto)biografia do antigo escravo quilombola/fujão Esteban Montejo pelo autor cubano Miguel Barnet – Biografia de un cimarrón (1966) – à luz do conceito de cubanidade e de uma potencial (ou efectiva?) canibalização no processo criativo de “dar voz” a este homem (ou personagem?) que conta a sua vida (biografia?) na primeira pessoa através de uma “ventriloquização”, perguntando se ela será de facto (ou só aparentemente) emancipadora.

Moderação: Patrícia Branco (CES)