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Em busca de alternativas económicas em tempos de globalização: o caso das cooperativas de recolha de lixo na Colômbia César Rodríguez - Colômbia O processo de globalização aumentou a desigualdade em todas as escalas geográficas e conduziu à exclusão efectiva de vastos sectores da população mundial da vida económica e social. Os excluídos, todavia, não permanecem impassíveis. Na América Latina, por exemplo, surgiram numerosas iniciativas económicas, nos níveis local e nacional, para resistir aos efeitos da liberalização económica sobre as classes populares. Em particular, ressurgiu o interesse pelas cooperativas e empresas solidárias. Perante o fracasso das economias centralizadas e a evidência do impacto negativo do neoliberalismo, comunidades, governos e organizações progressistas da América Latina e de outras partes do mundo recuperaram gradualmente a tradição do pensamento associativo e as práticas do cooperativismo. A fim de suscitar a discussão sobre alternativas económicas emancipadoras no contexto da globalização, este capítulo examina o caso das cooperativas de recicladores de lixo na Colômbia. Os cerca de 300.000 recicladores de lixo colombianos, que recolhem resíduos reutilizáveis nas ruas e lixeiras das cidades, são objecto de uma exclusão especialmente perversa, como o demonstra o nome que se utiliza para designá-los -"descartáveis". Contudo, ao longo de 20 anos, um sector dos recicladores, com o apoio de algumas entidades privadas e estatais, conseguiu fundar e impulsionar 94 cooperativas de trabalhadores, assim como redes regionais e nacionais de cooperativas, para transformar as condições exploradoras do mercado da reciclagem e melhorar a qualidade de vida dos recicladores. Este estudo analisa o surgimento, conquistas e dificuldades das cooperativas com vista a responder a perguntas mais gerais sobre as condições sob as quais podem surgir organizações económicas que, como as cooperativas de trabalhadores, desafiem a divisão entre capital e trabalho própria das empresas capitalistas e, simultaneamente, sejam capazes de sobreviver num mercado crescentemente globalizado. O estudo de caso mostra que as cooperativas de recicladores geraram benefícios económicos e sociais substanciais para os sócios-recicladores. O sentido de pertença surgido da experiência de ser proprietário da empresa em que trabalham e as contínuas deliberações sobre os assuntos da cooperativa criam laços de solidariedade que permitiram aos recicladores organizarem-se para defender os seus interesses face ao Estado e à sociedade em geral. A afiliação às cooperativas também trouxe consigo benefícios que os recicladores nunca tiveram, tais como segurança social e serviços de saúde. É certo que a investigação demonstra também que as cooperativas foram incapazes de transformar a estrutura do mercado da reciclagem, que continua a beneficiar as grandes empresas compradoras de material reciclável em detrimento da população recicladora (a qual, na sua imensa maioria, continua a trabalhar por conta própria), e cujos rendimentos permanecem abaixo da linha de pobreza. Para além disso, o processo deliberativo próprio da administração colectiva das cooperativas cria conflitos constantes no seu interior, os quais motivam a saída frequente de sócios das cooperativas e, portanto, tornam instável a base social das cooperativas. Ao longo do capítulo enfatiza-se a necessidade que as cooperativas em geral, e as cooperativas de recicladores em particular, se integrem em redes de apoio mútuo com outras cooperativas, com entidades estatais e, sob certas condições, com empresas capitalistas, tanto no seu país de origem como no estrangeiro. Dado que as cooperativas em todo o mundo se vêem cada vez mais forçadas a competir com o capital transnacional, este tipo de aliança é fundamental para a sua sobrevivência, como o demonstra o exemplo do complexo cooperativo de Mondragón em Espanha. O caso das cooperativas de recicladores, que actualmente correm o risco de desaparecer por concorrência das empresas transnacionais de limpeza e reciclagem, ilustra bem esta situação. As alternativas económicas emancipadoras devem criar, portanto, vínculos entre o local e o global. O cooperativismo - que desde as suas origens teve uma vocação internacional- está especialmente apto para estabelecer este tipo de vínculo e, assim, cumprir a sua promessa inacabada de globalização contra-hegemónica. |
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