Heitor Chichorro | 1997 (coleção privada)
Notas de uma transição
Em março de 2017 viu a luz o primeiro número da InfoTRAUMA.
Para nós, do então Centro de Trauma, foi um momento gratificante de confiança e de entusiasmo. Tal “como o caderno novo/quando a gente o principia”, do João Cabral de Melo Neto também nós antevíamos motivantes caminhos entreabertos no emergir desta newsletter.
Propunha-se como um veículo “facilitador da comunicação entre todos os que se interessam pelo Trauma Psicológico”, um “fórum de encontro, debate e partilha dos diferentes saberes, como coletânea em língua portuguesa de notícias, acontecimentos ou formações a ocorrer nesse âmbito”, um meio “potencializador do diálogo e da convergência de conhecimentos entre as organizações envolvidas nesses cenários, nomeadamente na prevenção, socorro e acompanhamento psicossocial em contextos de crises, desastres, catástrofes”.
Desde então, passando as usuais ondulações de bonança e de tempestade, a InfoTRAUMA foi cumprindo os seus propósitos primordiais:
- Seguiu a evolução do Centro de Trauma para Observatório do Trauma (OT)/CES, divulgou a realização de vários cursos de formação geral de Psicotraumatologia certificados pela ESTSS, colaborou na criação do consórcio europeu de investigação ADJUST com as suas múltiplas publicações internacionais;
- Acompanhou o presente e analisou o passado de crises, desastres ou catástrofes que foram evidentes precipitantes de Trauma na sociedade portuguesa. Sobre esses acontecimentos desenvolveu números temáticos específicos, com destaque para "Os Incêndios em Portugal", "60 anos da Guerra Colonial", a "Pandemia Covid 19", "Profissões de Risco em Trauma", e a "Interculturalidade do Trauma";
- Convocou e acolheu, ao longo destes anos, a colaboração de profissionais de múltiplas áreas da intervenção (de médicos a juristas, de militares a académicos) e de diferentes âmbitos do conhecimento (do Jornalismo à Psicologia, da Literatura à Estatística, da Sociologia à Virologia, da Filosofia à Veterinária). Generosamente, todos se predispuseram a partilhar, discutir e congregar os seus diferentes saberes com o propósito comum de entender, prevenir, colmatar o Trauma Psicológico dos indivíduos, das populações, dos técnicos;
- Apoiou as parcerias do OT e as suas redes de difusão do conhecimento e da intervenção, informando das suas acções singulares e das actividades comuns e contribuiu, de forma profícua, para a divulgação da Psicotraumatologia;
- Reiterou, nas suas páginas, quer a incompreensão/indignação face a evitáveis experiências traumáticas impostas, quer o pesar perante a partida de alguns dos nossos mais próximos, todos eles exemplos de perseverança na procura de soluções efectivas para o Trauma;
- Procurou, sempre, dinamizar, motivar, integrar novos campos de análise, novas abordagens, novos projectos.
Como em todos os processos de crescimento, não é possível manter intactas as ilimitadas esperanças, nem materializar totalmente os esfusiantes sonhos que embalam os inícios. Mas essa implícita depuração não acarreta desaire. Pelo contrário: é maturativa, augura de certo mais consistência, maior amplitude, melhor futuro.
Este ano, em 2023 o Observatório do Trauma muda a sua coordenação.
Reafirmando a sua intrínseca perspectiva interdisciplinar e mantendo como propósito estruturante ampliar o conhecimento dos vários matizes do Trauma Psicológico, o OT propõe-se agora fazê-lo a partir de três áreas distintas de intervenção: a psicotraumatologia, os media e os estudos da memória.
E se o Observatório do Trauma muda, a InfoTRAUMA muda igualmente a sua coordenação, bem como a periodicidade, o formato, e a estratégia de divulgação.
Este 11º número da InfoTRAUMA é, em simultâneo, o último do ciclo inicial e o primeiro da nova fase maturativa do Observatório do Trauma.
A marcar esta passagem de testemunho, pareceu-nos útil tornar os textos publicados ao longo destes seis anos facilmente acessíveis, organizados por temas relevantes e por índices de autores. Estamos a diligenciar nesse sentido. Será justo para quem connosco colaborou e nos confiou os seus trabalhos e particularmente motivador para quem interessadamente os leu ou os queira consultar pela peimeira vez.
Em 2017, viu a luz o primeiro número da InfoTRAUMA, “...como o caderno novo/quando a gente o principia”1. Hoje, em 2023, no início do novo ciclo da newsletter do Observatório do Trauma/CES “...vem-nos à memória uma frase batida/ Hoje é o primeiro dia...”2.
Coimbra, 22 de Setembro de 2023
Luisa Sales, ex coordenadora da InfoTRAUMA
Investigadora do Observatório do Trauma/CES Psiquiatra
Como citar este texto: Sales, L. (2023, setembro). Notas de uma transição. InfoTRAUMA, 11.
1Morte e vida Severina - João Cabral de Melo Neto
2Hoje é o primeiro dia - Sérgio Godinho
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