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Explorando as possibilidades da globalização contra-hegemónica do movimento dos trabalhadores da pesca na Índia e as suas interacções globais Gabriele Dietrich and Nalini Nayak - Índia O movimento dos trabalhadores da pesca na Índia, tal como no estrangeiro, emergiu durante as últimas três décadas do século XX. Isto foi sobretudo o resultado de determinados processos de crescimento tecnologicamente orientado, que conduziram a uma aceleração do processo de industrialização do sector e, no decorrer desse processo, levaram ao excesso de pesca, ao esgotamento dos oceanos, ao endividamento dos pescadores e a uma grave ameaça à sobrevivência da pesca em meio selvagem em geral, e da pesca artesanal em particular. A intervenção estatal no direito de pesca das comunidades locais, no sentido de aumentar a produtividade, destruiu práticas tradicionais de interacção sustentável com a natureza, resultando não só num esgotamento dos recursos, mas também na destruição das técnicas e sistemas de conhecimento locais. Originou um crescimento selvagem do sector, orientado para as exportações, levando a um grave endividamento e diminuição dos rendimentos da maioria dos pescadores. No final do século, com a liberalização, o Estado entra em acordos joint ventures com países estrangeiros, e abdica da sua responsabilidade de controlar a entrada dos arrastões industriais em águas territoriais. Tem sido o sector artesanal que tem lutado e, em última instância, as mulheres do sector artesanal que têm levantado mais agudamente as questões da sustentabilidade ambiental e da protecção dos estilos de vida das comunidades costeiras. Este capítulo segue o processo organizacional desde o seu início nas povoações costeiras em Kerala e Goa, acompanhando-o nas lutas em alguns dos Estados indianos e ao nível nacional. São analisadas, sob uma perspectiva histórica, diferentes formas de organização como sejam cooperativização, sindicalização (na forma do sindicalismo-movimento social), frente de mulheres, comités de campanha mais amplos e trabalho de apoio por parte de uma ONG internacional. O capítulo argumenta que a formação de um sindicalismo-movimento social no sector artesanal tem sido emancipatória, na medida em que derrotou um paradigma de desenvolvimento guiado pelo fascismo tecnocrático de mercado, que estava à beira de destruir a base dos recursos e o mundo da vida das comunidades costeiras. É de importância central o envolvimento das mulheres nestas lutas e na conceptualização de um modelo de desenvolvimento centrado na vida e condições de vida e não apenas nos objectivos de lucro. Este capítulo também mostra como a casta e a identidade religiosa se afirmam constantemente contra os processos organizativos das mulheres e a perspectiva de classe do movimento. Realça a perspectiva desenvolvimentista de luta e trabalho construtivo que é ecologicamente sustentável, participativa e culturalmente criativa. Deste modo, a experiência dos sindicatos de trabalhadores da pesca na Índia e em outros países do terceiro mundo tráz uma importante contribuição para a compreensão dos sindicatos nos sectores tradicional e artesanal e da sua crítica ao desenvolvimento centrado no lucro e crescimento. |
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