Gender workshop

Problematizar o terceiro gênero: quando a transexual nativa e a travestilidade à brasileira chegam à Europa

Fernanda Belizário (CES)

25 de fevereiro de 2016, 17h00

Sala 2, CES-Coimbra

Resumo

O estudo de grupos transgêneros em sociedades não-ocidentais passa, inevitavelmente, pela problematização do termo Terceiro Gênero, cunhado por M. Kay Martin e Barbara Voorhies em 1975, apresentado como um conceito heurístico que trouxe à tona a inconformidade dos padrões binários de gênero e sexualidade para se interpretar culturas não-ocidentais.

Seguindo os estudos feministas a partir da década de 1980 e o fortalecimento político do movimento transgênero pela ampliação dos direitos sexuais, para Towle & Morgan (2002) falar em Terceiro Gênero poderia tanto fortalecer projetos emancipatórios de desmantelamento dos binarismos de gênero e sexualidade, incluindo esses grupos em uma mesma comunidade imaginada, como reforçar a exotização de grupos não-ocidentais, tratando-os como estáticos, originários ou prototransgêneros: um entendimento monocultural da história que relegaria grupos não-ocidentais ao passado em contraponto ao dinamismo da modernidade ocidental, uma roupagem west and the rest já muito conhecida e criticada nos estudos pós coloniais.

Neste sentido, propomos apresentar (a) como as interpretações ocidentais sobre as travestis brasileiras (mulheres transexuais trabalhadoras sexuais) justificaram um conjunto de saberes que vem sendo contestados, tendo come base de crítica o estudo clássico de Don Kulick (1998). E (b) quais as repercussões dessas análises para o auto-reconhecimento, demandas subjetivas e políticas destas sujeitas quando imigram para a Europa, momento em que são mais objetivamente confrontadas com a leitura ocidental de sua identidade, seus desejos, problemas e estratégias de empoderamento.

Obras mencionadas no texto:

Kulick, Don (1998), Travesti: Sex, Gender, and Culture among Brazilian Transgendered Prostitutes, University Of Chicago Press.

Towle, Evan B. & Lynn M. Morgan (2006), ‘Romancing the Transgender Native: rethinking the use of the “Third gender” Concept’, in Stryker, Susan and Stephen Whittle (eds.), The transgender studies reader, New York: Routledge, 666-84.

Sugestões de leitura:

Towle, Evan B.; Lynn M. Morgan (2006), “Romancing the Transgender Native: rethinking the use of the Third Gender concept”, in Susan Striker; Whittle Stephen (orgs.), The Transgender studies reader. New York: Routledge, 666-684. [Para ter acesso aos artigos em discussão deverá enviar um e-mail para gw@ces.uc.pt]


Nota Biográfica

Fernanda Branco Belizário é licenciada em Comunicação Social e Ciências Sociais ambas pela Universidade de São Paulo, é mestra em comunicação social pela ESPM-SP e atualmente é doutoranda em Pós Colonialismos e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra sob a supervisão das professoras Catarina Martins e Ana Cristina Santos. Seu trabalho pretende analisar a experiência das travestis brasileiras na Europa tendo como contexto a articulação das teorias pós coloniais e decoloniais com os estudos transgêneros e a teoria queer.