Emiliana Cruz
escamas
e se os passos abafam o silêncio
e se o espelho engole a co
escamas espalhadas
recolhem as escadas de vidro
cuspindo os passos de sossego
e se o rasgo do vidro – poder ser o espelho íntimo
e se a vontade de engolir o espelho – na escada – onde o sentido se erige
se prendem na pele muda,
passos de co
deglutidos pelo espelho
porquanto
a porta entreaberta de salivas oculares
percepção permanente da estante alinhavada de prateleiras-
[-fome
são espaços de escrita
porquanto esse é o sítio onde nascemos, porquanto esse é o novelo que desenrolamos, porquanto esse é o retrato que ensaiamos e pelo qual passamos
dás-me espasmos de veludo. entretelas oleosas. a
o folículo do intervalo – as larvas fónicas que me segregam a
[voz
à espera que os fonemas se unam e se fundam
fatigados
porquanto o decoro é o cordel da dança dos corpos – hirto o horto de mim, porquanto o movimento das mãos é saliente, porquanto a silhueta é periférica, porquanto o ventre é obtuso
público endoidecido adentro de mim
. a mulher. a dança. a dentro.
ainda o texto
emiliana. cruz. 1978…
o verdadeiro advento e simultâneo embate poético deu-se aquando da entrada na OP. 1997.
posicionei-me e reposicionei-me na escrita e no mundo. na minha escrita e no meu mundo. medindo e medindo-me. como num remanescente pousio, a amanhar a terra num ritual infinito.
a divulgação da minha poesia tem sido feita pelas mãos generosas com que me fui cruzando (e muitas delas contribuíram também decisivamente para a definição da minha voz na escrita) quer na publicação nas variadíssimas, e felizmente já reconhecidas, Oficina de Poesia e em sites e blogs, quer na publicação do meu único livro (espaços) até ao presente.
como professora de língua, tenho arriscado inspirar os meus alunos e as minhas alunas a engajarem-se com as palavras. e, às vezes, a poesia acontece. com silêncio. com espaço. com liberdade.
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