Seminário

Universos "Familiares" em contexto migratório

9 de setembro de 2010, 16h00 (CANCELADO)

Sala de Seminários, CES - Coimbra

Apresentação

 

No âmbito dos Seminários NEM iremos apresentar alguns dos resultados do Projecto “Famílias Imigrantes: um estudo longitudinal de Brasileiros, Cabo-verdianos e Ucranianos em Portugal”, focando a atenção na complexidade de interacções sociais accionadas em diferentes momentos de um projecto migratório[1] experienciado – e narrado – por cada individuo, nomeadamente as interacções familiares construídas e reconstruídas e numa perspectiva abrangente que é a dos próprios interlocutores (redes familiares poderão incluir grupos de amigos considerados família, vizinhos considerados família, entre outras).

 

O conceito de família é muito diferenciado tendo em conta o sujeito e o contexto sociocultural e económico de partida e será visto em dinâmica, como um processo em permanente construção. Olharemos assim as “relações próximas” (Cf. Carsten 2000)[2] dos sujeitos entrevistados, as efectivas, as relações que gostariam de estreitar, bem como as distâncias criadas e/ou impostas no país de “origem” e no país de “acolhimento”. Assim analisamos percursos individuais e familiares que nos permitirão reconstituir percursos sociais, culturais e políticos nomeadamente em contexto migratório, para lá da análise centrada somente nas relações de parentesco.

 

Partimos do princípio de que relações de parentesco estão em constante redefinição e não correspondem obrigatoriamente a uma realidade de consanguinidade. Pensamo-las enquanto estratégias de sociabilidade, enquanto referenciais (entre muitos outros) em ultima instância identitários que (podem) ajudar a situar e a interpretar o mundo.

 

Algumas das questões a problematizar – Queremos Entender:

 

a) os modos como um percurso migratório especifico interfere nos modelos e práticas “familiares” e vice-versa, como as práticas familiares de cada um constrangem e/ou potenciam um determinado projecto migratório e em que medida o fazem.

 

b) os modos como são concebidas as noções de família para cada Entrevistado/família, no momento presente e em diferentes etapas da sua vida.

 

Exemplos de perguntas a responder: Quem “é” considerado da família hoje e agora? Que conceitos de família têm uns e outros? Em que medida a experiencia migratória desenhou novos modelos familiares? São modelos praticados e/ou (também) idealizados?

 

Analisaremos o universo das relações estabelecidas, as efectivas ou praticadas, afectivas e idealizadas elaboradas pelos sujeitos entrevistados, pessoas que têm em comum o estatuto de migrantes. Assim, estaremos capacitados para reflectir sobre as redes de apoio que são mobilizadas pelos agentes sociais bem como as que são (ou não) colocadas à disposição de alguém que chega a um novo território. Olharemos os universos relacionais enquanto recursos que espelham e transformam os lugares vivenciados, recursos que interferem nas posições socioeconómicas que se ocupam a dada altura, recursos que reflectem e (re)criam “politicas” (no sentido de acções que expressam vontades para lá do individual) de modos de coexistência social.

 

[1] Projecto que é também social, cultural, politico.

 

[2] Carsten, Janet, 2000, in Cabral Pina João, Lima, Antónia Pedroso de, 2005, “Como Fazer uma História de Família: Um exercício de Contextualização Social”, Etnográfica, IX – 2: 355 – 388, CEAS.

 

Nota Biográfica

 

Joana Areosa Feio (n. 1977, Lisboa) é licenciada em Antropologia e Mestre em Antropologia – Colonialismo e Pós-Colonialismo com a Tese “De Étnicos a “Étnicos” – uma abordagem aos “angolares” de São Tomé e Príncipe” pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE). Desenvolveu trabalho de campo no âmbito do Mestrado em São Tomé e Príncipe, sobre Etnicidade e Identidades Estigmatizadas em contexto Pós-colonial. Tem colaborado em diversos projectos de investigação em equipas multidisciplinares, destacando a actividade enquanto Investigadora no Projecto “Neighbourhood Governance”:Avaliação de um Processo de Realojamento em Trajouce (Cascais), pelo Núcleo de Ecologia Social (NES) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Lisboa (LNEC) (2002 e 2003), e as colaborações na recolha dos dados no Terreno nos Projectos “Saúde, Doença e Utilização dos Serviços de Saúde pelas comunidades Migrantes : Africana, Brasileira e dos Países de Leste”, pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (2008) e “Avaliação do Acesso aos Cuidados  de Saúde e Nível de Saúde dos imigrantes Africanos e Brasileiros em Portugal”, realizado pelo Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Lisboa (2007). Realizou estágio profissionalizante em Antropologia no Conselho Português para os Refugiados (CPR) (2002).

 

Tem vindo a consolidar o interesse na experiência do trabalho de campo antropológico em si, nas metodologias qualitativas e participativas, nomeadamente na Recolha de Histórias de Vida em contexto de Observação Participante. A par está o interesse pelas temáticas relacionadas com as Identidades e Diferenciações sociais, nomeadamente em contextos migratórios.

 

É Bolseira de Investigação Júnior do Núcleo de Migrações do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra pelo Projecto “Famílias Imigrantes: Um Estudo longitudinal de Brasileiros, Cabo-verdianos e Ucranianos em Portugal” desde Fevereiro de 2009.

 

Está a preparar candidatura para Doutoramento sobre projectos migratórios de santomenses em Portugal.