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Resumo

Tomando como ponto de partida os resultados das ciências comportamentais acerca das heurísticas e enviesamentos cognitivos, este projeto tem como objetivo estudar a tomada de decisão de crédito ao consumo bem como as estratégias de marketing que potenciam a ativação destas heurísticas e enviesamentos, e avaliar se as politicas de proteção do consumidor levam em conta as heurísticas que os indivíduos utilizam quando enfrentam decisões complexas, os seus limites cognitivos, bem como a sua dificuldade em controlar os seus impulsos.


As ciências comportamentais, em particular a psicologia cognitiva e social e a economia comportamental, têm produzido abundante evidência empírica que mostra que as pessoas se afastam de uma forma sistemática do modelo neoclássico de ação humana que assume racionalidade ilimitada. Desvios importantes ao modelo de ação racional incluem: a aversão à perda, enviesamento face ao consumo presente, resistência à mudança, efeitos de ancoragem e de enquadramento, entre outros. Quer isto dizer que os indivíduos tendem a subestimar o risco em determinados contextos, sucumbem a desejos momentâneos, resistem à mudança, e baseiam as suas decisões em informação que se encontra disponível, acessível ou mais saliente, e não em informação relevante para o problema entre mãos, o que conduz a resultados indesejados para o próprio indivíduo e /ou para o coletivo.


A pesquisa comportamental e as respetivas recomendações de política são particularmente relevantes para ajudar os consumidores nas suas decisões de crédito. As elevadas taxas de endividamento das sociedades mais desenvolvidas podem de algum modo ser explicadas pela dificuldade que os indivíduos parecem experimentar quando se confrontam com problemas complexos ou quando a tentação do consumo presente é demasiado saliente face aos custos de uma decisão precipitada que só se sentirão mais tarde.


Várias entidades que trabalham na área da proteção do consumidor, como a Comissão Federal do Comércio dos EUA ou o Diretorado Geral de Saúde e Defesa do Consumidor da Comissão Europeia, já anteciparam a importância das ciências comportamentais para as políticas de proteção do consumidor. Nada disto é surpreendente uma vez que a eficácia das políticas requer uma boa compreensão dos fatores que afetam a tomada de decisão dos consumidores.


Os principais objetivos deste projeto são:
1) Estudar as heurísticas e os enviesamentos que afetam as decisões de crédito dos consumidores, assumindo que as pessoas nem sempre procuram a informação necessária, não a processam devidamente ou não agem em consonância com a informação que possuem;
2) Investigar se as empresas, através das estratégias de marketing, manipulam heurísticas e exploram os enviesamentos dos consumidores;
3) Investigar se as políticas de defesa do consumidor reconhecem os enviesamentos cognitivos e a sua exploração pelas empresas;
4) Propor recomendações de política que levem em conta a complexidade da tomada de decisões de crédito ao consumo.


Para a prossecução dos objetivos deste projeto a equipa mobilizará recursos teóricos, empíricos e metodológicos da psicologia e da economia comportamental, recorrerá a fontes de informação diversificada, tais como a relatórios oficiais, inquéritos e outros estudos que permitam uma caracterização mais cabal do comportamento financeiro dos consumidores. A equipa espera também levar a cabo entrevistas, realizar inquéritos e conduzir experiências de laboratório.


Este projeto tem por base e expande o trabalho anteriormente desenvolvido pelos membros da equipa no cruzamento da psicologia social e da economia, economia experimental e comportamental (Caldas et al., 2003; Costa 2008; Oliveira 2005, 2008; Santos 2007, 2009, 2010a, 2010b), endividamento dos consumidores e regulação (Frade 2006; Frade e Lopes 2009; Jesus 2008). A composição multidisciplinar da equipa, que inclui psicólogos, economistas e uma jurista, permitirá tratar a complexidade das decisões de crédito ao consumo e sugerir propostas de política dirigidas à proteção do consumidor.