Mónica de la Torre
Comunidade murada
1.
Como um soldado ferido em combate
Ganhei o direito à paz e ao sossego.
A minha Chihuahua tem dentes pequenos como os Viet Comes.
Chegas-te ao pé dela e ela recua,
É quando te afastas que ela ataca.
A sacaninha manhosa.
BENVINDO À CASA DO TERROR.
Canalha.
2.
Fiz jogo psicológico com ele.
Disse que um reles filho da puta qualquer tinha comido todo o peixe do lago.
Não me chames isso, disse ele.
Disseste que não tinhas estado a pescar, disse eu.
São uma corja de mentirosos, podes crer.
Muy bonita su pelo.
3.
Estava a olhar pela janela quando o ouvi ao meu lado a abrir o fecho das calças.
O meu olhar fixou-se no cabelo meio pintado quando lhe fiz pontaria à cabeça com a carteira.
4.
Paguei vinte dólares para lutar com um urso.
Trezentos pela ambulância que me levou às Urgências.
9.
As Memórias Movendo-se.
“Recua no tempo.”
Memórias: Tens tempo para parar.
Inverte a Marcha.
Quadro mental
Como se a linguagem tornasse a imagem legível,
e credível, não comestível, apesar de o consumo
ser… Já sabemos –
consumimos já consumo que chegue
e cansámo-nos
do ambiente hostil
do ambiente.
As pessoas lêem o jornal de manhã –
à noite voltam-se para as ficções.
Que tipo de sonhos
é que inverter este simples hábito
precipitaria.
Fala a linguagem
do que fora até agora
deixado por dizer.
E poupa-nos os exemplos.
Já os vimos antes.
E falando de compromisso –
A memória é um asilo, um sonho que tentamos decifrar
Enquanto ainda dormimos.
A piada que ela estraga
Sempre que tenta contá-la bem.
Mónica de la Torre é autora das obras Talk Shows (Switchback, 2007), Acúfenos, uma colectânea publicada na Cidade do México (Taller Ditoria, 2006) e Public Domain (Roof Books, 2008). É co-organizadora da recentemente publicada antologia de escrita pós-Latino Malditos latinos, malditos sudacas: Poesía hispanoamericana Made in USA (Billar de Lucrecia, 2010) e detém o título de 2009 NYFA poetry fellow. Também é tradutora e ensaísta, sendo editora principal da BOMB Magazine.
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