Palestra-Debate

Albert Camus / George Orwell

Jacinta Matos

Rui Bebiano

26 de abril de 2011, 21h15

Galeria Santa Clara - Coimbra

Vidas e Vozes / Diálogos Contemporâneos

Ciclo de Palestras-Debate (Janeiro-Junho de 2011)

Última Terça-Feira de cada mês / Galeria Santa Clara - Coimbra, 21H15

Com este ciclo pretende-se projectar e debater de uma forma panorâmica, simultaneamente analítica, polémica e didáctica, e junto de um público que se deseja o mais alargado possível, as vidas, as obras e as escolhas de autores/as – pensadores, cientistas, políticos, teólogos, escritores, artistas – com uma intervenção relevante para os processos de compreensão, de representação e de revisão crítica do mundo contemporâneo. Em cada sessão dois intervenientes debruçar-se-ão sobre dois autores, se possível colocados em confronto. Seguir-se-á o debate.

 

26 de Abril
Albert Camus / por Rui Bebiano
George Orwell / por Jacinta Matos

Albert Camus (1913-1960): o escritor, intelectual e ensaísta francês de origem argelina, combinou na juventude o interesse pelo jornalismo, pelo teatro e pelo futebol. Em 1937 publicou O Avesso e o Direito, o seu primeiro ensaio, e a partir de 1940, já em Paris, participou activamente na Resistência contra o invasor alemão. Foi nesta condição que se tornou chefe de redacção do influente jornal Combat. Em 1942, publica O Estrangeiro, o seu primeiro romance, obra-chave da literatura «existencialista», e o ensaio O Mito de Sísifo. A Peste, já de 1947, irá trazer-lhe um reconhecimento público que nem sempre viveu com prazer. Nos anos seguintes escreveu intensamente para o teatro (O Equívoco, Calígula, O Estado de Sítio, Os Justos). Em 1951 publicou um novo ensaio, O Homem Revoltado, no qual a defesa da revolta individual em detrimento da insubordinação colectiva esteve na origem do seu desentendimento com Sartre e com parte da esquerda, determinando um isolamento que o feriu profundamente pois sempre considerou ser essa a sua família política. Fez entretanto adaptações teatrais de Lope de Vega, Faulkner e Dostoievski e escreveu A Queda, bem como os contos de O Exílio e O Reino. Em 1957 recebeu o Prémio Nobel de Literatura. Após a sua morte num acidente de automóvel, publicaram-se ainda o Diário e obras de juventude, como o romance O Primeiro Homem. Camus é, com Sartre, o escritor mais representativo do existencialismo francês, apesar de sempre ter recusado esta qualidade. A sua reflexão inicial sobre o absurdo e o suicídio, a solidão e a morte, irá gradualmente ser dirigida para a esperança e a solidariedade humanas como possíveis soluções do drama do absurdo. O seu empenho na afirmação de uma esquerda anti-totalitária permanece, ainda hoje, como um factor que polariza fortemente, à volta da sua obra e da sua personalidade, os fiéis e os detractores.


George Orwell (1903-1950): o reconhecimento público do escritor e jornalista britânico Eric Arthur Blair, George Orwell, deve-se principalmente às suas obras tardias de ficção política como a novela satírica A Quinta dos Animais (1945) e o romance distópico Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (1949). No entanto, a sua obra possui uma orientação e uma dimensão de uma natureza muito mais vasta. Toda ela é, desde logo, marcada por uma percepção profunda das injustiças sociais, por uma oposição tenaz a todas as formas de totalitarismo e por uma paixão constante pelo rigor da escrita. A sua consciência da necessidade de atender aos interesses dos pobres e dos excluídos, é perceptível pelo menos desde a publicação de Na Penúria em Paris e Londres (1933). Um outro livro, Homenagem à Catalunha (1938) – um relato emotivo da sua experiência como combatente internacionalista no lado republicano da Guerra Civil de Espanha – foi também aclamado como uma clara tomada de posição. Data aliás dessa altura o seu corte público com a experiência do «socialismo real», que marcará de uma forma constante grande parte da sua produção posterior. Considerado com justeza como um dos melhores cronistas da língua inglesa do século XX, Orwell dedicou muito do seu melhor esforço a escrever artigos jornalísticos bastante polémicos e mordazes textos de crítica literária, muitos deles compilados em livro, em sucessivas edições, ao longo das últimas décadas. A sua influência na cultura contemporânea, tem permanecido constante, com uma dimensão que ultrapassa amplamente o reconhecimento dos meios académicos e literários. O que não significa, bem pelo contrário, que se tenha tornado depois de morto a figura consensual que também não foi em vida, já que as suas posições insistentemente socialistas e anti-totalitárias foram frequentes vezes objecto de contestação e de azeda crítica.


Notas biográficas dos palestrantes:

Rui Bebiano, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais, participou na década de 1980 na renovação dos estudos barrocos, escrevendo então D. João V. Poder e Espectáculo. Em 1997 doutorou-se com a tese A Pena de Marte. Discurso da guerra em Portugal e na Europa entre os séculos XVI e XVIII, Prémio de Defesa Nacional de 1998. Trabalha actualmente em temas de história do presente, em particular no campo das construções utópicas, das práticas de exclusão e silenciamento, e das representações contemporâneas do passado. Publicou em 2003 O Poder da Imaginação. Juventude, Rebeldia e Resistência nos Anos 60. Mais recentemente saíram Anos Inquietos. Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974) (em co-autoria com Manuela Cruzeiro) e Do Activismo à Indiferença. Movimentos Estudantis em Coimbra (em co-autoria com Elísio Estanque), e Outubro, um livro sobre o imaginário e o impacto simbólico da Revolução Russa de 1917. Ocupou-se também com temas de cibercultura e de história da leitura, tendo, entre 1996 e 2002, coordenado uma das primeiras publicações electrónicas em rede dentro do espaço lusófono. Em 2001 editou Folhas Voláteis, um volume de crónicas escritas originalmente para a Internet. É actualmente colaborador regular da revista LER.


Jacinta Maria Matos é professora associada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 1983 obteve o Mestrado na Universidade de Birmingham, sob a orientação de David Lodge, com uma tese sobre as narrativas não-ficcionais de George Orwell. Pelos Espaços da Pós-Modernidade: Literatura de Viagens Inglesa da Segunda Grande Guerra à Década de Noventa, a sua tese de doutoramento defendida em 1996, foi publicada pelas Edições Afrontamento em 1999. As suas áreas de interesse e investigação são as narrativas não-ficcionais (incluindo o ensaio e o jornalismo) e a literatura de viagens inglesa contemporânea. Tem publicado em Portugal e no estrangeiro sobre estas matérias, bem como no âmbito dos Estudos de Identidade e Pós-coloniais. Foi também Investigadora Associada do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tendo participado no projecto «A Sociedade portuguesa perante os Desafios da Globalização». Encontra-se a escrever um livro sobre George Orwell, provisoriamente intitulado Um Guerrilheiro indesejado nas fileiras do exército regular. George Orwell – Vida e Obra.


Moderadora: Isabel Pedro

Organização: Núcleo de Estudos sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz