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Poder político e protagonismo feminino
Maria Conceição Osório - Moçambique

O acesso da mulher ao poder político deve ser analisado, independentemente de outros constrangimentos, na sua relação com o modelo social que se sustenta e se reproduz pela e sob a androcracia. Esta, penetrando nas relações sociais entre homens e mulheres aparece como fundadora da desigualdade de género. Para além de todas as desigualdades tipificadas nas classes sociais, que aparentemente impedem uma homogeneização da condição feminina, a subalternidade da mulher é uma invariável das relações sociais de género.

Este capítulo analisa o acesso ao poder político da mulher em Moçambique e fá-lo, tendo em conta, em primeiro lugar, o contexto mundial em que o acesso ao campo político por parte das mulheres é condicionado, pela maior ou menor "flexibilidade" do modelo (dependendo em alguns casos da capacidade que este tem de absorver e condicionar a luta das feministas) e, em segundo lugar, o quadro dos movimentos periféricos que, introduzindo-se no campo político, procuram subvertê-lo através de uma nova prática de viver e pensar o poder.

Se em Moçambique o acesso e a ocupação do campo político são igualmente condicionados por relações sociais de poder que "desigualizam" a mulher, existem um conjunto da factores que influenciando a lógica da dominação feminina permitem o surgimento e a visibilidade de alternativas ou pelo menos de contestação ao modelo social.

Assim, o capítulo explica como os elementos de conflitualidade aos vários níveis da realidade social e política, influem o surgimento de três formas diferenciadas de ocupação do campo político.

Em primeiro lugar, há um grupo de mulheres que se adaptam ou procuram adaptar- se às regras, às hierarquizações e à estrutura partidária, conformando-se com a superioridade masculina e com posições subalternas. Conservadoras, quando confrontadas com possíveis alternativas para o campo político, nomeadamente no que se refere ao exercício de direitos, estas mulheres abrigam-se sob a protecção do juízo e da acção masculina.

A adopção das regras do jogo político caracteriza um segundo grupo de mulheres líderes. Caracteriza- as um discurso profundamente masculinizado, profissionalizado e conflitual. Para este grupo, a competência para o exercício do poder é o critério orientador; as relações sociais de género e a discriminação da mulher são um problema que consideram solucionado, na medida em que as leis garantem, ou podem vir a garantir, os direitos humanos. Uma terceira forma de exercício de poder corresponde a uma subversão por dentro do poder. Reivindicando o direito de acordar o privado e o público, rompendo com a rigidez e a classificação dos papéis e das estruturas, elas fazem e refazem o caminho entre a família e o partido; assumindo- se como diferentes, elas transferem para o campo político a emoção e o diálogo.

No entanto estas formas diferenciadas de pensarem e viverem o político não podem servir para uma compartimentação rigida da ocupação do espaço político. A categorização é resultado de uma tentativa de encontrar tendências comuns face ao modelo de organização política e à especificidade moçambicana, sendo interessante constatar, por exemplo, que se a fragilidade e instabilidade das instituições democráticas condiciona a inclusão da diversidade, as características particulares do país permitem abrir novas perspectivas no que se refere ao surgimento de alternativas à prática democrática, protagonizadas pelas mulheres.

 
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