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Nº 45
Maio de 1996
Número não temático
ISSN 0254-1106 e ISSN eletrónico 2182-7435
Boaventura de Sousa Santos
  A queda do Angelus Novus: para além da equação moderna entre raízes e opções  (pp. 5-34)
 Através de um percurso pela narrativa da modernidade, conclui-se que a equação moderna entre raízes e opções, com que aprendemos a pensar a transformação social, está a passar por um processo de profunda e aparentemente irreversível desestabilização. Partindo das teses sobre a filosofia da história de Walter Benjamin, configuram-se quatro essenciais imagens desestabilizadoras que condensam os perigos do presente— o sofrimento humano, o epistemicídio, o apartheid global e a tragédia dos comuns. Para sobreviver com dignidade a esses perigos, torna-se indispensável imaginar uma outra narrativa, para a qual se propõem quatro orientações — o conhecimento-emancipação, a hermenêutica diatópica, o governo humano e o património comum da humanidade
 
João Arriscado Nunes
  Fronteiras, hibridismo e mediatização: os novos territórios da cultura  (pp. 35-71)
 A permeabilidade das fronteiras convencionais que separam os vários "níveis de cultura", os géneros culturais, a ciência e a tecnologia, e, por outro lado, o emergir de fenómenos e objectos "híbridos" constituem duas das mais importantes manifestações das dinâmicas culturais no mundo contemporâneo. A análise das implicações das tecnoculturas e da electronic literacy no surgimento de novas configurações culturais, atenta tanto aos riscos que elas transportam como às potencialidades emancipatórias que as atravessam, constitui um passo fundamental para a construção de um pensamento crítico pós-moderno adequado à exploração dos novos territórios da cultura, das formas de associação e dissociação ligadas aos novos reportórios culturais, às configurações culturais emergentes e às suas implicações sociais e políticas.
 
Eric Dunning e Stephen Mennell
  Balanço das Tendências "Civilizadoras" e "Descivilizadoras" no Desenvolvimento Social da Europa Ocidental: os escritos de Norbert Elias sobre a Alemanha, o Nazismo e o Holocausto  (pp. 73-111)
 O presente artigo versa aspectos fundamentais da obra de Norbert Elias: a maneira como interpretou a ascensão do Nazismo e o Holocausto, e o modo como estes se enquadram no contexto mais amplo da sua teoria dos "processos civilizadores". Visa-se assim, em primeiro lugar, clarificar com rigor — numa réplica às vozes críticas — quais as ideias efectivamente defendidas (ou não) por N. Elias no seu trabalho de teorização; e, em segundo lugar, mostrar como, lançando mão desse corpo teórico e da abordagem global nele contida, este autor logrou, especialmente no seu livro Os Alemães, oferecer uma visão original das origens e do crescimento do Nazismo, bem como das consequências deste para a Alemanha e para o mundo no seu todo**.
 
Bela Feldman-Bianco
  (Re)construindo a saudade portuguesa em vídeo: histórias orais, artefatos visuais e a tradução de códigos culturais na pesquisa etnográfica  (pp. 13-126)
 Neste ensaio, discuto a relevância da dimensão imagética na pesquisa antropológica a partir de uma reflexão sobre o significado da etnografia. Diferentemente dos antropólogos pós-modernos que tendem a tratar a etnografia meramente como um "genero literário" ou uma relação dialógica entre pesquisadores e seus sujeitos, enfatizo a sua importância enquanto fenômeno histórico que reflete e transforma a teoria antropológica. Dessa perspectiva, examino: a) a relação entre etnografia e uma prática de pesquisa engajada, que inclui o uso do vídeo e de histórias orais; b) a resultante redefinição das relações entre pesquisadores e seus sujeitos; e c) as relações, diferenças e complementaridades entre texto verbal e etnografia visual.
 
José Manuel Mendes
  O regionalismo como construção identitária. O caso dos Açores  (pp. 127-142)
 Partindo da hipótese de que o regionalismo é uma construção identitária, procura-se neste artigo analisar a construção oficial de uma identidade açoriana após a implantação do regime autonómico em 1976. Conclui-se que esta memória colectiva em criação encontra resistências e confronta-se com contra-memórias individuais que activam níveis de identificação e experiências pessoais que se enraizam em processos infra e supra-regionais. A proximidade ou não ao poder político instituído apresenta-se como um factor fundamental na estruturação e diferenciação dos reportórios discursivos e intrepretativos dos entrevistados.
 
André Brito Correia
  As Vigilâncias como Objecto da Imaginação Sociológica  (pp. 143-165)
 As vigilâncias são vistas frequentemente como algo que marca os corpos (lógica da receptividade), como algo decorrente da acção de agentes específicos (lógica da especialidade) ou como algo que se pode descrever facilmente (lógica da simplicidade). A imaginação sociológica tem de ultrapassar os limites de cada uma destas lógicas. Para isso, propõe-se que se imaginem as vigilâncias como uma competência humana, como uma forma de poder e como um conjunto de técnicas subtis e sofisticadas. A propósito deste último aspecto, apresentam-se quatro casos concretos de vigilância disciplinar que resultam de técnicas diferentes. Através deles, pode ver-se de que forma os corpos se põem de olho, à escuta e a examinar outros corpos. Por fim, propõe-se ainda que se imaginem as vigilâncias como feixes dinâmicos que se cruzam e se sucedem uns aos outros.
 
Doris Friedensohn
  Towards a Post-Imperial, Transnational American Studies  (pp. 167-183)
 Apresenta-se uma meditação a respeito da transformação dos Estudos Norte-americanos num projecto não nacional, mas global. A autora, uma americanista conscientemente (norte-) americana, reflecte sobre as implicações do "império" cada vez maior que se exerce sobre esses estudos for a dos Estados Unidos, e ainda sobre a prática dos Estudos Americanos "em casa" e sobre caminhos futuros para a disciplina.
 
Graça Abranches
  "Teacher, women can be nouns, too!" A igualdade de oportunidades na formação inicial de docentes de Inglês  (pp. 185-199)
 Este relato de experiência reporta-se ao trabalho desenvolvido no âmbito da Igualdade de Oportunidades e da discriminição em razão do sexo pela área de Inglês do Ramo de Formação Educacional da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, a partir de 1988-1989. Tendo a questão do sexismo surgido como um tópico na Didáctica do Inglês, associado à análise crítica das representações iconográficas e linguísticas dos manuais escolares adoptados nas escolas, foi-se progressivamente constituindo como um dos eixos privilegiados de questionação da própria disciplina (o Inglês), o que viria a conduzir à construção de uma perspectiva crítica (feminista) de abordagem global da "matéria" e da relação pedagógica.
 
  Noticiário