Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa - Imprensa

 

AS NOTÍCIAS

 

As notícias sucederam-se durante semanas de manhã, de tarde e à noite. Telejornais, reportagens em direto das sessões da Comissão, relatos transcritos em discurso direto, entrevistas a peritos, comentadores de vários quadrantes, entidades oficiais e profissionais, em todos os canais e em todos os jornais. Números e estatísticas. Os meios de comunicação fizeram o assunto cair na rua, alimentando voyeurs e aumentando a amplitude do efeito perverso sobre os sobreviventes.

A exposição e discussão mediática das situações de abuso e trauma ocorridas no seio da igreja tem sido mais do que exaustiva. Tem sido abusiva para sobreviventes e familiares, ou próximos.

Houve vítimas que revelaram o benefício da denúncia pública e mediatizada na capitalização da sua capacidade para denunciar e na confirmação que outros passaram por experiências semelhantes, já não estavam sozinhos.

Mas, e a dor dos que nunca conseguiram (ainda) falar sobre isso? E são a maioria, impedidos pela vergonha, pela culpa, pelo medo das consequências, pelos sentimentos de não serem dignos do amor, “bens danificados” expostos ao olhar diferente dos seus próximos e de si próprios. Pessoas que sofrem em segredo, cuja família não sabe nem imagina o que lhes aconteceu, que se sentem obrigados a disfarçar a náusea e a dor, que são forçados a ouvir os comentários e opiniões, que não querem ouvir, descrições exaustivas e detalhadas sobre as circunstâncias e as situações que as transportam sem respeito para a sua própria angustiante história. Aumenta a ansiedade, a tristeza, o desânimo, os pesadelos e o medo.

A exploração mediática revitimiza, reativa os sinais de trauma, confronta com o agressor, mesmo que sem um rosto.  Mesmo quando as vítimas decidem não ver mais notícias, a cascata informativa invade as suas vidas.

Informar é preciso para tornar a população mais atenta e capaz de se defender. Informar sempre sobre a quem e onde se dirigir, reforçar que existe ajuda, que existe esperança. Manter a confidencialidade, o respeito, e poupar nas discussões, comentários, descrições e nos detalhes, não abusar!

 

Margarida Figueiredo-Braga

Psiquiatra, Docente FMUP, Investigadora do Observatório do Trauma/CES, Membro da ESTSS

 

Artigos jornalísticos, de opinião e entrevistas - uma seleção do Observatório do Trauma em atualização

 

Março de 2023

"Crimes sexuais na Igreja Católica, uma tragédia anunciada e consolidada há séculos" - Paulo Mendes Pinto (Público)

"A grande luta do Papa Francisco contra a "monstruosidade" dos abusos" - DN/Lusa (DN)

"José Ornelas: “Assumo que não fui feliz, não correu bem, a comunicação não foi adequada e não consegui passar aquilo que levava para dizer”" - Entrevista a D. José Ornelas (Expresso)

"Os bispos portugueses que não devem acreditar em Deus" - Luís Osório (TSF)

"Igreja dividida: bispo auxiliar de Braga contraria cardeal e defende suspensão de padres no ativo suspeitos de abusos sexuais" - Agência Lusa, DF (CNN Portugal)

"Conferência Episcopal – a miséria moral que pede Estado" - Isabel Moreira (Expresso)

"Basta, senhores Bispos!" - José Mendes (DN)

"Abusos sexuais: a “lista de trabalhos” deixada pela comissão cessante" - Natália Faria (Público)

 

Fevereiro de 2023

"Sobre os abusos na Igreja" - Padre Anselmo Borges (DN)

"Abusos sexuais na Igreja. Vítimas admitem mais ansiedade" - Ana Luísa Rodrigues (RTP)

"É preciso não ser cúmplice" - Teresa Toldy (Público)

"Podem ter passado décadas, mas apoio terapêutico às vítimas é “sempre” essencial" - Patrícia Carvalho (Público)

""Verdadeiro sismo dentro da igreja." Relatório sobre abusos sexuais na igreja é "uma tragédia"" - Entrevista Padre Anselmo Borges (TSF)

"Abusos na Igreja. Faltam profissionais no SNS para ajudar vítimas" - Entrevista João Veloso (Rádio Observador)

"Abusos sexuais na Igreja. Três testemunhos inéditos de quem sofreu abusos sexuais por padres" - Ana Luísa Rodrigues (RTP)

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