Sessão cinematográfica

"Tanger : le rêve des brûleurs" 

14 de abril de 2011, 14h30

Sala de seminários (2º piso), CES-Coimbra

Filme: "Tanger : le rêve des brûleurs" de Leïka Kilarí"

[Filme projectado em francês]

Comentários de Khalid Fekhari

Resumo do filme
Cidade-janela sobre o estreito de Gibraltar, Tanger tem uma identidade aberta. A fronteira é aqui uma presença constante, vemo-la, sentimo-la por toda a parte: é a água. Em frente, uma linha contínua: a Espanha, entrada natural para a Europa. Não é necessário estar bom tempo para vermos a costa espanhola. A Europa está ali, próxima, palpável, evidente, ao alcance dos olhos, desafiando novos aventureiros à procura de uma vida melhor.

Em Maio de 1991, a Espanha, em uníssono com os países do espaço Schengen, decide submeter os migrantes magrebinos ao regime de vistos de entrada. Desde então, os candidatos a partidas Marroquinos, do Mali, Senegaleses, Mauritanos, e de outros Africanos, afluem massiva e ininterruptamente a Tanger. Chamam-lhes em marroquino herraguas, les "brûleurs", e brûleur é aquele que está pronto para partir de qualquer modo, pronto a queimar os seus documentos, a sua identidade, para fazer dessa partida uma acção irreversível. Partir é mais do que uma fantasia, é uma verdadeira obsessão. À frente, a porta da Europa-Eldorado. Tanger é o nó, um lugar e um momento onde os destinos individuais e a história colectiva se encontram.

Para além da descrição de um movimento de massas, este filme acompanha a aventura de alguns “brûleurs”. Tenta dar visibilidade ao seu "território", real ou não, físico ou interior. De uma estação a outra, seguimos a aventura de Rhimo, Denis et Azîz, as suas vidas e sobretudo as suas sobrevivências, os diferentes estados das relações oscilantes, conflituosas, obscuras, desesperadas, mas também lúdicas, descontraídas, que os rapazes mantêm com o desafio que se lançaram: partir, custe o que custar...


Enquadramento do ciclo de Cinema e Debates "Migrações Clandestinas"
Milhões de pessoas no nosso planeta são diariamente barradas por muros, fronteiras e legislações proteccionistas de Estados-nação que, ao mesmo tempo, as atraem pelas leis do mercado e miragem de bem-estar social. A globalização vive esse grande paradoxo de liberalizar a circulação de bens, serviços e comunicações, reforçando em simultâneo as políticas estatais de fiscalização e controlo dos territórios. Um conflito está aberto entre a mobilidade crescente de populações movidas por motivações vitais e a impossibilidade ou dificuldade radical em encontrar um lugar de pertença num “mundo comum”.

No sentido de abrir o debate sobre as migrações clandestinas no panorama actual, o Núcleo de Estudos sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz, organizou um Ciclo de debates que abordará, ao longo de 2011, as diversas dimensões do problema. Serão projectados filmes documentários e ficções a comentar por um/uma convidado/a e a discutir pela plateia.