O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, do Brasil, pode ser compreendido como um movimento social de massa que tem alterado, durante mais de 16 anos, a correlação de forças políticas e sociais a nível nacional permitindo assim, com maior ou menor grau de intensidade em função da região do país, o desencadeamento de um processo de emancipação social continuada da fração trabalhadores rurais sem terra das classes subalternas do campo.

A decisão de adotar como estratégia de luta pela terra a ação direta de ocupação da terra e a autogestão das áreas conquistadas proporcionou a emergência de centenas de centros e instâncias de decisões que fez aflorar forças internas de coesão e articulação política e ideológica que dão a esse movimento social um caráter e natureza diferenciados daqueles que têm sido consagrados na literatura sobre a matéria. Fez-se, nesse movimento de massas, emergir um tipo, paralelo ao dominante, de sociedade em rede.

A adoção continuada de coletivos de ação para o enfrentamento das situações-problema, inclusive nas negociações com os governos, subtraindo a presença de personalidades e enfatizando a presença de massas, tem permitido que esse movimento social de massa não tenda necessariamente para uma organização social de massa. E, ademais, que perdure com expressão nacional e internacional por quase duas décadas.

Compreender o MST exigirá, como hipótese, que se estude e interprete a luta de classes no campo nas suas dimensões econômica, política e ideológica integradas.

O MST, ao contribuir para a emancipação social continuada dos Sem Terra no Brasil, constrói novas identidades sociais no campo. Ao mesmo tempo em que resistem na terra como pequenos produtores rurais familiares ensaiam alianças no campo e na cidade que afirmam um projeto nacional de libertação do modelo econômico dominante.