Apresentação
O foco temático deste programa incide na questão das linguagens, recebendo particular destaque o tema do silêncio – para melhor pensarmos as práticas sociais contemporâneas: o silêncio como linguagem e/ou como uma linguagem; os silêncios que, seletivamente, deixam de o ser, deixando-se que outros permaneçam; o silêncio como excesso em que o não-dito, o interdito, o inaudito permanecem; o silêncio dos vencidos e o silêncio dos vencedores; o silêncio como alternativa política e social, mas também como alternativa epistemológica. No jogo entre linguagem e silêncio se constrói, socialmente, aquilo a que chamamos “real”: a história, a literatura, as identidades, todas as práticas sociais com que nos deparamos num mundo nunca antes tão transnacionalizado.
A literatura e os Estudos Anglo-Americanos oferecem-nos um espaço privilegiado para observar vozes que têm o poder de se fazer ouvir – num mundo em que o poder hegemónico tem uma língua, o inglês, e/ou uma ideologia tornada dominante por muitos meios (desde o mercado aos media, à cultura e à arte). Mas a literatura e os Estudos Anglo-Americanos oferecem-nos, paradoxalmente, também a possibilidade de observar as vozes que, no centro desse poder (ou nas suas margens, que, contudo, fazem, para nós, parte desse centro ainda), não conseguiram fazer-se ouvir hegemonicamente, porque, mesmo em inglês, as suas linguagens eram outras.
Ocupando-se de domínios da história da cultura e da ciência, dentro de uma perspetiva transdisciplinar vinculada a um âmbito cronológico que transcorrerá sensivelmente entre os finais do século XIX e a atualidade, a História aborda correntes de pensamento, processos de reflexão metodológica, práticas culturais e diferentes experiências nos campos da produção literária, das artes figurativas e multimédia, e da cultura de massas. Também esta área se mostra particularmente vocacionada para o reconhecimento histórico e a abordagem analítica e interpretativa dos processos de representação que, no mundo contemporâneo, visam suscitar a conceção de modelos alternativos aos dominantes e a participação em processos de mudança e de rutura no domínio das iniciativas culturais, dos projetos políticos e do desenvolvimento científico e tecnológico.
Finalmente, a Sociologia, seguindo esta esteira, observa a relação das diferentes linguagens com a capacidade e/ou possibilidade de exercer direitos e deveres em sociedade, quer de uma perspetiva política – no exercício de direitos de cidadania através da participação e/ou governação –, quer de uma perspetiva epistemológica que, contudo, não pode nunca deixar de ser social e política – no uso e autoridade de cada forma de conhecimento e, mais do que isso, na possibilidade ou não de procurar formas/linguagens outras de conhecimento. Quais as linguagens que ficam dentro e quais as linguagens que ficam fora da negociação política e social? Quais as hierarquias dos saberes e quais as formas de participação que lhes são permitidas? Quais os silenciamentos e quais os porquês desses silenciamentos?
Objetivos
1. Desenvolvimento de capacidades para obter e oferecer à comunidade conhecimentos especializados nos domínios dos Estudos Anglo-Americanos, da História e das práticas sociais contemporâneas, nomeadamente no âmbito (a) da análise de texto, (b) do reconhecimento crítico das representações contemporâneas do passado e (c) do exercício de direitos e deveres em sociedade.
2. Desenvolvimento de uma perspetiva política (sobre o exercício dos direitos de cidadania, nas linguagens da participação e/ou da governação), bem como desenvolvimento de uma perspetiva epistemológica (necessariamente histórica, social e política) que abordem de modo crítico (a) o uso e a autoridade de cada forma de conhecimento e, mais do que isso, (b) a procura de outras formas/linguagens e heterodoxias, presentes na sua ausência ou emergência.
A literatura e os Estudos Anglo-Americanos oferecem-nos um espaço privilegiado para observar vozes que têm o poder de se fazer ouvir – num mundo em que o poder hegemónico tem uma língua, o inglês, e/ou uma ideologia, tornada dominante por muitos meios (desde o mercado aos media, à cultura e à arte) que nos trouxeram às consequências últimas da globalização. Mas a literatura e os Estudos Anglo-Americanos oferecem-nos, paradoxalmente, também a possibilidade de observar a heterodoxia das vozes que, no centro desse poder (ou nas suas margens), não conseguem fazer-se ouvir hegemonicamente, porque, mesmo em inglês, as suas linguagens foram, e são, outras – ficando quase sempre silenciadas: as vozes das mulheres, as vozes do exílio e da emigração, as vozes que não podem impedir-se de ter outras visões do mundo, as vozes que procuram e exigem outras visões do mundo.
A História cultural contemporânea aborda correntes de pensamento, processos de reflexão metodológica, práticas culturais e diferentes experiências nos campos da produção literária, das artes figurativas e multimédia, e da cultura de massas. Também esta área se mostra vocacionada para o reconhecimento histórico e a abordagem analítica e interpretativa dos processos de representação que visam suscitar a conceção de modelos alternativos aos dominantes e a participação em processos de mudança e de rutura no domínio das iniciativas culturais e dos projetos políticos. Apontando para o estudo objetivo das heterodoxias e dos atos de silenciamento e para a emergência de um discurso social que se aplica a sonegar uma parte do passado ou, pelo contrário, a procurar resistir a este processo, observam-se as condições de representação e de autorrepresentação histórica das minorias, das vozes singulares e dos excluídos, bem como as formas e lugares da resistência e alternativa.