Teses Defendidas

Interweaving an Emancipatory Human Rights Education in Brazil: The Learning Community of Paranoá

Vannessa Carneiro

Data de Defesa
15 de Março de 2024
Programa de Doutoramento
Human Rights in Contemporary Societies
Orientação
Teresa Cunha
Resumo
A presente tese buscou investigar em que medida as práticas pedagógicas desenvolvidas pela "Escola Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá/ Public School Learning Community of Paranoá" (CAP) podem contribuir para a construção de uma Educação em Direitos Humanos (EDH) emancipatória. Para isso, procurei tecer um estudo de caso único e aprofundado, realizado in loco na cidade satélite do Paranoá, Distrito Federal, Brasil, entre os anos de 2019 e 2020. Ao me aproximar da "descolonização das práticas", construí um tramado metodológico baseado num mae - que representa o caminho e a "pegada no solo" para os povos Yanomami (Davi Kopenawa & Bruce Albert) - que intencionou desmonumentalizar o conhecimento científico, utilizando-me de um tom pessoal, lírico e autobiográfico entrelaçado a saberes mestiços, híbridos e encantados e a propostas filosóficas, político-pedagógicas descoloniais (radicadas, inclusive, em outras matrizes cosmológicas). Dentre elas: as epistemologias do Sul de Boaventura de Sousa Santos, a Sociología de la imagen de Silvia Cusicanqui, o Entrecaminho de Gloria E. Anzaldúa, o Sentipensar de Orlando Fals Borda e o Corazonar de Edgar Patricio Guerrero Arias. Mobilizada na resposta de duas questões - 1. Como os conhecimentos vivenciais e afetivos auxiliam na construção do florescimento de narrativas de dignidade e de justiça social e cognitiva, por meio das práticas pedagógicas promovidas pela CAP?; e 2. Se as experiências educativas desenvolvidas pela CAP podem estar/ser relacionadas com a construção de uma EDH emancipatória? - realizei uma extensa pesquisa qualitativa que passou por três tipos de abordagens de estudo: descritiva, exploratória e prospectiva; e empregou distintas técnicas e métodos, tais como: observação participante (pós-abissal), diário de campo, rodas de conversa, grupos focais, oficinas e entrevistas abertas e semiestruturadas realizadas com crianças de 6 a 12 anos, além de educadoras/es e gestoras/es escolares, professoras universitárias, responsáveis legais das/os estudantes, artistas e lideranças locais, ativistas e funcionárias/os públicos/as de toda a comunidade escolar vinculada à CAP. Nesse contexto, foram produzidos distintos e variados materiais (que incluem áudios, desenhos, fotografias digitais e analógicas e vídeos), sendo todos esses dados (coletados e produzidos) analisados segundo a observação de padrões de repetição e de importância temática, por meio da construção de unidades de codificação e da criação de categorias de análise prévia. Estruturada em torno de quatro seções: Seção 0 "Iniciando Nossa Jornada" - expondo argumentações sobre como a tese pode ser lida e (com)partilhada; Seção 1 "O tramado da metodologia" - em que explora a experiência metodológica de construção da pesquisa por suas/seus sujeitas/os e a sua necessária autorreflexividade; Seção 2 "O (Re)conhecimento dos Direitos Humanos (e das suas violações) com/nas Comunidades e na Escola" - parte que discute o tema dos Direitos Humanos (DH) na concretude das lutas que serviram para a construção da atual comunidade do Paranoá e da CAP, refletindo sobre o tema "a partir do chão", até as distintas violências encontradas, nomeadas e interpretadas pelas crianças, especialmente em suas comunidades; e Seção 3 - "Sonhar, (Re)criar e Viver uma outra Educação Possível" - na qual intersecciono a questão da educação e classe, trazendo a história do sonho de Leila e do seu encontro com Caio, uma "criança problema" - que, na verdade, é mais uma "vítima" de uma educação voltada ao capital, que não o vê como um sujeito a ser acolhido e/ou educado -, articulando a importância de práticas pedagógicas como as da CAP, baseadas em valores como AMOR, RESPEITO, AUTONOMIA e RESPONSABILIDADE, com conceitos de DH apontados e discutidos no campo (como JUSTIÇA, LIBERDADE, DIGNIDADE e PAZ) na construção de uma outra/ nova educação. Por fim, indico que o objetivo geral foi alcançado, confirmando que as práticas pedagógicas desenvolvidas pela CAP podem sim contribuir para a construção de uma EDH emancipatória, na medida em que, como procurei demonstrar especialmente na Seção 3 - a partir da história do encontro entre Leila e Caio e das vozes e das produções das/os educandas/os e entrevistadas/os -; a emancipação está profundamente atrelada à promoção da igualdade nas diferenças, sobretudo a promovida pela valorização da equidade e da dignidade. E para isso, é essencial a implementação de práticas que assegurem o reconhecimento e o acolhimento das distintas e inegáveis diferenças e desigualdades existentes, auxiliando na construção de outras/ novas/ possíveis sensibilidades e saberes, que vão além da relação institucional, objetivando tocar profundamente o ser humano/ terrestre, a fim de estabelecer e fortalecer elos em construção e promover uma estreita, e holística, ligação educativa de compreensão e de cuidado consigo, com a/o outra/o e com toda a comunidade.

Palavras-chave: Comunidade de Aprendizado; Educação em Direitos Humanos; Epistemologias do Sul; Escola Pública; Experiências emancipatórias