Teses Defendidas

Pós-feminismo no Reino de Deus: poder feminino e feminilidade num contexto de mediatização da religião

Monise Martinez

Data de Defesa
1 de Junho de 2023
Programa de Doutoramento
Estudos Feministas
Orientação
Maria João Silveirinha e Adriana Bebiano
Resumo
A presente tese coloca-se na esteira de estudos que tem questionado as formas com que a midiatização pode ou não contribuir com a emergência de espaços comunicativos nos quais grupos de mulheres podem negociar os significados de suas identidades religiosas numa cultura secular e global. Compreendendo a midiatização como a articulação entre práticas sociais e o ambiente midiático em um determinado contexto histórico, social e político, a pesquisa toma transformações do campo religioso brasileiro relacionadas à sua midiatização como um elemento crucial para pensar as práticas comunicativas levadas a cabo por mulheres em posição de visibilidade e autoridade no ecossistema midiático do projeto-movimento Godllywood, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Posicionando-se epistemológica e metodologicamente nos Estudos Feministas, a pesquisa enquadra tais transformações numa temporalidade pós-feminista marcada pelos fenômenos de neoliberalização e hipervisibilidade dos feminismos, bem como de ampliação do antifeminismo no discurso brasileiro. No coração desta proposta está a ideia de que o ecossistema godllywoodiano opera como um «espaço intermédio» ambivalente e estratégico, com potencial para transgredir e reforçar o status quo - isto é, um espaço com sentido e função política, caracterizado pela união das dicotomias secular-religioso e público-privado, no qual um grupo de mulheres atua como meios-mensagens. Com vistas a analisar estas ambivalências, o método de análise do discurso é adotado tendo com o propósito de identificar os temas e as estratégias de linguagem mobilizados no ecossistema midiático Godllywood à luz da literatura sobre mulheres no pentecostalismo, a organização eclesiástica e a visão de mundo iurdiana, bem como as disputas pelo sentido de feminilidade no Brasil ao longo da última década. De natureza qualitativa, tal análise examina um corpus composto por quatro contextos interpretativos no âmbito do ecossistema godllywoodiano, identificando, neste fazer, três repertórios interpretativos associados às dinâmicas de aconselhamento e as tendências discursivas pós-feminista que o caracterizaram. Os repertórios evidenciam as tensões que permeiam a atuação dos referidos grupos de mulheres em torno das noções de poder feminino, subjetividade feminina e feminilidade a partir da construção discursiva de uma gramática pós-feminista espiritual que possibilita a existência do ecossistema enquanto um espaço no qual as mulheres desviam e reforçam papéis tradicionais de gênero desempenhando um papel político e formativo perante suas audiências femininas e, assim, disseminando a ideologia da IURD no discurso público. Essas evidências destacam a importância de Godllywood em tempos de neoconservadorismo, lançando luzes para pesquisas futuras sobre suas possíveis contribuições para o estudo do antifeminismo no Brasil, bem como para o desenvolvimento de novas pesquisas no âmbito dos estudos sobre midiatização, gênero e religião em tal contexto.

Palavras-chave: Pós-feminismo; Antifeminismo; Feminilidade; Neoliberalismo; Midiatização; Religião; Neopentecostalismo; Godllywood Brasil