Seminário

Capturando a espiritualidade: estudo antropológico sobre a dimensão espiritual da saúde em pesquisas médico-científicas

Carlos Alberto Steil (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

18 de fevereiro de 2016, 17h00

Colégio da Graça > Piso 3, CES-Coimbra

Resumo

O tema deste seminário são os usos, as apropriações e as variadas repercussões da categoria espiritualidade no campo das ciências médicas no Brasil. Precisamente, vamos tratar do modo pelo qual essa categoria tem emergido como uma variável em pesquisas dedicadas a identificar correlações entre o “fator espiritual” e a saúde da população em geral, e de pacientes com perfis clínicos específicos.

Nosso foco empírico é o cotidiano dos pesquisadores engajados em dois grupos, o ProSER, sediado no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e o Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (NUPES), vinculado ao Programa de Pós Gradação em Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora. As pesquisas realizadas pelos médicos-cientistas desses referidos grupos utilizam uma ampla gama de tecnologias que visam identificar, isolar e interpretar a condição espiritual das pessoas e seus efeitos para a saúde.

Nosso interesse neste sentido é a criação e o uso dessas tecnologias, que vão de questionários ao mapeamento de atividades cerebrais, por parte dos cientistas engajados no ProSER e no NUPES. A ênfase nas mencionadas tecnologias e instrumentos se deve ao fato de que além de constituírem a forma de “acesso” à espiritualidade, os questionários, as ressonâncias magnéticas e os mapeamentos de atividade cerebral são mediadores fundamentais para que a espiritualidade emerja como uma entidade clinicamente visível e avaliável para médicos e pesquisadores. Em que pese a centralidade da categoria espiritualidade, a abordagem utilizada evitará definições apriorísticas do termo, fazendo dele um objeto de constante escrutínio, cuja definição estará condicionada às configurações específicas de sua enunciação.

Assim, a partir das tecnologias de avaliação da espiritualidade, desenvolvidas e utilizadas no campo das ciências médicas, procuramos analisar o modo pelo qual essa categoria tem sido articulada e tem mobilizado atores e instituições dedicados a promoção e aos cuidados com a saúde.


Nota biográfica

No CES entre 2 e 20 de fevereiro de 2016 a convite do NECES, Carlos Alberto Steil é doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ (1995). Realizou Pós-Doutorado na Universidade da Califórnia, San Diego UCSD (2006). Desde 1996, trabalha na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como professor do Departamento de Antropologia, lecionando na Licenciatura em Ciências Sociais e na Pós-Graduação em Antropologia Social. É investigador do CNPq, coordenador do Núcleo de Cultura e Turismo (CulTus) e membro do Núcleo de Estudos da Religião (NER).

O seu interesse de pesquisa concentra-se nas áreas da antropologia da religião, da política e do turismo. É autor do livro, “O sertão das romarias: um estudo antropológico sobre o Santuário de Bom Jesus da Lapa, BA” (1996), que recebeu o prémio Silvio Romero. É, ainda, autor de diversas coletâneas sobre temas de antropologia da religião e da política e de artigos publicados em periódicos científicos.


Evento no âmbito do Núcleo de Estudos sobre Ciência, Economia e Sociedade | NECES