A cidadania e os direitos humanos daqueles/as que vivem com diagnósticos psiquiátricos constituem uma das últimas fronteiras nas lutas pelos direitos civis que começaram no século XX. Até hoje, a história da psiquiatria, reconhecendo as tendências globais em saúde mental, tem-se concentrado nas reformas psiquiátricas, nas instituições, classificações de doenças e expansão de psicofármacos, negligenciando as dimensões políticas, éticas e cívicas que moldam os saberes sobre o sofrimento psíquico e a doença. Por seu turno, as histórias de direitos humanos não têm abordado os direitos das pessoas com diagnóstico psiquiátrico. No entanto, ao longo do século XX temos assistido à emergência de movimentos de advocacy, visando defender os direitos humanos destas populações, desde as correntes antipsiquiátricas das décadas de 1960-70, passando pelas associações, redes e alternativas, liderados por (ex)utentes e sobreviventes da psiquiatria. Esses movimentos têm estado na origem de novas experiências de cuidado alternativas à psiquiatria biomédica.
Esta CES Summer School aborda a história e sociologia da psiquiatria e da saúde mental através da perspetiva das lutas políticas, éticas e cívicas, dando enfoque particular à questão dos direitos humanos. Para a sua conceção, a equipa coordenadora desenvolve a ideia de que as pesquisas colaborativas e as abordagens de cuidado baseadas nos direitos corrigem e complementam as abordagens biomédicas, visando contribuir para a emancipação de pessoas que sofrem de doenças mentais, reduzindo o estigma e promovendo a inclusão social. Cruzando perspetivas globais e locais, com destaque para as epistemologias contra-hegemónicas do Brasil e do ativismo global, esta Escola de Verão aborda as relações entre a experiência, o conhecimento, as lutas e os direitos humanos, e em particular o papel dos/as ativistas na transformação emancipatória da saúde mental.
Coordenação: Tiago Pires Marques (CES-UC), Sílvia Portugal (CES-UC/FEUC), Mattia Faustini (CES-UC)
Corpo de formadores: Equipa e consultores do projeto PSYGLOCAL e colaboradores representantes das associações parceiras no âmbito da Saúde Mental (Movimento Ouvir Vozes, ADEB, Associação Borderline Portugal)
Público-alvo: profissionais da área da saúde mental; investigadores/as e estudantes; pessoas com experiência de diagnóstico psiquiátrico; cuidadores/as; ativistas na saúde mental; público em geral interessado nestas temáticas.
Programa
Quarta-feira (5/07): Dia 1 | Saberes baseados na experiência e metodologias participativas
Quinta-feira (6/07): Dia 2 | Abordagens baseadas nos direitos
Sexta-feira (7/07): Dia 3 | Descolonizar a saúde mental
Sábado (8/07): Dia 4 | Pesquisa e intervenção a partir da arte
Descrição do Programa
“Re-imaginar as instituições, as práticas e os direitos na saúde mental e psiquiatria” oferecerá ocasiões de reflexão criativa e de aprofundamento das práticas alternativas de cuidado, inspiradas no ativismo e nas ações do associativismo, que carregam visões inclusivas e emancipatórias de humanidade e de saúde. A Escola é criada através das colaborações em curso no âmbito do projeto PSYGLOCAL, e entre os seus membros e outras redes, incluindo o Movimento Ouvir Vozes, a ADEB e a MindFreedom International. Reúne assim investigadores/as do CES com ativistas e académicos/as para fornecer ferramentas conceptuais e práticas para a concretização de horizontes de cuidado social baseados na articulação de saberes entre pessoas com experiência de doença, profissionais da saúde e investigadores/as. Esta Escola de Verão pretende gerar espaços de co-criação de conhecimento a partir do campo de lutas decorrente da redefinição da experiência dos (ex-) utentes, bem como dos sobreviventes da psiquiatria, abrangendo de forma crítica os obstáculos e os desafios das reformas psiquiátricas na história da Saúde Mental Global.
O programa estrutura-se em quatro dias. O primeiro foca a dimensão ética, ontológica, e epistemológica da produção de conhecimento no campo da saúde mental, aprofundando o valor dos saberes experienciais e da pesquisa colaborativa na produção da emancipação.
O segundo dia aprofunda as abordagens baseadas nos direitos humanos, praticadas nas redes ativistas dos/as sobreviventes da psiquiatria e por alguns sectores da Saúde Mental Global, corrigindo e complementando as abordagens biomédicas adotadas nos tratamentos da “doença”.
O terceiro dia considera as dimensões culturais que atribuem significado à “loucura”, focando-se no desenvolvimento de perspetivas alternativas ao monopólio dos saberes psiquiátricos ocidentais.
No último dia, finalmente, procuramos na arte um recurso para a produção de conhecimento empenhado em propostas emancipatórias no campo da saúde mental. Para isso, consideramos os processos de participação e de produção de sentido, bem como as formas de intervenção que traduzem a criação estética em formas de cuidado e autocuidado e de participação cidadã, no interior das redes de utentes e no espaço público.
Língua: Português, com intervenções em inglês (será providenciada tradução pela equipa)
Candidaturas:
- CV resumido (max. 1 página)
- Texto indicando motivações (150 – 250 palavras)
[Submissão de candidaturas através de envio de email para mattiafaustini@ces.uc.pt ]
Datas importantes
Submissão de candidaturas até 15 de maio
Comunicação dos resultados das candidaturas até 26 de maio
Formalização e pagamento da inscrição: até 9 de junho
Valores das inscrições
Com alojamento incluído (quartos individuais/duplos)
Inscrição geral: 220/180€
Inscrição estudantes e desempregados: 100/70€
Inscrição comunidade CES: 130/100€
Sem alojamento incluído
Inscrição geral: 150€
Inscrição estudantes e desempregados: 50€
Inscrição comunidade CES: 80€
A inscrição cobre os custos do curso, materiais de apoio, despesas de alojamento, almoço e deslocação a São João da Madeira a partir de Coimbra (ida e volta).
Atividade no âmbito do projeto «PSYGLOCAL | Sofrimento psíquico e direitos humanos: epistemologias da saúde mental, políticas e ativismo na psiquiatria (Lisboa, Portugal e Salvador, Brasil, c. 1950 - c. 2020)», financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, com referência PTDC/FER-HFC/3810/2021