Os investigadores do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra prepararam este Dicionário a pensar nas cidadãs e cidadãos comuns que, num momento difícil da sociedade portuguesa, são todos os dias bombardeados com notícias cujo alcance nem sempre entendem, mas que sabem trazerem más novidades para as suas vidas. As notícias vêm recheadas de palavras, conceitos, eventos, números, acrónimos que não são do conhecimento comum e que, noutra altura, seriam ignorados e tidos como falta de sensibilidade dos redatores ante leitores, ouvintes ou espectadores que têm mais que fazer do que estudar notícias ou perder tempo a decifrar comentadores.
Agora, porém, é diferente, uma vez que o que se noticia hoje pode transformar-se amanhã em perda de salário ou de pensão, em aumento do preço dos medicamentos ou dos transportes, em ter de tirar o filho das atividades extraescolares ou de cortar na alimentação. As notícias de hoje são o dia anterior de um quotidiano cada vez mais difícil, de uma vida familiar cada vez mais penosa, de horizontes e expectativas de vida cada vez mais incertos e até ameaçadores. As notícias são hoje a expressão da nossa impotência perante o futuro e, mesmo quando parecem tomar o nosso partido, suscitar a nossa revolta, apontar alternativas, fazem-no de uma maneira pouco convincente ou pouco clara.
O Dicionário que ora vos apresentamos visa contribuir para aumentar a capacidade de controlo das cidadãs e dos cidadãos sobre o que leem, ouvem ou veem, entendendo o que é dito e o que fica por dizer, abrindo espaço para pensarem soluções alternativas para os seus problemas, isto é, para os problemas dos cidadãos e não para os problemas dos mercados, que parecem ser agora as únicas entidades com direito à estabilidade e à esperança.
As entradas foram escolhidas e redigidas por um conjunto muito amplo de investigadores do CES, tendo em atenção o objetivo do Dicionário. A redação foi o mais possível descarregada de termos técnicos e de jargão científico. As entradas são assinadas pelos autores, que, em última instância, são os responsáveis pelo seu conteúdo.
O Centro de Estudos Sociais é um Laboratório Associado do Estado cuja missão é contribuir para a definição de políticas públicas e para a sua socialização crítica na sociedade portuguesa. Para que tal tarefa seja cabalmente cumprida, é necessário que as cidadãs e os cidadãos entendam bem o que lhes é dito, o alcance do que lhes é exigido e as alternativas que existem ou são pensáveis para que o caos e a turbulência que desabam sobre as suas vidas sejam, pelo menos, um pouco menos destrutivos. Este é o objetivo do Dicionário.
A elaboração do Dicionário num prazo muito curto só foi possível devido ao enorme entusiasmo com que os investigadores do CES aderiram de imediato ao projeto. A coordenação global ficou a cargo de um conjunto de jovens investigadores, secretariados por Sílvia Lima, secretária-executiva do CES-Lisboa. Foram eles Ana Cristina Santos, Bruno Sena Martins, João Paulo Dias, João Rodrigues e Margarida Gomes. Os coordenadores foram assessorados por uma comissão de revisão técnica, estilística e científica constituída por António Sousa Ribeiro, Hermes Augusto Costa, José Maria Castro Caldas, Manuel Carvalho da Silva, Rui Bebiano e Teresa Tavares.
Concebemos esta edição do Dicionário como uma primeira edição e levamos tão a sério o propósito de o transformar num instrumento útil aos Portugueses que, desde já, nos dispomos a uma segunda edição, interativa, em que serão incluídas entradas sugeridas pelos nossos leitores.
Basta, para isso, que submeta na caixa de comentários do prefácio a sugestão. Uma frase curta bastará para nos justificarem o interesse da inclusão da entrada sugerida. Também podem colaborar connosco, comentando algumas das entradas já constantes desta edição na respectiva caixa de comentários.
Elaborámos este Dicionário com o propósito de contribuir para melhorar a qualidade da informação e ampliar o debate sobre os problemas e desafios com que a sociedade portuguesa se defronta. Aos nossos leitores cabe a última palavra sobre se cumprimos bem o nosso objetivo.
Boaventura de Sousa Santos
Diretor do Centro de Estudos Socais
Universidade de Coimbra