Resumo

A pandemia de Covid-19 provocou a mais profunda crise económica e de saúde pública do nosso tempo. O que parecia impossível aconteceu: as fronteiras foram encerradas, as nações entraram em confinamento e os indivíduos isolaram-se socialmente para o bem coletivo. Estamos envolvidos numa experiência social sem precedentes. Este laboratório vivo está preparado para análises sociológicas.

Neste artigo introdutório, fornecemos uma ampla sociologia da Covid-19, prestando atenção à produção de pandemias e à criação de vulnerabilidades. Reconhecemos os elementos distópicos da pandemia: ela fornecerá oportunidades para os "capitalistas do desastre" lucrarem, exponenciará determinados meios de vigilância e afetará muito mais negativamente uns do que outros (aqui prestamos atenção especial às consequências da pandemia relativamente ao género).

No entanto, também existem recursos que permitem ter esperança. Testemunhamos atitudes altruístas em todo o mundo, à medida que grupos de ajuda mútua se organizam para prestar assistência quando necessário. Noções de reforma do estado social, tributação progressiva, nacionalização e renda básica universal surgem agora como hipóteses políticas mais palpáveis. Há mesmo quem profetize o fim iminente do neoliberalismo. Embora isso possa ser muito promissor, as reações à pandemia, até agora pelo menos, demonstram que outras formas de vida estão ao nosso alcance. Como afirmou Arundhati Roy: o vírus é um portal, um portal entre um mundo e o outro.