We all – adults and children, writers and readers – have an obligation to daydream.
We have an obligation to imagine.
It is easy to pretend that nobody can change anything, that we are in a world
in which society is huge and the individual is less than nothing: an atom in a wall, a grain of rice in a rice field.
But the truth is, individuals change their world over and over,
individuals make the future, and they do it by imagining that things can be different.
«Neil Gaiman: Why our future depends on libraries, reading and daydreaming»
[Imagem © Gabriella Clare Marino / Unsplash]
A ‘Imaginação cívica’ refere-se à capacidade de imaginar alternativas às condições culturais, sociais, políticas e/ou económicas contemporâneas. A pesquisa sobre a imaginação cívica (Jenkins et al. 2020) tem criado um espaço onde as humanidades se encontram com as ciências sociais para, juntas, explorarem as consequências sociopolíticas das representações culturais e as raízes culturais da participação política. Nesse processo, cria-se a necessidade de (re)pensar a nossa voz enquanto agentes políticos de mudança e a forma como entendemos e sonhamos as relações com outros/as, humanos e não humanos, e com o planeta Terra; e de reimaginar como vivenciamos a liberdade, o respeito e a democracia em momentos desafiadores em que esses direitos nos são negados.
O processo de tomada de decisão na investigação científica tem acontecido, de forma sistemática, fora da arena pública, com consequências indesejáveis na produção de conhecimento e criação de desconfiança na relação com diferentes grupos da sociedade. A comunicação de ciência e a ciência cidadã têm-se revelado fatores-chave na busca de novas formas de aproximar a ciência a diferentes comunidades, designadamente através de iniciativas em que investigadoras/es e públicos possam aprender mutuamente por meio da cooperação. Debates públicos, fóruns de discussão e o envolvimento das comunidades estudadas têm sido alguns dos mecanismos acionados para mitigar a transmissão vertical de informação e favorecer a participação pública, envolvendo diferentes agentes e combatendo a lacuna de conhecimento entre academia e sociedade em geral.
As últimas décadas têm sido marcadas por profundas alterações na paisagem social, política e económica, em diferentes contextos culturais e geográficos, acompanhadas por um alargamento e domínio das redes sociais que vieram alterar dramaticamente as sociabilidades, a construção e distribuição do conhecimento e, consequentemente, a ação coletiva. Os media e a pop culture desempenham um papel ativo fundamental neste cenário, com as faixas mais jovens a adotar metáforas políticas retiradas de sagas cinematográficas e literárias, assim como da música, recursos que nos inspiram a lutar por um mundo melhor. Dessa forma, grupos de diversas geografias e pertenças têm procurado comunicar as suas visões do mundo através da expressão artística, usando a pop culture como uma linguagem capaz de mapear trajetórias passadas e futuras que ajudam a imaginar e criar alternativas ao presente por vezes distópico.
A CES Summer School “Reacender a imaginação cívica para a mudança social” pretende debater o que podem ser esses futuros cívicos e fortalecer as pontes e a confiança entre a academia, as artes e os movimentos sociais. Baseando-se em diversos exemplos que enquadram diferentes funções que a imaginação cívica pode desempenhar, em contribuições teóricas interdisciplinares e em trabalho empírico interseccional sobre diferentes áreas do saber, este programa pretende discutir e analisar:
- O comportamento da população no contexto da crise económica e social dos últimos anos a partir da ação coletiva pelo protesto. Neste contexto, particular atenção será dada aos recursos discursivos enquadrados por esta forma de ação coletiva, projetando os principais imaginários que essas narrativas abarcam. Ainda neste âmbito, a ação coletiva pelo protesto é discutida como estratégia legítima de pressão e imaginação sobre a mudança apresentada como forma convencional de participar nos projetos coletivos do país.
- A procura ativa de agência e da voz pela justiça social no espaço público pelos jovens, expressa através de inscrições gráficas, flashmobs, cultura hip hop, mas também dos novos media e formatos (e.g.: memes), incluindo na reivindicação de direitos de “cidadania linguística”, pela descolonização de multilinguismo e da educação e pela construção de conhecimentos alternativos de futuro.
- O papel dos media como (re)produtores e normalizadores de imaginários de violência sustentados por noções de masculinidade hegemónica e simultaneamente como espaço de grande potencial para a desconstrução desses mesmos imaginários e para a negociação de noções de masculinidade mais consentâneas com a igualdade de género e a transformação social.
- O ativismo em rede de fãs, os seus usos de tecnologias e discursos, na intersecção da participação cultural e política, percebendo o seu impacto na ação coletiva contemporânea. Fãs são aqui entendidos/as como intérpretes e criadores de conteúdo (não apenas consumidores de media), vivendo numa cultura que remistura e reconstrói narrativas e interagindo com as indústrias culturais e criativas de forma profunda. A relação dos jovens com a tecnologia transformou os seus discursos, relacionamentos interpessoais e a forma como participam em diferentes comunidades, como usam mediums, no sentido lato, e reivindicam direitos (e.g. alterações climáticas).
Estrutura da Escola de Verão: cinco dias com sessões teóricas, mesas-redondas, oficinas e programa cultural. As sessões da Escola de Verão decorrerão em português e em inglês.
Keynote speaker
Henry Jenkins, University of Southern California (Estados Unidos da América)
Equipa docente:
Ana Raquel Matos, Faculdade de Economia e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Dora Fonseca, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Fernanda Belizário, Agência Piaget para o Desenvolvimento/Research in Education and Community Intervention (APDES/RECI)
Haley De Korne, University of Oslo (Noruega)
José Manuel Mendes, Centro de Estudos Sociais e Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Quentin Willliams, University of West Cape (África do Sul)
Rita Alcaire, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Rita Grácio, CICANT - Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias, Universidade Lusófona
Rodrigo Lacerda, Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA) / NOVA FCSH
Simone Eringfeld, Cambridge University (Reino Unido)
Sofia José Santos, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Tatiana Moura, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra/Instituto Promundo
Mesas redondas:
Carlota Houart, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Paula Abreu, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Rita Alcaire, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Público alvo: Estudantes de mestrado e doutoramento, agentes culturais, artistas e ativistas.
Valor da inscrição: 50€
Candidaturas: Candidatas/os à Escola de Verão devem enviar uma nota biográfica (até 300 palavras) e uma carta de motivação (até 700 palavras) que dê conta das razões por que gostariam de frequentar esta Escola, de como o tema se encaixa nos seus interesses e de que forma enriqueceria o seu conhecimento, assim como descrever como a sua participação poderia contribuir para a discussão do grupo. As candidaturas devem ser submetidas [AQUI] até às 24h de dia 4 de abril. Para qualquer dúvida ou informação adicional deve ser usado o endereço de email civicimagination@ces.uc.pt
Datas importantes:
4 de abril - data limite para submissão de candidatura
18 de abril - seleção de participantes;
1-14 de maio - inscrição e pagamento.
Comissão Organizadora/Coordenação: Rita Alcaire, Olga Solovova, Júlia Garraio e Ana Raquel Matos.