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Para uma concepção multicultural dos direitos humanos
Boaventura de Sousa Santos - Portugal

Este capítulo procura identificar as condições em que os direitos humanos podem ser colocados ao serviço de uma política progressista e emancipatória. Tendo sido utilizados durante décadas como um instrumento da guerra fria, os direitos humanos converteram-se, na última década, numa semantica emancipatória pretensamente de valor universal e, por consequência, num possivel pilar da globalização contra-hegemónica. Porém, esta ambição universalista colide com a base filosófica dos direitos humanos, a qual é de raíz ocidental e deriva da tradição judaico-cristã. Os direitos humanos constituem uma formulação específica do valor da dignidade humana, a qual coexiste com outras formulações oriundas de culturas não-ocidentais.

Nesta ordem de ideias, o autor defende que o universalismo plural da dignidade humana requer uma reconstrução plural dos direitos humanos. Tomando como ponto de referência diferentes tradições culturais, este capítulo procura, desenvolver um diálogo intercultural-- usando um procedimento interpretativo que designa de "hermenêutica diatópica"-- que permita identificar as melhores contribuições destas diferentes culturas para a construção de uma política emancipatória, assente no respeito pela dignidade humana e que represente toda a riqueza multicultural do mundo.

 
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