Enquadramento

As teses sobre a secularização configuraram uma chave interpretativa crucial nas análises sobre as transformações socioculturais que, num determinado período histórico, seriam concebidas como características definidoras da “modernidade”. No âmbito da constituição das teorias sociais, estas transformações poderiam ser refletidas não apenas com base na deteção de substanciais alternâncias nos padrões de sociabilidade, solidariedade e no desenvolvimento das forças produtivas, mas ainda a partir de novas configurações societárias através das quais as relações entre religião e sociedade se encontravam profundamente afetadas.

Estas realidades suscitam uma série de questionamentos desconcertantes: existiria uma inequívoca dissolução dos vínculos entre religião e Estado ou entre o religioso e o político? Quais as modalidades através das quais a religião se reaproxima do espaço público nas sociedades atuais? De que forma os atores religiosos e laicos negociam suas demandas nestes espaços? Seria o paradigma da secularização uma matriz interpretativa satisfatória para dar conta das realidades sinalizadas? A narrativa padrão da secularização - concebida no plano teórico e político do colonialismo - seria aplicável a diferentes contextos empíricos? É com o intuito de aprofundar estes questionamentos que se realiza este Ciclo de seminários sobre “Religião e Espaço Público”.