Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal

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João Guimarães



O cristo que tinha um quisto

 

e eis que Ele começa a drenar

com ranho de ovo no céu escalfado

escalfoda-se e um ramo de margaridas podres

de boas e bêbados estamos nós a arrotar!

e molhos de poemas despenteados com piolhos míopes

e brócolos centípedes com caspa e cheiro a

Sovaco Silva a mendigar painéis insulares

e pais nossos ao som de diarreia de porcelana reciclável

penicos ecológicos e escatológicas de poupança genética

e juro transplanetário enxertado em cactos alcoólicos

e bonecas manetas engravatadas por imbecilidade terminal.

Ao longe gritos de merda amorangada que o eco agasalhou. 

































O profeta gostava de morangos

 

Aparentemente, a tua sombra engordou

Abriu uma porta e escapou-se pela janela

Sapateando por entre uma cancerígena multidão

De desobedientes autómatos de cristal

Bulinou rumo à dança pendular do sol

(Agora uma bola de gelado sem sal).

 

Possivelmente seduzida pela promessa sussurrada

De um Paraíso glaciar escaldantemente plastificado

Onde burocráticos bonecos de neve rastejam

Com cartolas douradas a assobiar para as ondas do céu azul

Que os hiptnotizam com uma esterilizada e ensurdecedora música

De elevador chega a mão suja do Profeta, sorridente e apodrecida

Pelas luzes de neon que zumbem na sala da salvação.

 

Certamente nunca estará sozinha

Esquiando de mãos dadas com outra sombra efervescente

Sem nunca a olhar o buraco vazio dos seus olhos de cartão e 

Tropeçar pelo silencioso Inferno de minas matematicamente invisíveis:

Negro fogo de artifício que apaga as pegadas aquáticas

De vaidosos arco-iris intermitentes que podem brilhar

Excitados na assustadora lava de uma escuridão de brancura.

 
Querem chamar-lhe alma?

Para nós é a telenovela das marionetas,

Que escova violentamente os dentes caninos antes de adormecer.







João Paulo Guimarães, nasceu em V.N.Famalicão em 1987, licenciou-se em Línguas Modernas: Inglês e Espanhol na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 2008 e, de momento, encontra-se a escrever a sua tese de Mestrado em Estudos Americanos que se debruça sobre a obra poética do escritor norte-americano Don Van Vliet. Em 2009 frequentou duas cadeiras de Literatura Norte-Americana na University College Dublin. Para além de alguns poemas publicados na revista da Oficina de Poesia, publicou também um poema na revista da English Literary Society (UCD) e um artigo na Revista Crítica de Ciências Sociais (CES, Coimbra).

 


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