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Nº 30
Junho de 1990
Número não temático
ISSN 0254-1106 e ISSN eletrónico 2182-7435
  Introduções Pre-Pósteras - Boaventura de Sousa Santos  
 
Boaventura de Sousa Santos
  O Estado e o Direito na Transição Pós-moderna: para um novo senso comum sobre o poder e o direito  (pp. 13-43)
 O projecto da modernidade é fértil em dicotomias, algumas das quais servem de base à sociologia política e à sociologia do direito (Estado/sociedade civil; formal/informal; público/privado). Partindo da ideia de que essas dicotomias são hoje menos úteis do que já foram, apresentam-se algumas alternativas teóricas sobre os modos de produção do poder e do direito, capazes de, a prazo, conduzirem a um novo senso comum político e jurídico, que privilegie as tarefas de emancipação sobre as de regulação.
 
José Reis
  Os Lugares e os Contextos: tempo, espaço e mediações na organização das economias contemporâneas  (pp. 45-73)
 Parte-se neste artigo da ideia de que a realização das condições essenciais do capitalismo é compaginável com diferentes soluções de funcionamento. Há, assim, uma dialéctica contigência/necessidade que mobiliza diferentes contextualidades da acção humana, representadas por diferentes lugares e papéis de mediação. Defende-se que nas economias contemporâneas a mediação local é um processo relevante e, para além de uma referência aos "contextos empíricos" que o evidenciam, procuram-se avaliar os "fluxos sequenciais de acontecimentos" e os "padrões de interacção" em que as práticas decorrem. Dedica-se, por isso, atenção aos agentes, à formação da iniciativa e às noções de espaço e de tempo que lhes podem estar associadas.
 
Fernando Ruivo
  Local e Política em Portugal: o poder local na mediação entre centro e periferia  (pp. 75-95)
 Não existe uma só forma de fazer política em Portugal. A política desdobra-se numa pluralidade de tipos de execução de medidas políticas e de formas de acção política que ora aqui assumem determinado cariz, ora para ali tomam outro figurino. Uma das variáveis explicativas de tal situação, que o autor procura explicitar, é a dos diferentes locais e suas especificidades: cada local tem uma configuração local própria, na qual desagua numa determinada cultura e prática política dos seus actores mais destacados, num maior ou menor peso negocial das suas elites e da imagem do local, bem como na também maior ou menor porosidade das instituições políticas e administrativas aos seus interesses, tudo isto inserido num processo de meidação entre centro e periferias políticas.
 
João Peixoto
  Elogio da Cidade  (pp. 97-112)
 Qual o futuro das cidades? O primeiro problema a resolver é o do próprio conceito de "cidade". Na literatura sociológica, existem duas teorias dominantes: uma que defende a contínua especificidade do "urbano", conferindo identidade às "cidades" ao longo da história; outra que sustenta a diversidade da realidade "urbana", consoante as diferentes sociedades onde se enquadram as concentrações físicas da população. Devemos admitir que ambas as posições têm elementos de verdade. Sociedades, histórias ou civilizações diferentes dão diferentes significados às cidades; mas podemos defender que a forte interacção social, a permanente diversidade dos contactos, a informalidade das relações, sustentam uma forma peculiar de realidade sociológica. A actual sociedade de comunicação introduz alguns dados novos: nunca a comunicação inter-pessoal foi tão independente da proximidade física. Mas mesmo nela, mais importante do que falar do "fim das cidades" ou de uma "urbanização generalizada" é talvez enfatizar a permanente diferença da "cidade".
 
Maria Irene Ramalho
  Poetas do Atlântico: as descobertas como metáfora e ideologia em Whitman, Crane e Pessoa  (pp. 113-135)
 Nos finais do século XIX, alguns pensadores políticos defendiam no Ocidente a ideia de uma comunidade do Atlântico, como a única forma de preservar a supremacia europeia branca num mundo cada vez mais perturbado pela inevitabilidade da descolonização e pelo aparecimento, nos continentes asiático e africano, de novas nações ameaçadoramente diferentes. Muito antes disso, Whitman celebrara, na sua "grande ideia" da América, a utopia exaltada da passagem para "mais do que a Índia". Que a metáfora de Whitman é tão política quanto poética, entende-se melhor a partir do uso que os modernistas Crane e Pessoa dela viriam a fazer. Na Mensagem, que parece ser apenas uma elegia pela perda do império ultramarino português, Pessoa, inspirado pelo "alto espírito atlântico" de Walt Whitman, profetiza afinal uma renovada hegemonia mundial nas superiores realizações da tradição poética ocidental. Em The Bridge, é propósito da mítica "síntese" da América concebida por Crane realizar a "re-descoberta" da América, tal como Waldo Frank a tinha formulado, assim confiando à nova nação e à nova potência a missão de preservar os valores "universais" da cultura ocidental. O modo como ambos os poetas invocam o mito da Atlântida--Pessoa contemplando a utopia do fim do velho império, Crane olhando-a do início do poderio do novo mundo--convida-nos também a perguntar pela relação entre as visões dos dois poetas e o conceito político de atlantismo em gestação durante as primeiras décadas deste século.
 
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