Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal

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Sherryl Robbins







Partindo de Sandia 12

                               Imitação de Whitman

 

passeei o passeio da manhã na Florida

e ouvi o pássaro mímico

cantar

                        como o pintarroxo

                        o cardeal

                        o chapim


cantar

                        como um telefone a tocar

                        o rapaz baloiçando a bola de basquete no quintal

                        a carrinha dos gelados


cantar

                        como a nuvem trovejante

                        como o pulo do salmonete

                        cantar como a lua, a boca escancarada

                        cantar o pássaro-fêmea até o ninho

                        afastando outros pássaros dali


cantar

                        para confundir o norte

                        cantar para os mortos

                        e para os pássaros

                        ainda dentro dos seus ovos.
















A Caçada – Primeiro Dia

 

 As águas rebentam

e ali ela ofega

suavemente pelo rio abaixo.

Sozinha de novo

como em menina

mas embalada por âncoras internas

nunca visitadas.

Verdes-de- selva

e rosas quentes

pulsando puxando-

me para den den

dentro do barco

do meu corpo

numa espiral que se aperta suave

até à fonte

o coração da luz

e trevas

para encontrar o inconcebível

ela/não ela

concebido ali

e expulsando

na  direcção

oposta dupla hélice

agitando um remoinho

de compulsão

interior

com os primeiros

sinais surdos de dor

roendo as

bordas extremas

desta zona terrível.

E pássaros, pássaros

em círculos mesmo acima

da curva como aviso

mesmo antes

de revelada

o grande deus

e de rasgar com os dentes o barco

em dois.

 

 

 

 

Sherry Robbins é poeta e artista docente. Desde 1977 que organiza e coordena oficinas de escrita criativa no Estado de Nova Iorque e no estrangeiro, tendo em 2005 recebido o título de New York State Teaching Artist of the Year. É presentemente consultora de artes no ensino da Universidade de Coimbra e do Centro de Belgais para o Estudo das Artes. Como proprietária da Orchard Press e co-proprietária da Weird Sisters Press, possuía uma tipografia artesanal (sistema de prensa, linótipo) com a qual criou a sua pequena editora, tendo também trabalhado para outras editoras locais. Tem dois folhetos de poesia, Snapshots of Paradise e Or, the Whale, bem como a edição integral de Or, the Whale recentemente publicada pela Blazevox books, e ainda dezenas de poemas publicados em antologias e revistas literárias nos Estados Unidos e em Portugal e Espanha como Earth’s Daughters, Salmagundi, Denver Quarterly and Poets at Work.

 

 

 

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