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Resiliência
Madalena Alarcão, Luciana Sotero

O que fazer quando o futuro parece sombrio e incerto? A COVID-19 confronta-nos não apenas com um problema imediato de saúde, mas com impactos negativos muito grandes e ainda não totalmente conhecidos ao nível da economia, do emprego, do ensino, da segurança, do turismo, etc., e da gestão das próprias relações sociais e familiares.

A incerteza quanto à evolução da pandemia e à capacidade de recuperação da economia, do trabalho e da sociedade, a previsão de que uma segunda vaga voltará a surgir num tempo para o qual a ciência ainda não terá uma resposta médica eficaz bem como o receio de um futuro, que parece ser cada vez mais incerto e marcado por ameaças e desastres em larga escala, geram um sentimento de medo e subsequente retração, bloqueio, desesperança.

Face a este contexto, como devemos reagir? Sermos resilientes e capazes de transformar as adversidades em oportunidades. O maior mal que o homem pode fazer a si próprio é não ter, ou perder, a dimensão temporal de futuro. Porque é aí que projeta a sua visão preferida de vida, ou a sua visão do mundo, os seus sonhos, o seu propósito. E se essa visão se constitui como a espinha dorsal da sua existência, organizadora de valores, competências, aprendizagens e comportamentos, o propósito é a fonte de energia que nos torna capazes de vencer os obstáculos e as adversidades porque nos impele no sentido da transformação.

Muito se tem escrito e pensado sobre resiliência. Primeiro numa dimensão individual, depois familiar e, mais recentemente, numa dimensão organizacional, comunitária e até global. Sendo um conceito complexo, o consenso está longe de ser alcançado, sobretudo no que diz respeito à forma como a resiliência se constrói e se desenvolve.

Mas há alguns aspetos que parecem essenciais para que o ser humano seja resiliente:

  1. Dar um sentido à adversidade, encarando-a como uma oportunidade de se transformar, em coerência com a sua visão preferida de vida e o seu propósito, mesmo que estes também tenham que ser ajustados;
  2. Ter um olhar positivo, mesmo sobre os aspetos ou as realidades mais negativas, sendo capaz de descobrir o “lado bom”, transformador, das adversidades; o humor e o reenquadramento são estratégias muito úteis para ver “o lado meio cheio” de um copo “meio vazio”;
  3. Manter e aumentar a esperança, identificando as forças e as (possíveis) fontes de apoio; esta esperança não é abstrata mas alimenta-se das muitas forças que cada um de nós tem, mesmo quando ainda não deu por isso;
  4. Ser ativo em direção a um futuro desejado, o que pode significar bastante trabalho e, sobretudo, foco, determinação, perseverança;
  5. Não se focar no desejo de regresso a um passado que não vai mais existir como tal e apropriar-se, integralmente, da ideia de que a “realidade” se constrói;
  6. Permitir-se sentir a felicidade e a alegria das pequenas vitórias;
  7. Criar e/ou manter relações significativas e partilhar experiências, significados, vitórias, insucessos... em suma: inspirar e deixar-se inspirar, dar e receber.


Como citar:
Alarcão, Madalena; Sotero, Luciana (2020), "Resiliência", Palavras para lá da pandemia: cem lados de uma crise. Consultado a 30.06.2024, em https://ces.uc.pt/publicacoes/palavras-pandemia/?lang=1&id=30373. ISBN: 978-989-8847-24-9