Palestra-Debate

Eduardo Lourenço / António José Saraiva 

José Neves

Maria Manuela Cruzeiro

29 de março de 2011, 21h15

Galeria Santa Clara, Coimbra

 Vidas e Vozes / Diálogos Contemporâneos

Ciclo de Palestras-Debate (Janeiro-Junho de 2011)

Última Terça-Feira de cada mês / Galeria Santa Clara - Coimbra, 21H15

Com este ciclo pretende-se projectar e debater de uma forma panorâmica, simultaneamente analítica, polémica e didáctica, e junto de um público que se deseja o mais alargado possível, as vidas, as obras e as escolhas de autores/as – pensadores, cientistas, políticos, teólogos, escritores, artistas – com uma intervenção relevante para os processos de compreensão, de representação e de revisão crítica do mundo contemporâneo.

Em cada sessão dois intervenientes debruçar-se-ão sobre dois autores, se possível colocados em confronto. Seguir-se-á o debate.

 

29 de Março

Eduardo Lourenço / por Maria Manuela Cruzeiro

António José Saraiva / por José Neves

 

Eduardo Lourenço : A obra de Eduardo Lourenço (n. 1923) caracteriza-se por um olhar simultaneamente autónomo e inquietante, num registo de erudição que interpela o intelectual mas também o cidadão comum. Começando por trabalhar no campo da crítica literária, após a publicação, em 1949, de Heterodoxia I, onde defendeu uma noção de heterodoxia que impõe a aceitação de uma pluralidade de «ortodoxias», tornou-se figura incómoda para o catolicismo conivente com o salazarismo e também para o marxismo mais intransigente. O seu ensaísmo revela uma particular preocupação com a autopercepção das identidades colectivas. Desde O Labirinto da Saudade - Psicanálise mítica do destino português, publicado com um grande impacto em 1978, tem examinado «as imagens que de nós mesmos temos forjado», desenvolvendo igualmente uma interrogação sobre o destino português no modo como ele foi observado por autores como Camões, Antero e Pessoa. Fê-lo também, de forma mais abrangente, no volume Portugal Como Destino Seguido de Mitologia da Saudade (1999). Tem sido ainda colunista regular de alguns jornais de referência, onde se destaca por uma abordagem atenta, crítica e reflexiva da política e da cultura contemporâneas.

António José Saraiva: Ensaísta, investigador, professor e crítico literário, António José Saraiva (1917-1993) foi uma figura singular mas também central entre os intelectuais portugueses da segunda metade do século XX. Publicou uma obra vastíssima, considerada de referência nos domínios da história da literatura e da cultura portuguesa, que passou pelo estudo de autores individualizados (Garrett, Herculano, Fernão Lopes, Fernão Mendes Pinto, Gil Vicente, Eça, Oliveira Martins, entre outros), pelos vários trabalhos que dedicou a Camões ou ao Padre António Vieira, pelo inovador Inquisição e Cristãos-Novos, e também por intermédio de obras de maior fôlego como a História da Cultura em Portugal ou, de parceria com Óscar Lopes, a já clássica História da Literatura Portuguesa. Por outro lado, a sua capacidade para rever com lucidez e audácia os seus próprios princípios hermenêuticos conferem à sua obra ensaística um carácter raro e exemplar. Ao mesmo tempo, Saraiva manteve uma atitude contestatária e de resistência, manifestada na expressão de um olhar crítico sobre a sociedade contemporânea e de uma imagem romântica de inconformismo face a todo o poder que tenda para a institucionalização, perceptível em obras como o ainda controverso Maio e a Crise da Civilização Burguesa e em numerosos escritos de circunstância.

 

Notas biográficas dos palestrantes:

Maria Manuela Cruzeiro é investigadora do Núcleo de Humanidades, Migrações e estudos para a Paz do Centro de Estudos Sociais. Foi investigadora do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra. Os seus interesses são as dimensões histórica, imaginária e simbólica da Revolução de 1974, a problemática da História Oral, os movimentos de resistência à ditadura, a cultura e a identidade portuguesas, particularmente a partir da obra de Eduardo Lourenço. Publicou, entre outros, os livros Vasco Lourenço - Do Interior da Revolução (2009); Anos Inquietos - Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra, em co-autoria com Rui Bebiano (2006); Melo Antunes: O sonhador pragmático (2004); Maria Eugénia Varela Gomes - Contra Ventos e Marés (2003); Tempos de Eduardo Lourenço - Fotobiografia, em co-autoria com Maria Manuel Baptista (2003).

José Neves é investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e professor no Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma Universidade. As suas actuais áreas de interesse são a História do Comunismo, os Estudos sobre Nacionalismo e a História e Sociologia do Desporto. Publicou em 2008 o livro Comunismo e Nacionalismo em Portugal - Política, Cultura e História no Século XX (2008) e coordenou recentemente os livros Como se faz um Povo - Ensaios em História Contemporânea de Portugal (2010) e, em colaboração com com Bruno Peixe Dias, A Política dos Muitos - Povo, Classes e Multidão (2010).

 

Moderador: Rui Bebiano

 

 Organização: Núcleo de Estudos sobre Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz