A Escola de Inverno “Resistências anticoloniais e racismo institucional” pretende proporcionar um espaço de debate transdisciplinar e transnacional sobre o (anti-)racismo e seus diversos desdobramentos nos contextos latino-americanos e europeus a partir de metodologias participativas.
O principal objetivo da Escola é oferecer a possibilidade de relacionar diferentes contextos para refletir e visibilizar dinâmicas cotidianas e práticas institucionalizadas do racismo na contemporaneidade. Mais especificamente, os seminários de discussão e as oficinas participativas propõem, por um lado, ampliar o debate sobre racismo e antirracismo para além das reflexões limitadas às fronteiras nacionais sem, no entretanto, forjar “novos universalismos” desconectados dos contextos históricos; e, por outro lado, oferecer aos participantes a possibilidade de debater acerca de concepções e categorias essencializadoras que terminam por hierarquizar e desistoricizar a (re)produção do racismo como estrutura de opressão moderna que atravessa e conecta estado-nações e entidades supranacionais (e.g. a União Europeia).
Partimos da constatação de que a negação do racismo enquanto sistema de opressão vigente nas democracias atuais, seja na Europa “sem raça”, seja na América Latina da “democracia racial”, ainda define os discursos políticos, mediáticos, acadêmicos e de alguns movimentos sociais. Desse modo, A Escola de Inverno “Resistências anticoloniais e racismo institucional” priorizará dois eixos de discussão: a produção acadêmica sobre as dinâmicas atuais de reprodução do racismo e as lutas travadas pelos movimentos sociais no enfrentamento ao racismo. Assim, pretendemos que a escola seja um espaço de diálogo que recentre a importância dos debates gerados no e pelos movimentos antirracistas no que diz respeito a demanda pela centralidade das categorias analíticas e políticas de “raça” e “racismo”, assim como os desafios apresentados pelas visões desde o Afropessimismo/ a antinegritude na compreensão das dinâmicas atuais de exclusão, violência e morte assim como as denúncias dos regimes de negação.
A Escola irá focar nas tensões que atravessam a relação entre academia e movimentos antirracistas com o intuito de gerar reflexões que desafiem as narrativas e lógicas raciais que estruturam as políticas públicas (ex. na área da segurança interna e urbana; no ensino superior), as normativas e legislações antidiscriminação, a produção do conhecimento e as lutas políticas. Para tal, a Escola funcionará a partir de seminários no período da manhã e de oficinas no período da tarde que serão mediadas pelo corpo de investigadores que compõem a equipa do projeto de investigação POLITICS. Pretendemos que o debate surgido nas exposições no período da manhã com convidadas e convidados com reconhecida experiência na discussão, possa fomentar reflexões, críticas e ponderações nas oficinas participativas. Aproveitaremos a oportunidade também para apresentar alguns resultados preliminares da pesquisa em desenvolvimento no âmbito do projeto POLITICS.
A Escola foge dos debates abstratos e tenta abordar a luta antirracista como um projeto político em confronto aberto com os legados coloniais e as atuais estruturas de poder instaladas nas lógicas da modernidade europeia, prestando especial atenção às várias maneiras pelas quais os movimentos de resistência anticolonial continuam sendo enfrentados hoje. Para tal, o debate será orientado a partir de três eixos centrais:
- Narrativas nacionais sobre o racismo (circunscrito no estado Nação);
- Normalidade versus excecionalidade do racismo;
- Resistências anticoloniais e antirracismo político.
A proposta da Escola de Inverno “Resistências anticoloniais e racismo institucional” terá, portanto, como temáticas centrais: (pós)colonialismo, produção de conhecimento e memória social; gramáticas de dignidade humana e justiça racial; as lutas contra o racismo institucional e pensamento decolonial.
Área(s) temática(s)do curso: Anticiganismo, antinegritude; eurocentrismo e produção de conhecimento; estado racial, lutas legais, resistência, violência policial.
Investigadores responsáveis:
Silvia Maeso: srodrig@ces.uc.pt
Cayetano Fernandez: cayetanofernandez@ces.uc.pt
Danielle Pereira de Araújo: daniellearaujo@ces.uc.pt
Luana Coelho: luanacoelho@ces.uc.pt
Sebijan Fejzula: sebijanfejzula@ces.uc.pt
Público-alvo
Com o objetivo de ampliar o debate entre o movimento social antirracista e a academia, o público alvo a quem se destina esta Escola de Inverno são ativistas, membros de movimentos e/ou organizações antirracistas, pesquisadoras/es, estudantes, profissionais, e demais interessadas/os em dialogar sobre as dinâmicas atuais de reprodução do racismo e as lutas para seu enfrentamento.
A Escola de Inverno será gratuita, porém os interessados devem se inscrever previamente e enviar candidatura. A seleção será feita pelas investigadoras responsáveis a partir do interesse e pertinência das/dos candidatas/os relativamente aos objetivos da escola, priorizando uma equitativa participação de pessoas racializadas. A opção pela modalidade gratuita justifica-se pela escolha do público-alvo, visando garantir a igualdade de oportunidade e acesso entre distintos públicos, considerando as desigualdades históricas que se estruturam nas dinâmicas do racismo.
Línguas de trabalho: português e espanhol
[INSCRIÇÕES ENCERRADAS]
Curso organizado no âmbito do projeto POLITICS - A política de (anti)racismo na Europa e na América Latina: produção de conhecimento, decisão política e lutas coletivas (financiado pelo ERC; bolsa nº 725402- POLITICS- ERC- 2016- COG), em colaboração com o Sindicato de Manteros de Madrid.
Contacto: Malick Gueye, porta-voz do Sindicato de Manteros de Madrid, um coletivo formado em 2010 para combater o racismo e para conseguir a descriminalização do seu modo de sobrevivência, a venda ambulante.