Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa - João Veloso

 

A IMPORTÂNCIA DA DISPONIBILIZAÇÃO DE RESPOSTAS

 

Os abusos sexuais realizados por elementos das Igreja enquadram-se nos quadros clínicos graves porque ocorreram em fases do desenvolvimento, onde por dependência, idade, os recursos individuais disponíveis são mais escassos. Existe menor autonomia e mesmo uma incapacidade de ressignificar a experiência o que torna difícil a partilha ou o denunciar a experiência e os agressores.

Nos abusos sexuais e mesmo em grande parte dos eventos traumáticos dá-se a instalação de culpa, vergonha, medo e/ou nojo, desta forma não existindo intervenção psicoterapêutica validada, a capacidade que o indivíduo vai ter para lidar com o acontecimento vai estar limitada, obrigando a que a intervenção seja feita por Técnicos de saúde mental especializados em trauma e psicotraumatologia. No trauma os recursos individuais nem sempre são suficientes, mas os resultados com psicoterapia são muito eficazes, aproximando-se com muita probabilidade da cura.

No caso dos abusos sexuais realizados por elementos das Igreja será importante salientar que a intervenção clínica a realizar deve ser feita por psiquiatras e psicólogos especializados em terapias validadas para o trauma. Nestes casos e pelas amplificações que o trauma implica, têm de ser os mais diferenciados e especializados de todos a intervir, têm de ser psicoterapeutas, não se podem criar equipas de técnicos de saúde mental sem diferenciação que costuma ser o apanágio das nossas organizações, reforço, têm de ser psicoterapeutas e de trauma.

No decorrer da disponibilização de recursos deve-se ter em atenção, para este caso dos abusos sexuais realizados por elementos das Igreja, que disponibilizar o apoio e intervenção psicoterapêutica, não deve ser realizada dentro das estruturas da Igreja, vista como a agressora, mas sim, em estruturas neutras e credíveis. Esta seria uma das missões do Observatório do Trauma, disponibilizando e orientando para técnicos de Saúde Mental diferenciados para a intervenção nas diferentes fases do trauma.

É sabido na atualidade que quando se fazem divulgação de determinados conteúdos ou situações deve existir, no imediato, estruturas de apoio para enquadrar reações, dúvidas ou mesmo fragilidades. No caso dos abusos sexuais realizados por elementos da Igreja verificou-se e verifica-se que as estruturas de divulgação e de exposição de novos relatos estão ativas, no entanto, as estruturas de apoio e intervenção continuam inativas, o que é perigoso. Esta metodologia mediática confunde a metodologia clínica e científica, urge ativar as unidades, grupos ou centros de intervenção para estas situações. Criar centros de intervenção em trauma seria uma obrigação clínica e administrativa, que se impõe.

 

João Veloso

Psicólogo clínico, Investigador Observatório do Trauma/CES, Membro representante OT na Board da ESTSS

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