Colloquium

Processos de Libertação em Angola e Moçambique: anticolonialismo e ruturas identitárias no feminino

July 14, 2014, 09h30

Room 1, CES-Coimbra

Notas biográficas e resumos das intervenções


José Luís Cabaço

Nasceu em Maputo. Participou na luta pela independência de Moçambique e ocupou cargos públicos após a libertação do seu país.
É licenciado em Sociologia pela Universidade de Trento, Itália, e Doutor em Antropologia pela Universidade de São Paulo, Brasil.
É autor do livro Moçambique: identidades, colonialismo e libertação, editado pela Editorial UNESP de S. Paulo, Brasil, e pela Ed. Marimbique de Maputo, Moçambique. Prémio ANPOCS 2008. Tem capítulos da sua autoria em onze livros coletivos publicados em Moçambique, Brasil, Itália e Áustria. Foi pesquisador convidado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador visitante no CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), São Paulo. Atualmente é Reitor da Universidade Técnica de Moçambique.

Intervenção: "Internacionalistas"
Durante o período da luta armada de libertação de Moçambique muitas mulheres de diferentes nacionalidades se empenharam no apoio à Frelimo participando ativamente nos movimentos de solidariedade, promovendo a divulgação dos objetivos, denunciando os crimes do colonialismo, recolhendo contribuições financeiras e humanitárias, organizando projectos de natureza social, etc.
Algumas destas militantes ofereceram-se voluntárias para se juntarem à Frelimo e ali porem em prática tais projetos de apoio e solidariedade. Um punhado acabou pedindo a integração nas fileiras do Movimento, suprindo a carência de quadros nomeadamente nos setores da educação, saúde e informação. A todas elas, após a independência, o primeiro governo conferiu a nacionalidade moçambicana originária.
É sobre estas mulheres, suas motivações e suas experiências que trata o texto.

_______________________

Júlia Garraio

Investigadora do Centro de Estudos Sociais, onde integra o Núcleo de Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz (NHUMEP). Grande parte da sua investigação, das suas atividades e publicações tem sido dedicada à literatura e à cultura alemã do século XX. Violência, memória, identidade, discurso e representação são conceitos essenciais no seu trabalho.

Intervenção: “(Re)construções de identidades femininas em espaços de fronteiras”
Ainda que o espaço fronteiriço seja potencialmente um lugar de tensão, opressão e violência, ele contém igualmente a possibilidade do encontro, da descoberta, do intercâmbio cultural, da reconfiguração identitária. Esta comunicação pretende refletir sobre o percurso de algumas mulheres brancas nascidas portuguesas que aderiram aos movimentos de libertação africanos como exemplos de biografias que se (re)construiram nesse espaço marcado por fronteiras que é o colonialismo. Esta análise integrará os processos de (re)construção identitária destas mulheres no momento histórico fulcral de que elas foram protagonistas: a construção de um Estado nacional em Angola e Moçambique e a reorientação identitária de Portugal levada a cabo pelas vozes de oposição ao regime salazarista.

_______________________

Laura Padilha

É doutorada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professora Emérita da Universidade Federal Fluminense, na área de Literaturas de Língua Portuguesa, em particular nas Literaturas Africanas. Foi Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras, Vice Presidente da Associação Brasileira de Literatura Comparada, Directora da Faculdade de Letras da Universidade Federal Fluminense, dirigiu a Editora da Universidade Federal Fluminense e hoje é representante da sua área no CNPq.

Para além de inúmeros artigos publicados em revistas da especialidade, Laura Cavalcante Padilha é autora de Entre Voz e Letra - A Ancestralidade na Literatura Angolana, 1995, que recebeu o Prémio Mário de Andrade da Biblioteca Nacional como o melhor ensaio do ano; Novos pactos, outras ficções: Ensaios sobre literaturas afro-luso-brasileiras (2001), que conta também com uma edição portuguesa pela Imbondeiro; organizou com Inocência Mata, A Mulher em África: Vozes de uma margem sempre presente (Colibri, 2007) e A Poesia e a Vida (sobre Alda do Espírito Santo) (2006), e com Margarida Calafate Ribeiro, Lendo Angola (Afrontamento, 2008).

Intervenção: "Mulheres em novas geografias: memórias e corpos femininos em depoimentos sobre o processo de libertação de Angola"

­­­­­­­­­­­­­_________________________

Margarida Calafate Ribeiro

investigadora no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra e docente no programa de doutoramento do CES/III, "Patrimónios de Influência Portuguesa", de que é coordenadora com Walter Rossa. Com Roberto Vecchi, é responsável pela "Cátedra Eduardo Lourenço", Instituto Camões/ Universidade de Bolonha. Mais info: https://sites.google.com/site/margaridacalafateribeiro/

Das suas publicações destacam-se os livros de autor África no feminino: as mulheres portuguesas e a Guerra Colonial; e Uma história de regressos: império, Guerra Colonial e pós-colonialismo. Organizou ainda os livros Eduardo Lourenço, O Colonialismo como o nosso impensado (com Roberto Vecchi), Antologia da memória poética da guerra colonial (com Roberto Vecchi); Literaturas da Guiné-Bissau: cantando os escritos da história (com Odete Costa Semedo); Literaturas insulares: leituras e escritas de Cabo verde e São Tomé e Príncipe (com Sílvio Renato Jorge); Atlantico periferico: il postcolonialismo portoghese e il sistema mondiale (com Roberto Vecchi e Vincenzo Russo); Lendo Angola (com Laura Cavalcante Padilha); Moçambique: das palavras escritas (com Maria Paula Meneses); Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo (com Ana Paula Ferreira).

Intervenção: “Nos trilhos da resistência no feminino: um caso em Moçambique
Quando pensamos em mulheres e movimentos políticos, guerras e revoluções em África, pensamos de imediato em mulheres negras nascidas em África. A presente comunicação pretende, porém, trazer a público os resultados de um projeto de investigação que teve como objetivo analisar uma realidade menos conhecida – a participação de algumas mulheres brancas de ascendência portuguesa nos movimentos, nas guerras de libertação e na revolução em Moçambique.
Através da recolha e o tratamento dos testemunhos destas mulheres, em cruzamento com outras vozes dos movimentos nacionalistas e com as narrativas públicas, esta comunicação revela um arquivo único que enriquecerá o conhecimento das histórias dos movimentos de libertação e das suas ligações com a história recente de Moçambique e Portugal.

_________________________

Rita Chaves

Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, é professora associada de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na mesma instituição. Seus projetos de pesquisa têm focalizado as modalidades e o lugar da narrativa romanesca nos sistemas literários de Angola e Moçambique. Foi professora visitante na Yale University, em 1996/97. Tem dois estágios de pós-doutoramento ne Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique.

É autora de A formação do romance angolano e de Angola/Moçambique – experiência colonial e territórios literários. É co-organizadora de Portanto ...Pepetela (Luanda: Chá de Caxinde, 2003; Cotia:Ateliê, 2009), Brasil/África: como se o mar fosse mentira ( Luanda/São Paulo: Chá de Caxinde/ Editora da UNESP, 2006); A kinda e a misanga: encontros brasileiros com a Literatura Angolana ( Luanda/ São Paulo: Nzila/Editora da UNESP, 2007); Mia Couto: o desejo de contar e de inventar ( Maputo: Ndjira, 2009); Passagens para o Índico: encontros brasileiros com a Literatura Moçambicana (Maputo: Marimbique, 2012); Mia couto: um convite à diferença (São Paulo: Humanitas, 2013).

Intervenção: “Memória e ficção: sobre o silêncio e as linhas da insubmissão
Ainda pouco trabalhada pela História e pelas Ciências Sociais, a atuação feminina nos processos de libertação também não tem merecido grande atenção nos textos memorialísticos produzidos nos últimos anos por protagonistas das lutas anticoloniais. Muito embora o discurso da libertação apontasse o compromisso com o fim da opressão imposta às mulheres, a subjetividade que assumidamente conduz o esforço de redesenhar esse tempo que antecedeu a transformação histórica não se mostrou fecunda na captação da sua presença. A memória ratifica o silêncio cultivado pelo discurso histórico predominante: elas permanecem em lugares subalternos, figurando no máximo como coadjuvantes de ações de relevo. Enquanto espaço de contradição por natureza e definição, a narrativa literária incorpora e problematiza situações alusivas à construção da insubmissão como um traço de identidade das mulheres e o seu lugar na desmontagem de quadros aparentemente controlados pela ordem em vigor.