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Miguel Alves dos Santos
Brasil (entrevista de Marcelo Gomes Justo)
Miguel Alves dos Santos, um ativo membro do Movimento dos Sem Terra (MST), nasceu em 1944 em Tabaiana Grande, estado de Sergipe, filho de lavradores. Está atualmente casado com Cida. Seu pai já lhe falava em socialismo. Em 1962 entrou para o exército, acreditando num país mais justo. A quando do golpe militar de 1964, era sargento do exército, tendo sido preso, acusado de ser comunista. Sofreu torturas e ficou recluso junto com outros colegas, fato que o levou a migrar . De volta ao Brasil, trabalhou por vinte e dois anos como metalúrgico em indústrias automotivas. Durante a década de 70 foi militante de um grupo socialista trotskista na clandestinidade. Posteriormente participou do movimento sindical que deu origem ao Partido dos Trabalhadores (PT), 1980. Considerado agitador político, perdeu empregos. Vivendo na rua, foi através da Rede Rua que entrou o MST e conseguiu ser assentado. |
Excertos
P - Miguel, na semana passada a gente ficou conversando, aqui, e você contou sua trajetória...
Miguel A. Santos - A gente tem uma estrada que tem que cumprir. Quando se é uma pessoa realista, socialistas sérios, nós sabemos que vamos passar por diversas dificuldades. E infelizmente no nosso país hoje quem trabalha em cima do socialismo é condenado. Porque o socialista não aceita a corrupção. É uma pessoa que quer ver todos iguais, cada um com seus direitos iguais. O socialismo não é uma pessoa que quer ver alguns de barriga cheia e outros morrendo de fome, mendigando na rua. Então, o meu problema, a minha vida, toda minha vida foi essa, de lutar.
(...) Naquela luta de [19]80 se iniciou a abertura de um partido, o Partido dos Trabalhadores. Tinha que se formar um partido porque... não tinha um movimento popular para lutar pela classe trabalhadora. (...) Entrei na Mercedes e fui mandado embora, entrei na Ford e fui mandado embora...(...) Eu não tinha emprego, não tinha casa para morar. (...) O último emprego meu, praticamente, foi quando eu vim para os "sem terra", que eu arrumei um serviço lá na limpeza de rua... temporariamente.
P- O que é essa realidade na prática que você refere?
MAS - A realidade na prática é um direito... Todos têm o direito de ter seu emprego, para viver às custas dele, todos têm o direito de ter sua casa própria. Todos os brasileiros tanto ricos como pobres. Todos os brasileiros têm direito de ter sua condução própria. É um dever adquirido, para os governos brasileiros que tiverem vergonha na cara, cumprirem esse papel.
Então, eu acho que esse direito é um direito que nós não podemos tirar dos nossos companheiros. Não podemos tirar o emprego, a casa própria, o lazer, o estudo. O máximo que puder dar tanto para o rico quanto para o pobre. A saúde (...) Na educação nós andamos rastejando, na saúde pior. Saúde quem tem é a burguesia. Educação quem tem é a burguesia.
Vim para o Movimento Sem Terra, vim com um papel. O meu papel foi para ficar internamente lutando com o Movimento Sem Terra. Tirei uma conclusão comigo: ‘eu já estou velho, estou sendo discriminado para o trabalho, então vou para lá só para conseguir meu pedacinho de terra, entrar e ficar quieto. Parar’. Não tive apoio de ninguém, então se Deus me ajuda e eu consiga esse apoio, pelo menos um pedaço de terra, vou parar, vou fazer minha casinha e ficar quietinho. Mas não. Cheguei e quando eu comecei, um mês, comecei a ver que o Movimento Sem Terra, não é um movimento de só pegar um pedacinho de terra e ficar quieto. O Movimento Sem Terra é um movimento de luta, é um movimento de classes, luta de classes, que não chama você para uma terra, para um pedaço de terra. (...) Quando eu falo luta é que todos os brasileiros têm direito a reivindicar seus direitos. A luta significa o quê? A casa, o teto para você morar, a terra para você plantar, produzir, viver a sua vida às suas custas sem depender de ninguém. Você lutar pela sua educação, corretamente, lutar pela saúde, dignamente, lutar pela liberdade socialista séria, que é o respeito que nós temos para todos, lutar contra constituições no Brasil, nós somos contra. O Movimento Sem Terra é um movimento de luta de classes. Ter esse carinho e lutar, porque esse é um carinho lutar contra isso, porque está se criando uma raiz, veias de uma comunidade melhor no Brasil. Uma sociedade modificada de respeito, de classes... Porque se nós lutamos contra esses processos sujos, imundos, nós estamos querendo o quê no Brasil? Nós não estamos querendo tumulto, não estamos querendo poder de ninguém. Estamos querendo, sim, a verdade, uma democracia séria. Porque nós estamos lutando contra todo esse papel e também contra a discriminação., contra a discriminação de cores e idades. Saber respeitar. Se jovens até os cem anos de idade; a cor, não interessa, pode ser preto, pode ser branco. Somos todos iguais. Isso é importante. O Movimento Sem Terra tem esse brilho, tem esse caráter de liberdade. Então, é por isso que eu vim para Movimento Sem Terra, com um destino... Para uma coisa que vinha depois, que me destinou a voltar aquele novo processo de antigamente, lutar junto, me entregar com aliança junto, que era aquilo que eu sempre quis: ‘vencer, vencer’. Lutar para vencer. Para ver os nossos filhos, nossos netos, nossos companheiros dando risada. Abrir um lar, ter aquele lar viçoso com barriga cheia, com saúde e com educação. Trazer harmonia, porque harmonia não é só levar ele para a mentira. Harmonia é dar a ele o que ele necessita: que é belos estudos, a educação, a saúde, o lazer, todo mundo ser respeitado. Eu acho que isso é uma coisa que nós devemos um para o outro.
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