Convidamos à apresentação de propostas de trabalhos/apresentações relacionados com os seguintes temas:
Modelos de governança para a política cultural baseados em direitos
Coordenadores: Nancy Duxbury (CES), Isabel Ferreira (CES), Jordi Baltà (Universidade Ramon Llull - Blanquerna, Espanha)
Há ligações significativas entre o direito à cidade e o âmbito da política cultural local. Inclui-se aqui o papel central conferido aos imaginários urbanos por parte de defensores do direito à cidade como forma para transformar a urbanidade (Petcou e Petrescu, 2015) e a forma como, na obra de Henri Lefèbvre, o direito à cidade é complementado pelo direito à diferença, com realce para o papel da cultura enquanto espaço de combate à homogeneização (Martin, 2006; Baltà Portolés, 2021) e modo de viabilizar o surgimento do pluralismo interativo e da diversidade. Estas ligações também estão incorporadas em abordagens recentes para a política cultural baseada em direitos culturais, as quais colocam a cultura como terreno de construção de espaços onde cidadãos e cidadãs se possam entender entre elas e a si mesmas e embarcar livremente nos seus projetos de vida (UCLG, 2015). Para esse entendimento torna-se central a disponibilidade de espaços e processos de governança que permitam deliberação, negociação e tomada de decisão de forma inclusiva e diversificada. Isso que pode assumir uma variedade de formas, que vão do envolvimento da comunidade na governação e gestão de espaços ou projetos culturais, frequentemente a nível de freguesia ou distrito, através de órgãos decisórios formais a nível municipal, envolvendo uma variedade de partes interessadas, até ao desenvolvimento de modelos de avaliação que dão relevo ao exercício dos direitos. Esta sessão visa reunir reflexões e experiências sobre as implicações das abordagens baseadas em direitos para a governança da política cultural, em especial ao nível local, mas não só. Os contributos podem incluir estudos de caso e reflexões gerais sobre implicações específicas dessas abordagens, bem como sobre obstáculos que impedem mais avanços.
A viragem financeira na arquitetura: perspetivas críticas da Europa
Coordenadora: Eliana Sousa Santos (CES)
Esta sessão tem por objetivo apresentar perspetivas críticas sobre o capital e as práticas arquitetónicas em contextos sociais e políticos do passado recente e contribuir com um conhecimento substancial para a tarefa crucial de mapear e analisar os múltiplos fenómenos subjacentes a alguns dos problemas fundamentais do presente, como a habitação e a desigualdade espacial. Entre 1970 e o presente, emergiram novas políticas de habitação e novos instrumentos financeiros, criando uma viragem financeira com o aparecimento de novas formas de lógicas extrativas na economia através da exploração de propriedades materiais e da criação de instrumentos financeiros abstratos. A análise da produção arquitetónica e especificamente dos projetos habitacionais, em paralelo com os campos sobrepostos da política económica e social, pode ser útil na caraterização de outros eventos, como a crise financeira global de 2008, e no discernimento sobre a atual escalada de desigualdade social e o início da crise global da habitação. A noção alargada de capital, baseada nas definições de capital social, cultural e simbólico de Pierre Bourdieu, pode ser útil na exploração de novas metodologias de análise e de crítica das operações arquitetónicas. Bourdieu reconheceu a influência da história da arquitetura no desenvolvimento de alguns dos seus utensílios concetuais, o habitus em específico, originado pela leitura e tradução que fez em 1967 de Gothic Architecture and Scholasticism de Erwin Panofsky (1951). Já na década de 1980, Bourdieu identificou o fenómeno crescente da financeirização da habitação e analisou o mercado imobiliário em França, estudo posteriormente publicado em inglês, The Social Structures of the Economy (2005).
São bem-vindos trabalhos centrados na produção da arquitetura enquanto capital, nas suas formas alargadas (financeira, social, cultural e simbólica), e dirigidos a diferentes contextos sociais e geográficos na Europa. Os temas a explorar podem incluir, entre outros, os seguintes:
● relações entre a produção arquitetónica e o capital;
● capital simbólico e cultural das práticas arquitetónicas;
● financeirização nas suas várias escalas, local, regional e global;
● desigualdade espacial;
● privatização de antigos edifícios públicos, habitação social, parques públicos e paisagens.
Inovação e regeneração baseadas no lugar: os atores culturais como agentes de mudança
Coordenadores: Nancy Duxbury (CES), Sílvia SIlva (CES), Paula Abreu (FEUC, CES), SÍlvia Ferreira (FEUC, CES), Anna Hildur Hildibrandsdóttir (Universidade de Bifröst, Islândia)
Desde o período pandémico de COVID-19, tornou-se central o bem-estar da comunidade, com realce das estratégias de coopetição, das práticas de atores da economia social e do desenvolvimento de acordos e redes de colaboração locais. Esta situação cria um quadro para desenvolver estratégias sensíveis ao lugar, com atores culturais a assumirem frequentemente papéis de liderança na promoção de iniciativas inovadoras, culturalmente sensíveis e com base no lugar que beneficiam as comunidades e os territórios locais. Com o objetivo de ir além da mera apresentação de projetos inspiradores, esta sessão explora os desafios e as oportunidades dos atores culturais como agentes de mudança. Debate-se a narração de histórias, as indústrias criativas e os modelos de negócio sustentáveis podem desencadear vagas transformadoras nas comunidades locais e criar soluções inovadoras para enfrentar os desafios locais. A sessão tem por objetivo examinar a forma como os agentes culturais alavancam affordances e recursos locais, assim como as principais características e condições que permitam aos atores culturais desenvolver iniciativas impactantes e sustentáveis para benefício local. Considera como as agências públicas podem responder para apoiar estas iniciativas. Permitirão que estes agentes e iniciativas se tornem parte da política cultural e do planeamento territorial?
Abordagens à investigação com envolvimento comunitário
Coordenadores: Nancy Duxbury (CES), Sílvia Silva (CES), Cláudia Pato de Carvalho (CES), Stuart Poyntz (Universidade Simon Fraser, Canadá)
O envolvimento da comunidade em projetos de investigação desempenha um papel crucial na compreensão do caráter único de cada lugar, articulando as narrativas e os conhecimentos que emergem da história local e das histórias da comunidade e a partir delas, elaborando novas iniciativas. As abordagens multissetoriais de envolvimento comprometido da comunidade podem facilitar o diálogo entre diferentes intervenientes e setores, incentivar a partilha de valores e aspirações e contribuir para promover sentidos mais profundos de comunidade, apropriação e capacitação que podem prevalecer ao longo do tempo. Podem também ser cruciais ao oferecer possíveis soluções para os problemas sociais identificados na comunidade. No meio académico contemporâneo, as aspirações a “cocriar” conhecimento com as comunidades estão a crescer e a tornar-se mais visíveis, embora também se observem resistências em aceitar plenamente os desafios e as implicações inerentes a uma colaboração significativa entre a comunidade e o meio académico. Estas dúvidas e hesitações levantam questões sobre as implicações mais amplas da democratização do conhecimento através de processos significativos de envolvimento comprometido da comunidade. E, contudo, é através de abordagens de investigação com o envolvimento da comunidade que se pode alimentar, capacitar e aprovar uma mudança significativa e enraizada. A sessão examinará as principais práticas de trabalho centrado na comunidade através da lente da participação, do empenho, das infraestruturas e dos impactos locais. Como se pode, repensando através da prática, redefinir o papel dos investigadores? Como pode a academia empenhar-se melhor com contextos fora da universidade? Como se pode codesenvolver projetos de inovação social que estejam alinhados com as necessidades das comunidades? Como podem os investigadores trabalhar de forma significativa e próxima com os membros das comunidades para seguir trajetórias que formem o futuro?
Laboratórios vivos educativos: investigação e práticas para um espaço público inclusivo
Coordenadores: Gonçalo Canto Moniz (DARQ, CES), Rita Campos (CES), Cláudia Pato de Carvalho (CES), Isabel Ferreira (CES)
Mais do que nunca, a cultura de privatização ameaça o espaço urbano que ocupa não só praças, ruas ou parques, mas também instituições públicas, como escolas e museus. A dimensão pública do espaço urbano não está garantida como um espaço onde os cidadãos e as cidadãs têm a oportunidade de erguer a voz e se associar de forma participativa e colaborativa, nomeadamente para decidir sobre o seu futuro, o seu bairro e a sua cidade. Os laboratórios vivos são laboratórios experimentais baseados em contextos reais promovidos por grupos de cidadãos e partes interessadas para cocriar soluções para as necessidades específicas do seu território. Estas ações criam um espaço dinâmico de interação entre diferentes tipos de instituições, indivíduos e organizações, são bottom-up e criam a oportunidade de diálogo entre instituições - como municípios, academia, escolas ou associações culturais - para apoiarem o processo. As instituições educativas, em particular, desempenham um papel importante na ativação de outras formas de empenhamento de cidadãos e cidadãs para identificar necessidades e explorar soluções que coloquem no centro do espaço público as crianças, os jovens, as famílias e as comunidades à sua volta. Neste sentido, os laboratórios vivos educativos podem transformar o espaço público em estruturas mais democráticas e abertas, onde as crianças e os jovens desempenhem um papel ativo. A articulação dos laboratórios vivos com uma ciência social cidadã empenhada, promovendo o desenvolvimento de pequenos projetos de investigação crítica que possam integrar diferentes conhecimentos, amplia ainda mais o potencial transformador destes processos. Investigadores e profissionais são convidados a apresentar e discutir investigações ou práticas que visem ativar um laboratório vivo educativo em espaços públicos, bem como em escolas (e outros espaços relacionados com a educação), considerando também as relações entre laboratórios vivos e práticas de ciência cidadã.
Cocriação de soluções baseadas na relação humano-natureza: investigação e práticas para uma regeneração urbana e rural inclusiva
Coordenadores: Gonçalo Canto Moniz (DARQ, CES), Isabel Ferreira (CES), Beatriz Caitana (CES)
Os territórios urbanos e rurais estão a mudar drasticamente nas últimas décadas devido a fenómenos sociais e ambientais, como o turismo, a migração e as alterações climáticas, entre outros. As comunidades locais estão organizadas e pretendem participar na regeneração do espaço público para enfrentar os desafios locais e globais e promover outras formas de o utilizar. Os programas nacionais e internacionais apoiam iniciativas de base comunitária, mas também iniciativas governamentais ou académicas que colocam os cidadãos e as cidadãs no centro destes processos de regeneração. O objetivo é reforçar a cocriação de soluções que possam combinar as dimensões social e ambiental para resolver desafios relacionados com a alimentação, a socioeconomia, o desporto, a educação e a cultura. De facto, as soluções baseadas na relação humano-natureza podem contribuir para melhorar a inclusão no espaço público através do processo de cocriação, colocando as pessoas em diálogo e favorecendo a criação de sentido de comunidade. O ambiente de cocriação é também um lugar de partilha de conhecimentos, nomeadamente os científicos, técnicos e empíricos, que provêm da experiência quotidiana de cidadãs e cidadãos. A partilha de conhecimentos é facilitadora do desenvolvimento de estratégias de cogovernação reguladoras do diálogo entre os diferentes atores que pretendem cocriar em conjunto. Os investigadores e os profissionais são convidados a apresentar e discutir investigações ou práticas que promovam a cocriação de soluções baseadas na relação humano-natureza para os seus territórios urbanos e rurais. Os processos de cocriação podem ser ativados por grupos de cidadãos e cidadãs e partes interessadas, bem como por municípios ou universidades. Os trabalhos devem discutir o quadro concetual, apresentar a metodologia de cocriação e explorar os resultados com base em estudos de casos concretos.
Ligar a cartografia cultural e o planeamento estratégico da cultura
Coordenadores: Nancy Duxbury (CES), Will Garrett-Petts (Universidade de Thompson Rivers, Canadá)
As cidades são cada vez mais desafiadas a desenvolver políticas culturais e sociais - e metodologias de investigação relacionadas - que se espera que funcionem com outras áreas, como o desenvolvimento económico, a inclusão social e o planeamento urbano. O mapeamento cultural participativo proporciona uma abordagem e uma plataforma prontas para este trabalho interssetorial. Como campo de investigação, a cartografia cultural representa duas áreas de estudo e de prática inter-relacionadas. A primeira centra-se nos bens culturais, identificando, localizando e quantificando bens tangíveis e intangíveis, normalmente com o objetivo de desenvolver um mapa de recursos culturais ou de bens comunitários. A segunda área, associada à ascensão da cartografia crítica, emprega técnicas de mapeamento participativo para criar uma narrativa comunitária multivocal do lugar, reunindo as partes interessadas numa conversa intencional e na resolução de problemas em grupo. No seu conjunto, as duas áreas do mapeamento cultural procuram combinar as ferramentas da cartografia moderna com métodos vernaculares e participativos de narração de histórias para a representação espacial, visual e textual dos conhecimentos, bens, valores, pontos de vista e memórias autênticos das comunidades locais. Ambas as formas de mapeamento têm vindo a ser cada vez mais utilizadas pelos governos, nomeadamente por municípios, e por académicos de todo o mundo, muitas vezes sob a premissa de que prometem uma capacidade de empenho e ligação com populações e comunidades que normalmente não estão inclinadas para a participação política/académica. Pretendemos discutir a forma como o mapeamento participativo se pode tornar um mecanismo eficaz para promover intervenções lideradas por cidadãos e cidadãs e pela governação democrática, com base em processos que promovem novos modos de interação participativa (Ortega Nuere e Bayón, 2015). Notamos, contudo, que na maioria das situações o mapeamento cultural participativo tende a ser empregue como iniciativa única, mais como um projeto do que como uma estratégia de longo prazo e, portanto, normalmente não permanece totalmente articulado ou integrado nas práticas de planeamento e de desenvolvimento da comunidade (Duxbury, 2019; Garrett-Petts et al., 2021; Garrett-Petts e Gladu, 2021). Argumentamos que, para que o mapeamento cultural se torne sustentável e transformador, o empenhamento da comunidade deve basear-se em parcerias que não sejam meramente transacionais - ou seja, focadas em mais do que tarefas operacionais e cumprimento de expectativas de curto prazo. Convidamos à apresentação de propostas que dialoguem com estas preocupações e questões.
Comunidades de prática na política cultural local
Coordenadores: Claudino Ferreira (FEUC, CES), Jordi Baltà (Universidade Ramon Llull - Blanquerna, Espanha)
A noção de “comunidades de prática”, referente a processos de aprendizagem coletiva através da prática num determinado domínio de interesse, envolvendo a adesão a atividades, discussões e partilha de informações (Wenger, 1998; Wenger-Trayner e Wenger-Trayner, 2015), liga-se bem ao entendimento das cidades como laboratórios vivos, que podem promover a participação dos cidadãos e das cidadãs, a capacitação e o reforço das capacidades. O uso das comunidades de prática é relativamente frequente em algumas áreas da política e gestão locais, como a ciência cidadã (Göbel, Cappadonna et al., 2016; Manzoni, Vohland et al., 2021), mas menos comum na política cultural - onde as ligações só foram formuladas em termos relativamente abstratos (Sacco, 2011, 2021) ou utilizadas apenas quando se referem a áreas específicas, como o património cultural ou os festivais de artes (Adell, Bendix et al., 2015; Comunian, 2017; Kockel, Nic Craith et al., 2020). Acreditamos, no entanto, que as implicações das comunidades de prática na política cultural, particularmente a nível local, poderiam ser mais exploradas, nomeadamente no que se refere à colaboração com as partes interessadas nos ecossistemas culturais locais num cenário “horizontal”, às ligações entre experiências locais e desenvolvimentos globais (por exemplo, através de redes e projetos transfronteiriços) e às estratégias adaptativas relacionadas com modelos de governança. Esta sessão visa discutir as implicações das comunidades de prática na política cultural local, quais as condições que podem permitir a sua emergência e quais os modelos existentes na conceção, implementação e avaliação da política cultural, ou projetos e atividades culturais conexos, que podem assemelhar-se a comunidades de prática - por exemplo, grupos de trabalho e redes a nível local, nacional ou internacional, projetos participativos, iniciativas que ligam cultura e educação ou cultura e sustentabilidade, etc. Pretende também analisar o modo como universidades, centros de investigação ou observatórios podem desempenhar um papel nesses processos de aprendizagem coletiva.
Infraestruturas urbanas para a juventude
Coordenadores: Cláudia Pato de Carvalho (FEUC, CES), Stuart Poyntz (Universidade Simon Fraser, Canadá)
As organizações/iniciativas juvenis de artes criativas e dos media - tais como grupos de jovens, associações, iniciativas relacionadas com as artes juvenis e outros espaços públicos não formais onde os jovens intervêm como agentes de mudança social - representam possibilidades relacionadas com formas alternativas de intervir na sociedade, particularmente em espaços urbanos, mas também em contextos de educação não formal. Os contextos de aprendizagem não formal são diversos e tendem a ser subestimados e, por vezes, invisibilizados em termos do impacto que representam para o desenvolvimento das capacidades e possibilidades de aprendizagem dos jovens - e de como podem abrir possibilidades em termos de desenvolvimento profissional dos jovens enquanto criadores e artistas no setor criativo. Há ainda muito a analisar em termos das possibilidades que estes esforços criativos dos jovens oferecem ao desenvolvimento do sector criativo, contribuindo para o seu potencial inovador. Que tipos de interações precisam de acontecer, ou estão a acontecer, entre os contextos educativos mais formais das artes criativas e os contextos educativos não formais que podem ser importantes para o setor? Que tipo de impacto têm os contextos educativos não formais na vida dos jovens e no seu futuro profissional relacionado com o sector criativo? Como é que estes contextos educativos não formais capacitam os jovens para serem agentes ativos de mudança social nas suas comunidades?