Os revestimentos e os acabamentos nos centros históricos entre tradição e modernidade - bases para um plano de acção e de salvaguarda do Centro Histórico de Coimbra
No decurso do século XX, os sistemas construtivos tradicionais foram sendo substituídos pelos de natureza industrial. Como consequência, as técnicas tradicionais de construção, nomeadamente dos revestimentos e acabamentos históricos, foram aos poucos caindo no esquecimento. Por esse motivo, as imagens urbanas dos centros históricos, têm vindo, nas últimas décadas, a sofrer profunda e rápida descaracterização. Isso mesmo aconteceu com o Centro Histórico (CH) de Coimbra. Refira-se que, por questões da própria natureza construtiva, estes dois sistemas construtivos, tradicional/moderno, apresentam incompatibilidade relativamente a uma aplicação simultânea, pelo que um dos factores responsáveis pela descaracterização da imagem urbana dos centros históricos está directamente relacionado com a utilização das técnicas e materiais modernos nos edifícios históricos. De forma a combater esta tendência, que afecta gravemente a possibilidade de leitura da imagem urbana em centros históricos, entendemos que urge criar instrumentos específicos que possam ajudar a superar esta dicotomia, através do estabelecimento de um diálogo entre as técnicas tradicionais e as possibilidades oferecidas pela evolução tecnológica, tendo em vista a sustentabilidade resultante destas novas soluções.
O presente projecto, que sistematiza e aprofunda o trabalho exploratório realizado no CH de Coimbra, tem como objectivo o estudo e a análise da "epiderme", isto é, das cores, das texturas, dos revestimentos, das superfícies arquitectónicas, entre outros elementos, que marcam a imagem urbana da Coimbra antiga, de modo a criar uma base de trabalho que permita definir a proposta metodológica para a elaboração de um Plano de Cor, bem como as acções de manutenção e restauro de outros centros históricos. O estudo relaciona, numa perspectiva histórica, a problemática dos revestimentos e dos acabamentos dos edifícios com as suas funções sociais e económicas, mas também com políticas urbanas e patrimoniais. Nessa medida, contempla várias dimensões de análise (arquitectónica, urbanística, técnica dos materiais e sociológica), o que permite uma abordagem metodológica interdisciplinar, que, por sua vez, é fundamental para a elaboração de um plano de acção e de salvaguarda dos centros históricos. A combinação de perspectivas de análise diversas confere ao projecto um carácter inovador, que lhe permite ter impactos alargados, quer no domínio do conhecimento científico, quer no domínio das políticas de gestão urbana e patrimonial. Segundo José Aguiar, no decorrer das últimas duas décadas do século passado, «verifica-se uma evolução na estratégia de desenvolvimento dos planos de cor. Em vez de planos sustentados em regras gerais, (…) evolui-se para planos particularizados, onde cada edifício é um caso, (…)». É neste período que surgem as primeiras leis urbanísticas, as quais exigem um Plano de Cor como instrumento de controlo urbanístico. Aquele autor refere ainda que «da definição de normas abstractas sobre a cor, os planos evoluem para o controlo cada vez mais exacto das formas como se intervém, moldando, classificando, definindo e regulando as práticas de projecto e aproximando-as dos modelos definidos pelo quadro teórico-crítico do restauro e da conservação patrimonial: mais do que “Planos de Cor”, passamos a ter “Planos Reguladores dos Materiais que Fornecem Cor”». Este projecto procura, assim, identificar e caracterizar as soluções formais e as tecnologias e materiais utilizados nos revestimentos e acabamentos tradicionais do CH que actualmente ainda podem ser identificados no Património Arquitectónico, de modo a criar uma base de trabalho que permita o apoio à posterior execução de um Plano Integrado de Salvaguarda dos Revestimentos e Acabamentos Tradicionais - Plano de Cor - facilitador/dinamizador da salvaguarda da herança cultural. A investigação da “epiderme” do CH permitirá contribuir para a definição de critérios de intervenção na salvaguarda da imagem (revestimentos e acabamentos tradicionais do edificado) e para a promoção da informação recolhida em futuras intervenções de conservação e restauro dos centros históricos em geral. Os estudos técnicos dos revestimentos incidirão sobre técnicas analíticas macro e microscópicas, nomeadamente análise da composição química e mineralógica, usando microscopia óptica, micro-espectroscopia Raman (bem estabelecidas nesta área de investigação), difracção de raios-X em pó e caracterização colorimétrica e manipulação de imagens hiperespectrais com o objectivo de caracterizar os pigmentos e materiais usados. Este projecto poderá constituir uma importante contribuição para a fundamentação da candidatura da Universidade de Coimbra a património da UNESCO, bem como para a fundamentação de uma futura criação de um núcleo interpretativo dos revestimentos e acabamentos históricos do C H de Coimbra.
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; Universidade da Beira Interior; Câmara Municipal de Coimbra; IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
Francisco Miguel Pereira Brardo Ferreira
Joana Abrantes
Jorge Santos
José António Raimundo Mendes da Silva
Lídia Maria Gil Catarino
Paulo Peixoto
Paulo Torrão Fiadeiro
Pedro Providência
Tiago Duarte