Palestra-Debate

Marie Curie / Werner Heisenberg

Maria da Conceição Espadinha Ruivo

Maria Helena Caldeira

28 de fevereiro de 2012, 21h15

Galeria Santa Clara, Coimbra

Marie Curie por Conceição Ruivo
Werner Heisenberg por Helena Caldeira 

Moderação: Graça Capinha


Maria Sklodowska-Curie (1867-1934) pertence à geração de cientistas que nos finais do século XIX e princípio do século XX fizeram descobertas cruciais que abriram o caminho para a Física moderna. A sua investigação pioneira no domínio da radioatividade foi galardoada com dois prémios Nobel: o da Física (1903, partilhado com Pierre Curie e Henri Becquerel) e o da Química (1911).  Primeira mulher a ter um lugar de professora na Universidade de Paris e reconhecida internacionalmente, esta cientista abriu também novos caminhos para a mulher na ciência. 
Maria Sklodowska-Curie viveu a sua infância e juventude no clima repressivo de uma Polónia  sob domínio russo, numa família de intelectuais, opositora ao regime, onde dominava o gosto pelo saber e não abundavam os recursos económicos.  Assim, a jovem polaca só aos 24 anos inicia os seus estudo universitários, na Sorbonne, onde se licenciou  em física e em matemática e se doutorou em física.
Casada com o físico Pierre-Curie em 1895, encetou com ele a grande aventura científica de compreender a natureza da radioatividade, descoberta poucos anos antes nos sais de urânio por Henri Becquerel.  Em 1898 o casal anunciava ao  mundo a descoberta de dois novos elementos, o rádio e o polónio, que, mais tarde, Maria  viria  a  isolar, o que lhe valeu o prémio Nobel da Química. Entendendo a ciência como património da humanidade, os Curie  recusaram tirar patentes das suas descobertas, cujas aplicações médicas eram previsíveis. Maria  Sklodowska Curie  viria a fundar os Institutos de Rádio de Paris e Varsóvia, que continuam a ser importantes centros de pesquisa médica., e foi sob a sua direção que se realizaram os primeiros estudos sobre  a aplicação de radio-isótopos no tratamento do cancro. Viúva aos 39 anos, mãe de duas filhas, com dificuldades em obter recursos financeiros par a sua investigação, Marie Curie teve ainda que enfrentar  todos os problemas resultantes dos preconceitos sexistas da sociedade e do meio académico. Foi também uma cidadã empenhada,  assumindo, desde a sua juventude na Polónia e até ao final da vida, um  papel ativo  em causas políticas e humanitárias.
 

Werner  Heisenberg nasceu em Würzburg, Alemanha, em  5 de dezembro de 1901  e faleceu em Munique,  a 1 de fevereiro de 1976. O trabalho deste físico alemão é considerado dos mais importantes na construção da Mecânica Quântica. De facto, a descoberta da representação matricial do mundo atómico, percursora daquela teoria, foi um dos primeiros e mais importantes passos para uma imagem do mundo muito diferente da visão determinista newtoniana.
Heisenberg pertenceu a uma família académica que vivia bem. Cedo se mostrou um estudante excelente, com elevada autoestima. Foi na matemática e na física que revelou especial interesse e qualidades. Conseguiu estudar, inteiramente sozinho, a teoria da relatividade restrita de Einstein, dedicando-se predominantemente à sua parte matemática. O seu fascínio pela teoria dos números começava a manifestar-se. Considerava que só estes permitiam a compreensão mais profunda de tudo.
Entre 1920  e 1924 estudou em várias universidades alemãs, sob a orientação de grandes físicos como Sommerfeld, Wien, Max Born, Franck e Hilbert, como ele, mais tarde, obreiros, de modos distintos, na construção da nova Física. Em 1923, concluiu o seu doutoramento em Munique e regressou a Göttingen onde foi assistente de Max Born. O ano letivo de 1924-1925 foi passado em Copenhaga, no instituto de Niels Bohr. Tornou-se grande amigo de Wolfgang Pauli, outro brilhante físico, conhecido pelo seu raciocínio crítico e profundidade de argumentação. De 1927 a 1942, foi professor de Física Teórica em Leipzig. Todos estes contactos e a possibilidade de trabalhar intensivamente com eminentes físicos atómicos numa fase em que se questionava a validade da descrição clássica de muitos fenómenos deverão ter sido determinantes no seu contributo para o nascimento da Mecânica Quântica, especialmente com a construção da mecânica matricial e a descoberta das relações de incerteza.
Em 1932, Heisenberg recebeu o prémio Nobel de Física.



Notas biográficas dos palestrantes

Maria da Conceição Espadinha Ruivo é professora catedrática aposentada do Departamento de Física da  Universidade de Coimbra e escritora. Natural de Alfundão (Ferreira do Alentejo),  fez a sua formação académica na Universidade de Coimbra. Investigadora do CFC e especialista em Física das Partículas, dedica-se também à História da Ciência e a  projetos interdisciplinares e de divulgação. Publicou  ‘A Maravilhosa Aventura do Ursinho Chico e de sua Prima Mariana ‘(com ilustrações de Elsa Navarro), Editora Campo das Letras, Porto, 2002; ‘Ó Fala que foste Fala. Décimas de Joaquim Espadinha’ (organização e prefácio), Edições Afrontamento,  Porto, 2009; ‘Os Mapas do Silêncio’, Edições Afrontamento, Porto, 2010.

Maria Helena Caldeira, doutorada em Física Teórica pela Universidade de Coimbra, é Professora Associada aposentada da Faculdade de Ciências e Tecnologia desta Universidade. As suas principais áreas de investigação centraram-se em Estrutura Nuclear e Fundamentos de Mecânica  Quântica, dedicando-se, desde há alguns anos à Educação em Física e à Divulgação da Ciência. Nestes domínios, publicou várias dezenas de artigos científicos. Coordenou a equipa encarregada da elaboração dos programas nacionais de Física para os 10º e 11º anos, atualmente em vigor. É também coautora de vários livros escolares de Física e software para o ensino secundário  e de monografias de apoio aos professores, sobre diferentes temas de Ciências. É Vice- Presidente da Direção do Exploratório, Centro Ciência Viva de Coimbra.