O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização criada no âmbito dos acordos de Bretton Woods, em 1944, para contribuir para a estabilidade do sistema monetário internacional. A verdadeira história do FMI começa com a crise da dívida nas décadas de 1970 e 1980. É aí que o seu papel na concessão de financiamento a países com dificuldades na balança de pagamentos arranca em força e é aí que as impressões digitais dos interesses económicos dos EUA, os seus maiores acionistas, com uma minoria de bloqueio das decisões relevantes, se revelam. Em troca de empréstimos,o FMI impõe políticas económicas de austeridade por todas as periferias e semiperiferias em difi culdades.
A crise é vista como uma oportunidade para erodir os serviços públicos e impor a venda de ativos a preço de saldo e para desvalorizar o trabalho. Os credores financeiros agradecem, as multinacionais e uma minoria das elites dos países em causa também. Já para as populações, os efeitos são invariavelmente desastrosos, como se constata em numerosas avaliações feitas aos efeitos socioeconómicos das centenas de intervenções do FMI. As recentes crises asiática e argentina pareciam assinalar o estertor de uma instituição dotada de soluções contraproducentes e interesseiras e com cada vez menos “clientes” interessados nos seus empréstimos condicionados.
Com a crise atual, muitos dos dogmas neoliberais foram abalados e no próprio seio do FMI surgiram posições divergentes. A desigualdade esteve na origem da crise; os controlos de capitais podem ser justificados; a austeridade é recessiva. Estas são três conclusões da investigação económica recente do FMI. No entanto, a investigação não é o que molda a política desta instituição. A crise iniciada em 2007 marca o regresso em força do FMI com a mesma lógica de sempre, dotado de surpreendente músculo financeiro desta vez exercido sobre alguns países da Zona Euro. A história desta crise está a ser escrita pelos credores e as políticas impostas também. A ação do FMI é sempre uma questão de poder político e nunca de validade das políticas.
João Rodrigues