Sessão cinematográfica e Debate

Territórios de identidades e culturas negras: o caso do Baile do Carmo em Araraquara, São Paulo, Brasil

Elisângela Santos (UNESP)

18 de junho de 2013, 18h30

Sala 1, CES-Coimbra

Resumo

Partindo da narrativa proposta pela diretora brasileira Shaynna Jacques Pidori no documentário etnográfico “Baile do Carmo” (2010) que retrata os preparativos e as memórias de grupos negros frequentadores do Baile de Gala realizado na cidade de Araraquara, interior de São Paulo, Brasil e que reúne em festa, há mais de 70 anos segmentos negros de diferentes sítios do país, a sessão pretende ser espaço de reflexão sobre as práticas culturais, técnicas corporais, gestuais e narrativas de negros e negras por suas memórias, lugares e linguagens específicas.

Pautado por questões relativas à construção e reinvenções lúdicas para a constituição identitária do ponto de vista étnico-racial, o documentário aborda o Baile do Carmo como celebração peculiar, e neste sentido, trata de dimensão importante dos grupos negros brasileiros na legitimação de suas práticas enquanto expressões culturais contemporâneas que, no plano político, marcam a luta pela superação do racismo e da exclusão social e insistem na singularidade de sociabilidades como um direito vivido.
Para além da produção musical, as (re)vivências negras no Brasil têm encontrado importante lugar na produção audiovisual brasileira contemporânea. Assim, o cinema também nos importa enquanto lugar da construção etnográfica: a forma filme. Por outro lado, o filme resulta em forma narrativa ou mapa capaz de transmitir e recontar as histórias propostas e contadas por outros grupos humanos, sobretudo aqueles submetidos a processos de invisibilização, silenciamento e empobrecimento.

O debate sobre o tema baseia-se ainda na produção escrita de intelectuais negros recém-formados em Araraquara e retoma as preocupações do Catavento, grupo de estudos. Além disso, recupera os trabalhos da pesquisadora durante entrevistas às famílias frequentadoras do Baile do Carmo que compuseram documentação do processo de candidatura à patrimonialização do Baile. O evento também inaugura os estudos de pós-doutoramento da investigadora acerca das expressões artísticas e narrativas poético-musicais, gestuais e identitárias que constituem cosmologias singulares e resultam na transmissão de saberes por determinados grupos humanos. Agora voltada ao estudo do Jongo (ou caxambu) e em etnografia junto à comunidades situadas no estado do Espírito Santo, Brasil, pretende na investigação pós-doutoral, ampliar o alcance das questões já levantadas durante etnografia que realizou junto a grupos caipiras paulistas resultante da tese “Entre Improvisos e Desafios: do cururu como cosmologia de grupos caipiras no Médio Tietê, SP” recentemente concluída com apoio da FAPESP e cujo estágio doutoral cumpriu no CES Coimbra, com supervisão de Graça Capinha.


Nota biográfica

Elisângela Santos - É doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UNESP de Araraquara, São Paulo, Brasil, sob orientação do Professor Doutor Dagoberto José Fonseca. Foi investigadora visitante no Centro de Estudos Sociais, CES da Universidade de Coimbra durante estágio doutoral (outubro/12 a março/13) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (modalidade BEPE). É bolseira de doutoramento da FAPESP (2009-13).               
 

Nota: Atividade no âmbito do Núcleo de Estudos sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz