Fátima Almeida
Elaboração das noites sísmicas
Sapatos vermelhos sem cheiro
Bicudos no orifício da manhã
As cigarrilhas mestres da língua sem vírgulas
A velar pelos poros alfazema de mistura
Nos becos ornados a luas barolentas
Metades de alcatrão na garganta
Que grafam os largos passeios impotentes.
Uma cascata de sonhos trocados ao vício
Das horas surdas de anjos atómicos
A fracturar bagos de ossos quentes.
Motivo da incisão na placa do sono:
infância inverte
em contramão -
- os pés descalços da bailarina
Se inventasse personagens
Caberiam nas extremidades do verniz.
(construção sintáctica perfeita)
Escarlate.
(porque o vermelho está gasto)
Soariam de pé a aplausos de retina
E sem a asfixia das unhas
Acabariam forradas a metais preciosos.
Por isso nunca as encontraria a ciscar o chão
Onde deito os om
Depois disto:
Deixei de inventar a existência
Das coisas que atravessam a cabeça –
- sorvendo os corpos frios das noites.
Fátima Almeida, nascida na Guarda a um de maio de 1987, mas registada em São Martinho, uma pequena aldeia a cinco quilómetros de Seia, Serra da Estrela, terra onde cresceu e estudou até ao secundário. Depois de estar um ano em Lisboa a estudar Comunicação Social, mudou-se para Coimbra para estudar Jornalismo na Faculdade de Letras da UC. Participou no Curso de Livre da Oficina da Poesia e realizou workshops de escrita criativa com crianças. Teve ainda a oportunidade de fazer a cadeira de Poética e Escrita com a professora Graça Capinha. Nessa passagem por Coimbra escreveu ainda para o jornal universitário A Cabra. De volta a Lisboa, estagiou no Diário de Notícias, jornal com o qual colabora actualmente, sobretudo para o caderno País. Realizou ainda cursos de Televisão e Imprensa no Cenjor bem como uma pequena iniciação a Rádio. Actualmente frequenta o mestrado em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social (Instituto Politécnico de Lisboa).
E em Coimbra, tal como em Lisboa, fez e faz voluntariados na equipa de Rua de Apoio aos sem Abrigo e em explicações a crianças que estão em instituições. Porque como dizia o repórter polaco Ryzard Kapuscinksi (acento no S e no N) para ser bom jornalista há que ser boa pessoa.
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