Este seminário propõe uma abordagem crítica, interdisciplinar e geopolítica sobre os múltiplos impactos da inteligência artificial (IA) nos domínios social, político, económico, científico, educacional e cultural. Reconhecendo que a IA oferece benefícios relevantes, o seminário também enfatiza os riscos estruturais implicados na crescente “algoritmização” da vida.

Entre os desafios mais urgentes destacam-se a vigilância e o uso indevido de dados pessoais, a precarização do trabalho e da educação mediados por sistemas algorítmicos, a propagação de desinformação, a influência sobre decisões políticas e processos eleitorais, a discriminação algorítmica, a erosão da privacidade e a fragmentação das relações sociais. A esses elementos soma-se o paradoxo ambiental da IA, que simultaneamente contribui para soluções sustentáveis e agrava a degradação ecológica por meio do consumo intensivo de recursos naturais, como água potável, minerais raros e energia.

O seminário inscreve esses debates na lógica das desigualdades históricas entre Norte e Sul global. Apesar de avanços importantes no desenvolvimento e na aplicação de IA em países do Sul, a centralização da infraestrutura, da produção tecnológica e do poder decisório permanece concentrada no Norte global, com exceção da China. Essa assimetria aprofunda a exclusão digital, impõe padrões algorítmicos excludentes e perpetua formas contemporâneas de colonialismo tecnológico e dependência estrutural.

Ao reunir pessoas de comunidades académicas de diferentes áreas e contextos geográficos, o evento visa promover um espaço de diálogo plural e crítico. O objetivo central é refletir sobre os desafios éticos, sociais, políticos e ambientais do poder algorítmico, bem como repensar, de forma coletiva, os futuros possíveis da humanidade diante da crescente influência das Big Techs e da lógica global de governança algorítmica.

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