Theses defended
A construção secular de uma identidade étnica transnacional: a cabo-verdiana
November 7, 2011
Carlos Fortuna
e
Maria Ioannis Baganha
Cabo Verde é um dos poucos países do mundo que tem tido uma emigração ininterrupta ao longo de mais de dois séculos. É um país marcado pela existência de algumas dezenas de milhares de emigrantes e de centenas de milhares dos seus descendentes no exterior de Cabo Verde e de outros tantos no interior do arquipélago. Como podemos pensar a existência de uma identidade colectiva nestas condições? Como se formam e mantêm os vínculos de ligação a Cabo Verde nos núcleos de emigrantes e seus descendentes? Como é "ser cabo-verdiano" em diferentes destinos migratórios ao longo do tempo?
As observações efectuadas em alguns dos destinos migratórios onde se estabeleceram cabo-verdianos em confronto com dados recolhidos no arquipélago de Cabo Verde, levaram-nos a estruturar a hipótese de uma co-influência recíproca no que respeita às dimensões que constituem a identidade social e cultural cabo-verdiana contemporânea. No nosso caso, invertemos o tradicional olhar e analisamos a identidade cabo-verdiana a partir não do arquipélago de Cabo Verde mas do arquipélago migratório e do confronto com os vários "outros" com que se tem defrontado ao longo dos últimos séculos. A análise efectuada permite questionar o modo como se estruturam as ligações simbólicas entre os cabo-verdianos que se movem no seio de um mundo social transnacional e descobrir a construção de uma identidade social transnacional baseada numa "identificação étnica".
A partir daqui encontramos o campo conceptual que nos permite discutir sociologicamente a "etnicidade" cabo-verdiana enquanto dimensão que enforma uma "identidade étnica transnacional". O nosso percurso leva-nos de volta aos clássicos da sociologia para, através da análise circunstanciada das suas contribuições analíticas, compreendermos como a "etnicidade" ou "identidade étnica" se tornou uma característica socialmente marcante e sociologicamente consequente ao longo dos tempos. A "etnicidade" ou "identidade étnica" emerge na actualidade das ciências sociais, como algo mais do que uma construção social ou politica. A vida social está, embora de forma desigual, profundamente estruturada em linhas "étnicas", e a "etnicidade" acontece numa variedade de cenários quotidianos. A "etnicidade" está incorporada e visível não apenas nos projectos políticos e na retórica nacionalista mas também em encontros do dia-a-dia, em categorias práticas, no conhecimento de senso comum, em idiomas culturais, em esquemas cognitivos, em construções discursivas, em rotinas organizacionais, em redes sociais e/ou em formas institucionais.
Procuramos demonstrar que a "identidade étnica transnacional cabo-verdiana" vem sendo construída continuamente ao longo dos últimos séculos enquanto fenómeno social e sociológico. Existe não porque exista (apenas) uma crença que supõe a sua existência mas por que há acções, interacções e relações sociais que, analisadas longitudinalmente, comprovam a sua existência. Referimos exemplos diversos desta actividade nos EUA, em Portugal, em Cabo Verde ou na Argentina. Defendemos que não existe [não poderia nunca existir] uma (única) identidade étnica cabo-verdiana geral, mas ao contrário, estaríamos em presença de uma (re)construção étnica múltipla e, portanto diferente em cada um dos países onde existem comunidades imigradas (e no arquipélago de Cabo Verde), resultante, por um lado, do confronto com os "outros" diferenciadores e, numa outra vertente, dos contextos e conjunturas em que ocorre essa interacção.
(https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/17848)
Public Defence date
Supervision
Abstract
As observações efectuadas em alguns dos destinos migratórios onde se estabeleceram cabo-verdianos em confronto com dados recolhidos no arquipélago de Cabo Verde, levaram-nos a estruturar a hipótese de uma co-influência recíproca no que respeita às dimensões que constituem a identidade social e cultural cabo-verdiana contemporânea. No nosso caso, invertemos o tradicional olhar e analisamos a identidade cabo-verdiana a partir não do arquipélago de Cabo Verde mas do arquipélago migratório e do confronto com os vários "outros" com que se tem defrontado ao longo dos últimos séculos. A análise efectuada permite questionar o modo como se estruturam as ligações simbólicas entre os cabo-verdianos que se movem no seio de um mundo social transnacional e descobrir a construção de uma identidade social transnacional baseada numa "identificação étnica".
A partir daqui encontramos o campo conceptual que nos permite discutir sociologicamente a "etnicidade" cabo-verdiana enquanto dimensão que enforma uma "identidade étnica transnacional". O nosso percurso leva-nos de volta aos clássicos da sociologia para, através da análise circunstanciada das suas contribuições analíticas, compreendermos como a "etnicidade" ou "identidade étnica" se tornou uma característica socialmente marcante e sociologicamente consequente ao longo dos tempos. A "etnicidade" ou "identidade étnica" emerge na actualidade das ciências sociais, como algo mais do que uma construção social ou politica. A vida social está, embora de forma desigual, profundamente estruturada em linhas "étnicas", e a "etnicidade" acontece numa variedade de cenários quotidianos. A "etnicidade" está incorporada e visível não apenas nos projectos políticos e na retórica nacionalista mas também em encontros do dia-a-dia, em categorias práticas, no conhecimento de senso comum, em idiomas culturais, em esquemas cognitivos, em construções discursivas, em rotinas organizacionais, em redes sociais e/ou em formas institucionais.
Procuramos demonstrar que a "identidade étnica transnacional cabo-verdiana" vem sendo construída continuamente ao longo dos últimos séculos enquanto fenómeno social e sociológico. Existe não porque exista (apenas) uma crença que supõe a sua existência mas por que há acções, interacções e relações sociais que, analisadas longitudinalmente, comprovam a sua existência. Referimos exemplos diversos desta actividade nos EUA, em Portugal, em Cabo Verde ou na Argentina. Defendemos que não existe [não poderia nunca existir] uma (única) identidade étnica cabo-verdiana geral, mas ao contrário, estaríamos em presença de uma (re)construção étnica múltipla e, portanto diferente em cada um dos países onde existem comunidades imigradas (e no arquipélago de Cabo Verde), resultante, por um lado, do confronto com os "outros" diferenciadores e, numa outra vertente, dos contextos e conjunturas em que ocorre essa interacção.
(https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/17848)