Reacender a imaginação cívica para a mudança social
EXPOSIÇÃO VIRTUAL
We have an obligation to imagine.
It is easy to pretend that nobody can change anything, that we are in a world
in which society is huge and the individual is less than nothing: an atom in a wall, a grain of rice in a rice field.
But the truth is, individuals change their world over and over,
individuals make the future, and they do it by imagining that things can be different.
«Neil Gaiman: Why our future depends on libraries, reading and daydreaming»
Imagem de fundo © Gabriella Clare Marino / Unsplash
Trabalhos de:
Andressa Bissolotti dos Santos
Andrea Martins
Beatriz Gonçalves
Catarina Pratas
Isabella Alves
Manuel Maria Costa
Maria José Costa
Marta Ferraz
Mayalu Matos
Renata Motta
Tiago Mindrico
Curadoria de:
Rita Alcaire
Comissão Organizadora da Escola:
Rita Alcaire
Olga Solovova
Júlia Garraio
Ana Raquel Matos
A Escola de Verão CES ‘Reacender a imaginação cívica para a mudança social’ teve como mote a pesquisa sobre a imaginação cívica e justiça social criativa (Jenkins et al. 2020) e as interseções que cria entre humanidades, ciências sociais, artes e participação sociopolítica. Nasceu também da forte convicção de que a disrupção e a inovação no conhecimento chegam por várias vias e em diversos formatos. Celebradas quando se vestem de novos conceitos cunhados em texto académico, podem (e devem!) significar outras formas de olhar e de fazer.
E foi o que aconteceu ao longo da Escola de Verão numa semana desafiante e intensa, de sessões teóricas, mesas-redondas, oficinas e um programa cultural que versaram sobre questões como a crise económica, as alterações climáticas, a saúde mental e a diversidade sexual e de género, entre muitas outras que nos desafiam no mundo contemporâneo. Docentes e participantes debateram o que podem ser os futuros cívicos e como fortalecer as pontes e a confiança entre a academia, as artes e os movimentos sociais.
Como resultado, onze pessoas de diferentes jornadas pela vida (pessoal, profissional, académica, artística e ativista) exploraram caminhos para o futuro através de diferentes meios: vídeo, desenho digital, áudio, texto manuscrito. Apresentaram as suas reflexões no último dia da Escola. Nelas, em modo ‘do it yourself’, sem se arrogarem a qualquer tipo de polimento e perfeição técnica, dão-nos a conhecer a sua voz (com ruído de fundo e latidos de cão), os seus retratos (desfocados) ou as suas emoções (sem filtro) enquanto agentes de mudança cívica para reimaginar como vivenciamos a liberdade, o respeito e a democracia em momentos desafiadores em que esses direitos parecem cada vez mais ameaçados.
Em simultâneo, estes trabalhos deixam claro como estes meios de expressão podem ser linguagens poderosas para o pensamento crítico e talham novos (e velhos) caminhos para a comunicação de ciência social.
Cada pessoa reflete sobre o futuro contando a sua história. Cabe a cada um/a de nós ligar pontos e atar pontas na nossa própria história.
Esperamos que a curadoria feita a estes trabalhos seja respeitosa do que queriam transmitir.
Rita Alcaire
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Sobre imaginar um "planeta social" no (ainda) pandêmico ano de 2021
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Um pequeno exercício de reflexão sobre um amanhã longínquo e sobre um presente muito diferente daquele que tinha imaginado. Mais do que uma visão sobre o futuro, é um curto desabafo sobre as ansiedades do presente.
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A principal motivação para a criação da obra foi a tentativa de conciliar os principais temas discutidos na Escola de Verão com o poema “Poeme-se” de autoria desconhecida, buscando trazer uma reflexão de como nossas mudanças individuais podem contribuir para uma transformação social através da arte.
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Essa obra é fruto do desafio de imaginar futuros justos e dignos quando o presente insiste em reiterar a violência, a desigualdade e a opressão. Imaginar é um ato transgressor. Sem imaginação não há transformação.
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Depois de um período de reflexões, discussões e partilhas, a incerteza toma lugar e aquilo que resta é uma esperança depositada em palavras. Uma carta da autora para si, para o ano de 2070, pois as dúvidas e questionamentos necessitam de ser depositados neste suporte, a carta para o futuro.
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Breve reflexão a título projetivo de um futuro criado a partir do presente. Narrativa poética que tenta ilustrar um momento no futuro em que existe um melhor entendimento e aceitação da diversidade psíquica dos indivíduos, em que esta não é vista, nem sentida, como um défice, mas sim dando ênfase ao potencial humano.
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Palavras de um certo otimismo cético para um futuro que se deseja justo e inaudito
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Ao chegar ao seu 30.º aniversário, Manel Maria questionava o possível alcance dos seus planos e esforços a longo prazo. Uma carta de si próprio chega-lhe do futuro, a desvendar um pouco do que se passará entretanto na vida e na sociedade.
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No texto construído por associação livre, busco refletir de onde vem a dificuldade que possuímos de imaginar os futuros que queremos. No processo, fluem uma série de desejos abstratos e procuro elaborar a dificuldade de torná-los mais concretos. Ao final, parece-me que a utopia exige de fato o exercício de imaginar o futuro, enquanto as distopias surgem como meras alegorias do que tememos no presente.
Agradecimentos:
Esta exposição não teria sido possível sem a contribuição de muitas pessoas, tais como cada membro do corpo docente da Escola de Verão, dinamizadoras e participantes das mesas redondas (saúde mental, artes e cultura e alterações climáticas). Ao professor Henry Jenkins pela excelente keynote e a toda a equipa do ‘Civic Imagination Project’ que, desde o primeiro contacto, foram de uma generosidade imensa, partilhando materiais e metodologias e deixando a porta aberta a novas colaborações. Que elas não tardem (antes de 2070, certamente)!
Uma palavra especial de apreço à Inês Costa pelo constante apoio durante a realização da Escola e infinita paciência para dar resposta a todas as questões que lhe colocamos (ininterruptamente). Ao Alberto Pereira por ter traduzido a nossa visão nesta Exposição que agora se dá a conhecer e à Rita Grácio por toda a amizade e consultoria artística, sem que o dever a chamasse.
Ao longo da Escola, uma palavra repetiu-se: gratidão. É essa que expressamos a cada participante e a quem escolheu fazer estas reflexões sobre o futuro: pela inquietação e inspiração, pelas partilhas poderosas e pelos intensos debates ao longo de cada sessão, workshop, mesa redonda. A verdade é que perduram (em nós) até hoje.