PhD Thesis proposal

As emoções no (anti)populismo: um comparativo entre Brasil e Portugal a partir da (des)construção do conceito de democracia

Supervisor/s: Cristiano Gianolla

Doctoral Programme: Democracy in the Twenty-first Century

Funding: FCT

As sociedades contemporâneas são caraterizadas pela polarização política, pelo menos, mais intensamente nos últimos dez anos, como é o caso de Itália, Argentina, Estados Unidos, Brasil, e outros, como demonstra a Edelman Trust Barometer (2023). Essa polarização é reflexo direto de cenários políticos em crise (Moffitt, 2018; Stavrakakis et.al., 2017). Simultaneamente, (re)surge o populismo que, por um lado emerge com a demanda por mais democracia, e por outro com um estereótipo negativo, utilizado para diminuir os adversários políticos de forma difamatória (Gianolla, 2024).

Três abordagens ao populismo dominam nas ciências sociais: enquanto ideologia fina (Mudde e Kaltwasser, 2017; Müller, 2017), estratégia política (Weyland, 2001) e como um discurso político (Moffit, 2018; Laclau e Mouffe, 1985/2015; Laclau, 2005/2013; Stavrakakis, 2014, 2017 ), esta utilizada na investigação para melhor compreensão de populismo e antipopulismo. Dentro do conceito de populismo, há duas expressões que ressaltam: exclusivista (de direita) e inclusivista (de esquerda) (Mudde e Kaltwasser, 2012). No populismo exclusivista as características determinam a exclusão de determinados grupos por meio da restrição do acesso à economia e à política, por exemplo, empregos, benefícios sociais, participação e representação política. Há, também, a questão de definição simbólica do povo baseado na cultura identitária nacionalista ou nativista. No populismo inclusivista, o inverso ocorre: há redistribuição de recursos estatais na esfera econômica, maior participação e representação política dos grupos, além da definição de povo englobar todos, compondo um "nós" em contraposição a "eles". A diferenciação, portanto, resume-se a quem compõe "povo puro" frente à "elite corrupta" e características ideológicas particulares (Mudde e Kaltwasser, 2012).

O imaginário do "povo puro" não é só para atacar a "elite corrupta", mas sim determinar a defesa dos interesses comuns dos indivíduos de determinada comunidade, unificando duas vontades à vontade geral, com o objetivo de proclamar a soberania popular como a única fonte legítima de poder (Mudde e Kaltwasser, 2012). É no momento dessa unificação de vontades que a pessoa individual passa a integrar grupos, e estes grupos tornam-se a identidade delas, por exemplo, essa pessoa sofrerá consequências emocionais baseada nas relações do grupo, para além da individual (Smith e Mackie, 2016).

O populismo tem uma capacidade particular de mobilizar emoções para impactar no comportamento político, porém já tem sido observado algumas reações sociopolíticas ao próprio populismo, em razão de demandas insatisfeitas de pessoas que não integraram os grupos compostos. É o que se pode chamar, a priori, de antipopulismo. O antipopulismo pode ser de consequência ou por movimentos sociais, o primeiro é quando surge consequentemente, por reação às incongruências e contradições do populismo, o segundo é movido por movimentos populares convocados para combater a ameaça populista. O discurso antipopulista possui uma abordagem antagônica em desenvolvimento, também utiliza das emoções como vínculo para construção de uma política antipopulista, mas a bibliografia relevante é ainda muito limitada.

Visando preencher esse vazio doutrinário, a presente investigação aborda a relação das emoções com o antipopulismo de direita - exclusivista - partido da concepção de populismo como um discurso político. É realizado recorte metodológico dentro do populismo de direita radical, com foco em Portugal e Brasil, pois representam recentes casos de (re)ascensão populista, e respostas antipopulistas em modalidades diferentes, os quais serão abordados de forma pormenorizada neste projeto. O cruzamento de dados resultante de grupos focais com a construção teórica primária é o método escolhido para poder responder: como se estabelece a relação entre emoções e antipopulismo dentro da realidade social e ideológica de Portugal e Brasil. Pretende-se contribuir com o debate sobre a compreensão do antipopulismo e o papel central das emoções neste e na política como um todo.